domingo, 26 de julho de 2020

BUF003.11 Paixão que nasce e parece fracassar

— Amo-te, Mad — murmurou o texano junto ao ouvido da rapariga, unidas as suas faces num cálido contacto.
— Mas não é possível! — sussurrou ela —. Há tão pouco tempo que nos conhecemos!
— Assim é se o contas por dias, mas o meu coração pressentiu-te sempre. Parece-me que te quero há um milhão de anos.
— Palavras — replicou ela, separando-se sem violência, mas com firmeza.
Ele ergueu-se então, contraídas as suas feições por um gesto doloroso.
— Sei o que te aconteceu, mas isso não te dá o direito de nos julgares a todos pelo mesmo padrão.
— Quem te falou disso? — perguntou ela ansiosa e ruborizada.
— Que importa! — Com a mão fez um gesto tirando importância ao facto —. Eu quero-te e tu também me queres, já que os teus lábios responderam ansiosos ao meu beijo. Isto é o único facto importante, o único que nos deve preocupar. Esquece essas recordações amargas para não pensar em mais que no nosso mútuo amor.
— O passado não se pode esquecer com um encolher de ombros e um gesto da mão —. Baixou o olhar e assim o manteve, sem coragem para resistir ao ardente olhar do «cowboy», mas continuou resoluta: — Amo-te, sim, mas agora o meu amor estaria sempre turvado pelo medo. Não posso dar-te o meu amor sem reservas e não quero viver num contínuo sobressalto. 
— Isso é egoísta — protestou Kim, sentindo que um vulcão rugia no seu peito.

— Talvez, sim. Talvez me tenha tornado egoísta, mas não podia voltar a resistir ao que então passei. Por muito que te tenham contado, ninguém mais que eu sabe o que foram aqueles dias, lentos e pesados como pedras de sepulcro que pareciam amontoar-se sobre o meu coração, e assim, com a morte na alma, mas arrastando uma vida que mais de uma vez, louca, em plena erupção da minha dor, pensei terminar, passavam anos e anos, até conseguir a paz de espírito que tanto ansiava. Crês que posso resignar-me a perdê-la novamente?
— Eu não sou um pedinte, Mad. Não sei que classe de homem seria o que destroçou a tua vida, mas o meu amor é sincero, as minhas intenções rectas e não posso admitir comparações desse tipo.
— Eu sei, Kim, e por isso, ainda arriscando-me a parecer-te novamente egoísta, peço-te que partas. A nossa vida, juntos, vendo-nos a cada instante seria um verdadeiro inferno.
A jovem sentia a alma desgarrar-se ao pronunciar aquelas palavras, mas compreendeu que se lhe dizia a verdadeira causa da sua decisão, se lhe falava do horrível medo que sentia pela sua vida sem constante perigo, não conseguiria afastá-lo de junto de si. Ele, erguido com as feições contraídas, olhou-a fixamente uns instantes, antes de assentir:
— Está bem, não é minha intenção impor-te a minha presença tanto mais que aqui não passo de um empregado contratado por ti. Partirei esta noite. Assim que me tenha despedido de teu irmão.
— Tão depressa — foi o grito que se escapou contra sua vontade.
— Para quê prolongá-lo? — havia amargura na sua pergunta.
— Espera até amanhã. Quando Wal regresse já terá escurecido. Onde vais de noite?
— Não te preocupes. Há muito tempo que sei andar só.
E girando sobre os tacões, afastou-se em largas passadas.
—Kim! — murmurou ela num suspiro angustioso com os olhos arrasados de lágrimas. 

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