Cliff chegou a casa do xerife, mas, em lugar de entrar pela porta que conduzia à residência, entrou pela que dava acesso à repartição policial. Ali encontrou Wickes sentado à sua secretária falando com um grupo de homens.
— Não quero que se deixem vencer pelo susto — dizia-lhes. — Nada lhes acontecerá, nem às vossas famílias. Enquanto conservarmos a serenidade e nos mantivermos unidos, Hudson não se atreverá a atacar-nos. E se o fizer, saberemos fazer-lhe frente.
—E os de Clarenceville não se defenderam? Tu mesmo viste o que lhes aconteceu — exclamou um dos homens, com o medo refletido nos olhos. — A quadrilha de Hudson é demasiada forte e só o Exército pode esmagá-la. Porque não vêm os soldados? Temos direito a que nos defendam.
Um coro de vozes de aprovação surgiu do grupo. O xerife tentou acalmá-los.
— Sosseguem. Aqui não acontecerá o mesmo que em Clarenceville. Vamos organizar-nos e à força de Hudson, oporemos a nossa força.
— E como poderemos lutar com gente tão feroz? —voltou a perguntar o mesmo de antes. — De nada serve termos ilusões ante a realidade. Quem há entre nós que possua experiência suficiente para nos dirigir? Tu és um homem valente e até agora tens sido um bom xerife, mas deves reconhecer que um homem só não é suficiente para nos tirar deste atoleiro. Além disso, falta-te a experiência nesta espécie de luta.
O xerife pôs-se de pé, com a mais firme decisão refletida no rosto.
—Já vos disse que organizarei a defesa seja como for, e assumo a responsabilidade do que aconteça. Podemos salvar-nos se todos estiverem dispostos a seguir-me; é isto o que eu quero que metam na cabeça.
Voltou-se para um dos componentes do grupo.
— McClaw, estás comigo? Tu sabes que podemos fazê-lo.
O interpelado era um homem de meia idade, forte e endurecido pela vida: hesitou uns momentos. Todos os Olhares se cravaram nele.
— Olha, Wickes—respondeu por fim—eu tenho mulher e filhos e, se não me ofereces melhores garantias para assegurar-lhes a vida, não me restará outro remédio senão tentar sair com toda a família deste buraco. E creio que os demais pensarão como eu.
Todos lhe deram razão. O xerife olhou para eles desesperado.
— Mas não compreendem que sair daqui é ir ao encontro de morte certa? Hudson cairá sobre a vossa caravana e não deixará ninguém vivo.
—Também não nos salvaremos se ficarmos aqui; pelo menos tentaremos tudo quanto podemos. Já ficas sabendo, Wickes: ou nos ofereces maior segurança, ou abandonaremos Tonopah.
O xerife viu-os afastar-se com o receio estampado no rosto. Só então notou a presença de Cliff. Fez um gosto de fadiga, murmurando enquanto se sentava de novo:
— Ouviu-os, Werfel? Estão assustados e querem cometer uma loucura. Nem um só escapará se partirem daqui; Hudson caça-os pelo caminho como coelhos.
O jovem aproximou-se muito devagar e naquele momento Wickes levantou a cabeça como se lhe lembrasse alguma coisa.
--- Eh! Ouça lá, o que faz você aqui? Graham deu--lhe licença para tomar o sol à porta, mas não para andar a passear.
Cliff parou na sua frente, apoiando as mãos sobre a secretária.
— Escute, Wickes, vim dizer-lhe que aceito o lugar de seu ajudante.
O xerife ficou imóvel, olhando-o boquiaberto, incrédulo. Demorou um bocado a reagir, e quando o fez, inclinou-se para a frente, fitando o jovem nos olhos.
— Fala a sério ou pretende brincar comigo?
— Nunca na minha vida falei mais sério.
A apatia de Wickes converteu-se de repente numa estranha vitalidade. Pondo-se de pé, encaminhou-se apressado para a porta ao mesmo tempo que exclamava:
— Espere um momento, Werfel.
Depois, já na rua, gritou a plenos pulmões:
— Eh! McClaw! E vocês, esperem!!
O grupo de homens que pouco antes falava com ele parou ao ouvirem aqueles gritos.
— Venham cá! — exclamou. — Tenho mais alguma coisa para dizer-lhes!
Os homens regressaram admirados e, ao entrarem novamente no gabinete do xerife, McClaw perguntou:
— Que aconteceu?
Wickes esfregou as mãos.
— Pediram-me garantias que assegurem as vidas das vossas famílias, não é verdade? Algo que os convença de que é preferível ficar em Tonopah do que tentar atravessar a pradaria?
Os outros olharam-se entre si, admirados.
— A que vem essa pergunta? — perguntou um deles.
Wickes apontou para Cliff.
— Chega-vos saber que Werfel aceitou o lugar de meu ajudante e vai encarregar-se comigo da defesa da cidade?
Os homens ficaram profundamente surpreendidos.
— Isso é verdade, Werfel? —perguntou McClaw.
Cliff assentiu.
— Sim.
McClaw desfranziu as sobrancelhas.
— Então, a coisa muda de aspeto. Se Werfel, ele sozinho, foi capaz de pôr em xeque toda a quadrilha de Hudson, causando-lhe numerosas baixas e dando urna tareia ao próprio chefe para depois regressar trazendo Nancy e o Bobby, eu creio que será capaz de muito mais coisas se tonos nós o ajudarmos.
Voltou-se para o xerife e para o jovem.
— Contem comigo para tudo o que quiserem.
No grupo de homens produziu-se um movimento de expectativa.
—E comigo — disse uma voz.
Um a um, todos fizeram idêntica declaração. Wickes, num gesto de profundo alívio, passou a mão pela fronte.
-- Suponho que todos os demais estarão de acordo convosco.
— Não te preocupes — murmurou McClaw. — Nós nos encarregaremos de convencer os restantes e, além disso, não será tarefa difícil quando souberem que Werfel está ao nosso lado.
Ao ficarem sós, Wickes olhou para Cliff sem poder ocultar o seu júbilo.
— A verdade, Werfel, é que a sua decisão não podia ser mais oportuna. Já lhe tinha dito que toda a gente confiava em si. A sua última façanha, ao iludir toda a quadrilha de Hudson, coloca-o aos olhos de todos como invencível. Não se esqueça que é o único homem que se atreveu a enfrentar Hudson, conseguindo aplicar-lhe urna tareia monumental. Você mesmo viu que estavam dispostos a cometer a loucura de partir de Tonopah.
O jovem parecia preocupado.
— Evidentemente, que uma caravana que se internasse pela pradaria iria direita a uma morte certa; mas não esteja convencido de que ficando aqui nos salvaremos. Derrotar Hudson é mais difícil do que imagina.
Wickes foi até à secretária e, abrindo uma das gavetas, tirou dela uma estrela de polícia, que pregou no peito de Cliff.
— Bem, Werfel, a partir deste momento, é meu auxiliar. Creio que este facto simples de entregar-lhe uma estrela significa uma espécie de seguro de vida para os habitantes de Tonopah.
Cliff contemplou pensativa a insígnia que lhe prenderam no peito, sobre o coração. Aquilo obrigava-o a defender até à morte uma coisa, um conceito, contra o qual lutara desde há anos: a Lei. E agora ele comprometia-se a fazê-la respeitar, a combater os seus inimigos. Pensou que a vida tinha muitas ironias. Cliff Sheridan convertido em polícia! Parecia um sonho, uma brincadeira do Destino.
— Bom, Werfel, você já pensou algum plano? — perguntou o xerife.
O jovem, com certa dificuldade de movimentos por causa da ferida, começou a enrolar um cigarro.
— Parece-me que na nossa situação não podemos fazer planos muito especiais. Na minha opinião tudo se reduz a organizar os homens em dois grupos: um comandado por si e outro por mim. Uma espécie de guerrilhas, compreende?
— Para isso será precisa convocar todos os homens capazes de manejas uma arma. Eu me encarregarei disso.
Interrompeu-os a inesperada chegada. cio doutor Graham que, da porta olhou para Cliff com uma expressão de censura.
— Que diabo vem a ser isto, Werfel? Eu autorizei-o a levantar-se, mas não a fazer urna vida normal.
O jovem puxou uma fumaça do seu cigarro e sorriu.
— Não se zangue, doutor. Encontro-me perfeitamente.
Graham aproximou-se, mas parou surpreendido ao ver a estrela que o jovem tinha no peito. Olhou admirado para o xerife.
—Nomeei-o meu ajudante — confirmou Weckes.
O médico abriu os braços, num gesto de desespero.
— Vocês enlouqueceram ambos. Parece-lhes que um homem em plena convalescença pode assumir responsabilidades?
— Porque não, se as circunstâncias o exigem? — murmurou Cliff. -- O senhor sabe muito bem o perigo que todos corremos neste momento.
O médico mudou de atitude.
— Sim, sei. Mas você não deixa de sei um ferido, Werfel.
— Examine-me, doutor, e diga-me se estou ou não em condições de fazer uma vida normal dentro de uns dias.
Graham examinou o jovem ali mesmo, verificando o estado da ferida e as suas condições físicas.
— Sim, realmente você restabelece-se com uma rapidez surpreendente. Nunca vi nada igual. Tenho de admitir que dentro duns dias poderá fazer vida normal. Mas tenha cuidada com os exercícios violentos; seria lamentável que a ferida voltasse a abrir-se.
— Não quero que se deixem vencer pelo susto — dizia-lhes. — Nada lhes acontecerá, nem às vossas famílias. Enquanto conservarmos a serenidade e nos mantivermos unidos, Hudson não se atreverá a atacar-nos. E se o fizer, saberemos fazer-lhe frente.
—E os de Clarenceville não se defenderam? Tu mesmo viste o que lhes aconteceu — exclamou um dos homens, com o medo refletido nos olhos. — A quadrilha de Hudson é demasiada forte e só o Exército pode esmagá-la. Porque não vêm os soldados? Temos direito a que nos defendam.
Um coro de vozes de aprovação surgiu do grupo. O xerife tentou acalmá-los.
— Sosseguem. Aqui não acontecerá o mesmo que em Clarenceville. Vamos organizar-nos e à força de Hudson, oporemos a nossa força.
— E como poderemos lutar com gente tão feroz? —voltou a perguntar o mesmo de antes. — De nada serve termos ilusões ante a realidade. Quem há entre nós que possua experiência suficiente para nos dirigir? Tu és um homem valente e até agora tens sido um bom xerife, mas deves reconhecer que um homem só não é suficiente para nos tirar deste atoleiro. Além disso, falta-te a experiência nesta espécie de luta.
O xerife pôs-se de pé, com a mais firme decisão refletida no rosto.
—Já vos disse que organizarei a defesa seja como for, e assumo a responsabilidade do que aconteça. Podemos salvar-nos se todos estiverem dispostos a seguir-me; é isto o que eu quero que metam na cabeça.
Voltou-se para um dos componentes do grupo.
— McClaw, estás comigo? Tu sabes que podemos fazê-lo.
O interpelado era um homem de meia idade, forte e endurecido pela vida: hesitou uns momentos. Todos os Olhares se cravaram nele.
— Olha, Wickes—respondeu por fim—eu tenho mulher e filhos e, se não me ofereces melhores garantias para assegurar-lhes a vida, não me restará outro remédio senão tentar sair com toda a família deste buraco. E creio que os demais pensarão como eu.
Todos lhe deram razão. O xerife olhou para eles desesperado.
— Mas não compreendem que sair daqui é ir ao encontro de morte certa? Hudson cairá sobre a vossa caravana e não deixará ninguém vivo.
—Também não nos salvaremos se ficarmos aqui; pelo menos tentaremos tudo quanto podemos. Já ficas sabendo, Wickes: ou nos ofereces maior segurança, ou abandonaremos Tonopah.
O xerife viu-os afastar-se com o receio estampado no rosto. Só então notou a presença de Cliff. Fez um gosto de fadiga, murmurando enquanto se sentava de novo:
— Ouviu-os, Werfel? Estão assustados e querem cometer uma loucura. Nem um só escapará se partirem daqui; Hudson caça-os pelo caminho como coelhos.
O jovem aproximou-se muito devagar e naquele momento Wickes levantou a cabeça como se lhe lembrasse alguma coisa.
--- Eh! Ouça lá, o que faz você aqui? Graham deu--lhe licença para tomar o sol à porta, mas não para andar a passear.
Cliff parou na sua frente, apoiando as mãos sobre a secretária.
— Escute, Wickes, vim dizer-lhe que aceito o lugar de seu ajudante.
O xerife ficou imóvel, olhando-o boquiaberto, incrédulo. Demorou um bocado a reagir, e quando o fez, inclinou-se para a frente, fitando o jovem nos olhos.
— Fala a sério ou pretende brincar comigo?
— Nunca na minha vida falei mais sério.
A apatia de Wickes converteu-se de repente numa estranha vitalidade. Pondo-se de pé, encaminhou-se apressado para a porta ao mesmo tempo que exclamava:
— Espere um momento, Werfel.
Depois, já na rua, gritou a plenos pulmões:
— Eh! McClaw! E vocês, esperem!!
O grupo de homens que pouco antes falava com ele parou ao ouvirem aqueles gritos.
— Venham cá! — exclamou. — Tenho mais alguma coisa para dizer-lhes!
Os homens regressaram admirados e, ao entrarem novamente no gabinete do xerife, McClaw perguntou:
— Que aconteceu?
Wickes esfregou as mãos.
— Pediram-me garantias que assegurem as vidas das vossas famílias, não é verdade? Algo que os convença de que é preferível ficar em Tonopah do que tentar atravessar a pradaria?
Os outros olharam-se entre si, admirados.
— A que vem essa pergunta? — perguntou um deles.
Wickes apontou para Cliff.
— Chega-vos saber que Werfel aceitou o lugar de meu ajudante e vai encarregar-se comigo da defesa da cidade?
Os homens ficaram profundamente surpreendidos.
— Isso é verdade, Werfel? —perguntou McClaw.
Cliff assentiu.
— Sim.
McClaw desfranziu as sobrancelhas.
— Então, a coisa muda de aspeto. Se Werfel, ele sozinho, foi capaz de pôr em xeque toda a quadrilha de Hudson, causando-lhe numerosas baixas e dando urna tareia ao próprio chefe para depois regressar trazendo Nancy e o Bobby, eu creio que será capaz de muito mais coisas se tonos nós o ajudarmos.
Voltou-se para o xerife e para o jovem.
— Contem comigo para tudo o que quiserem.
No grupo de homens produziu-se um movimento de expectativa.
—E comigo — disse uma voz.
Um a um, todos fizeram idêntica declaração. Wickes, num gesto de profundo alívio, passou a mão pela fronte.
-- Suponho que todos os demais estarão de acordo convosco.
— Não te preocupes — murmurou McClaw. — Nós nos encarregaremos de convencer os restantes e, além disso, não será tarefa difícil quando souberem que Werfel está ao nosso lado.
Ao ficarem sós, Wickes olhou para Cliff sem poder ocultar o seu júbilo.
— A verdade, Werfel, é que a sua decisão não podia ser mais oportuna. Já lhe tinha dito que toda a gente confiava em si. A sua última façanha, ao iludir toda a quadrilha de Hudson, coloca-o aos olhos de todos como invencível. Não se esqueça que é o único homem que se atreveu a enfrentar Hudson, conseguindo aplicar-lhe urna tareia monumental. Você mesmo viu que estavam dispostos a cometer a loucura de partir de Tonopah.
O jovem parecia preocupado.
— Evidentemente, que uma caravana que se internasse pela pradaria iria direita a uma morte certa; mas não esteja convencido de que ficando aqui nos salvaremos. Derrotar Hudson é mais difícil do que imagina.
Wickes foi até à secretária e, abrindo uma das gavetas, tirou dela uma estrela de polícia, que pregou no peito de Cliff.
— Bem, Werfel, a partir deste momento, é meu auxiliar. Creio que este facto simples de entregar-lhe uma estrela significa uma espécie de seguro de vida para os habitantes de Tonopah.
Cliff contemplou pensativa a insígnia que lhe prenderam no peito, sobre o coração. Aquilo obrigava-o a defender até à morte uma coisa, um conceito, contra o qual lutara desde há anos: a Lei. E agora ele comprometia-se a fazê-la respeitar, a combater os seus inimigos. Pensou que a vida tinha muitas ironias. Cliff Sheridan convertido em polícia! Parecia um sonho, uma brincadeira do Destino.
— Bom, Werfel, você já pensou algum plano? — perguntou o xerife.
O jovem, com certa dificuldade de movimentos por causa da ferida, começou a enrolar um cigarro.
— Parece-me que na nossa situação não podemos fazer planos muito especiais. Na minha opinião tudo se reduz a organizar os homens em dois grupos: um comandado por si e outro por mim. Uma espécie de guerrilhas, compreende?
— Para isso será precisa convocar todos os homens capazes de manejas uma arma. Eu me encarregarei disso.
Interrompeu-os a inesperada chegada. cio doutor Graham que, da porta olhou para Cliff com uma expressão de censura.
— Que diabo vem a ser isto, Werfel? Eu autorizei-o a levantar-se, mas não a fazer urna vida normal.
O jovem puxou uma fumaça do seu cigarro e sorriu.
— Não se zangue, doutor. Encontro-me perfeitamente.
Graham aproximou-se, mas parou surpreendido ao ver a estrela que o jovem tinha no peito. Olhou admirado para o xerife.
—Nomeei-o meu ajudante — confirmou Weckes.
O médico abriu os braços, num gesto de desespero.
— Vocês enlouqueceram ambos. Parece-lhes que um homem em plena convalescença pode assumir responsabilidades?
— Porque não, se as circunstâncias o exigem? — murmurou Cliff. -- O senhor sabe muito bem o perigo que todos corremos neste momento.
O médico mudou de atitude.
— Sim, sei. Mas você não deixa de sei um ferido, Werfel.
— Examine-me, doutor, e diga-me se estou ou não em condições de fazer uma vida normal dentro de uns dias.
Graham examinou o jovem ali mesmo, verificando o estado da ferida e as suas condições físicas.
— Sim, realmente você restabelece-se com uma rapidez surpreendente. Nunca vi nada igual. Tenho de admitir que dentro duns dias poderá fazer vida normal. Mas tenha cuidada com os exercícios violentos; seria lamentável que a ferida voltasse a abrir-se.
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