sexta-feira, 31 de maio de 2019

BUF011.15 A certeza da traição

Capítulo XV A certeza da traição
Três sólidos carrões moviam-se vagarosamente ao longo do caminho. Ao longe, apareciam os contrafortes montanhosos de Blue Lake Spring, etapa intermédia da viagem para Culebra City. A cada um desses carros ia atrelada uma junta de bois. O carregamento eram mantas militares, destinadas ao acampamento-reserva dos índios do Forte de Culebra City.
O primeiro carro era conduzido pelo próprio Collins. O segundo por sua noiva Tana Nelson e, por último, na retaguarda poeirenta, seguia aquele que Smith se comprometera a guiar.
O valoroso alazão do texano seguia, preso pela arreata, às traseiras do carro, não fosse o seu dono precisar dele dum momento para o outro.
Cerca do meio dia, quando Collins deu voz de alto para fazerem a refeição, Smith descobriu um cavaleiro que descia por entre os bosques, vindo de Blue Lake Spring. A distância era demasiadamente longa para o texano poder identificar o homem que parecia voar sobre um cavalo.
Com a testa enrugada, o texano desatrelou os bois do seu carro, deu-lhes de beber e soltou-os' depois para que pastassem. Então procurou um ponto de observação apropriado.
O cavaleiro aproximava-se. Os agudos olhos de Smith observaram, com espanto, que era um índio. Mais ainda. O seu toucado correspondia ao do feiticeiro da tribo escravizada por Bosco Bates.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

BUF011.14 Um corpo pasto das aves de rapina

Capítulo XIV
Uma intensa, mas furtiva atividade, desenrolava-se por todo o acampamento índio, ao longo da margem do rio Recto, até à periferia delimitada da reserva.
Nas trevas, junto de três grandes caixas de armamento, Joe Spain ouvia o chefe apache fazer a chamada dos seus guerreiros. A emoção pairava por sobre a cabeça daqueles bravos. E essa emoção era justificável. Era a primeira vez que o velho cacique se arriscava a partir os laços que o uniam a uma lei que lhe havia proibido pegar em armas. Era certo jogar naquela ousadia a vida do seu povo. Mas só a ele cabia arcar com todas as responsabilidades daquele acto.
Os jovens apaches montavam em pelo os seus mustangs e apresentavam-se armados dos seus tomahawks e lanças, velhas relíquias ferrugentas herdadas dos seus pais. Mas à medida que «Nuvem Negra» ia chamando pelo nome todos os seus homens, Joe Spain munia cada um deles com uma Springfield e um lote de munições subtraídas do arsenal da «Agência».
— Vinte e dois homens — anunciou o chefe apache, quando terminou a chamada. — É o melhor da minha gente, senhor Spain. Falta somente «Grande Águia» para que estejam todos.
O rapaz fez um gesto afirmativo. Tinha as suas dúvidas quanto à eficiência das possibilidades combativas do feiticeiro. Vinte e dois rostos esperavam, ansiosos, pelo grande momento. Mas, contando bem, eles não eram vinte e dois, mas sim vinte e um. O que faltava, encontrava-se a uns metros de distância, conversando, num idílio, com uma jovem índia.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

BUF011.13 Cilada contra cilada

CAPITULO XIII
Bosco Bates regressou à «Agência» ao cair da tarde. Depois de se certificar que Joe Spain não se encontrava nos arredores, enviou um homem à procura de Doyle, seu lugar-tenente depois da morte de Poggy. Quando o pistoleiro apareceu, Bates fechou-se com ele.
— Acabo de assinar o contrato com Collins, para a entrega das mantas — anunciou o chefe do acampamento. — Amanhã sairá de Culebra City. Provavelmente ao amanhecer, passará em Blue Lake Spring, com tempo para acampar.
Os olhos de Doyle iluminaram-se.
— Essas mantas nunca cá chegarão.
Bates principiou a rir, encostando-se ao espaldar da cadeira.
— Tiras-me as palavras da boca, Doyle. Na verdade, não chegarão cá. Mas é preciso que reúnas os rapazes e prepares com muito tino a operação. Tive uma ideia.
— Qual?
— Veste-os como se fossem índios. Arcos, penas e tomahawks... Se Ted Collins ou algum dos seus ajudantes conseguir escapar com vida, contará em Culebra City, que o carregamento foi assaltado pelos índios. Compreendeste?
Doyle esfregou as mãos.
— Claro que compreendi. É para amanhã à noite em Lake Spring?
— Aí, o lugar presta-se. Ah! Outra coisa. Quero que não deixem Collins escapar.
— Não escapará — repetiu o pistoleiro.
— Está tudo compreendido?
— Tudo, chefe. Esse pássaro deixará em Lake Spring todas as penas. Garanto-lhe. E a rapariga...
— Deixa a rapariga em paz, Doyle — interrompeu Bates asperamente. — É de supor que Tana Nelson guie um dos carros. Ninguém deve tocar num cabelo seu. E aquele que o fizer servirá de pasto às formigas.

terça-feira, 28 de maio de 2019

BUF011.12 Condutor especial

Capítulo XII O condutor especial
Culebra City, na qualidade de único núcleo povoado mais próximo dos ranchos que delimitavam a zona de criação de gado, recebia habitualmente um certo número de forasteiros, entre os quais figuravam cavaleiros de todas as camadas em busca de trabalho como cowpunchers. Isso fez que John Smith entrasse na cidade com a confiança de passar despercebido.
Atravessou a única rua principal do povoado, onde numa parede estava anunciado o prémio de mil dólares pela captura de «Máscara Vermelha». A pretendida aparência existente entre ele e o bandido só era digna do tacanho espírito de Bosco Bates, pois a mais ninguém ocorreria determinar tal parecença.
Smith prendeu o cavalo perto dum estábulo de aluguer e pediu ao rapaz que o veio atender, que lhe tratasse bem do alazão. Depois, a passos seguros e de cabeça levantada, dirigiu-se para o armazém de Ted Collins.
Entrou. Estavam quatro pessoas junto do balcão. A rapariga atendia-as. Quando os seus olhos poisaram na figura do recém-chegado, abriram-se-lhe de assombro, mas nada disse. Ao olhar significativo que o texano lhe lançou, ela respondeu com outro olhar, indicando a porta do fundo que se via à esquerda. Collins ficou por sua vez boquiaberto ao ver o visitante aproximar-se.
— Você! — exclamou —. Você é o homem do caminho... Smith!
O texano, sorrindo, estendeu-lhe a mão.
— Capturar o bandido do lenço vermelho vai-se tornando uma tarefa bem mais difícil do que parecia.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

BUF011.11 Bailado da jovem índia apaixonada / um traidor na tribo

Capítulo XI
«Grande Águia» era um indivíduo corpulento e de idade indefinida, embora parecesse novo. Em contraste com a mísera condição dos infelizes que beneficiavam das suas mágicas qualidades, o seu corpo estava bem alimentado. Usava um toucado de penas, adornado com chifres de vaca. Nu da cintura para cima, o seu torso, gravado com primitivas tatuagens, denotava o lugar que ocupava na tribo, situando-se num plano diferente ao dos restantes indígenas. Para a elementar inteligência dos apaches, o seu feiticeiro era algo tão digno de respeito como o próprio deus do Sol ou da Chuva.
Naquela tarde, depois de tomar a sua refeição, «Corvo Louco» visitou-o novamente, no seu tipi, encontrando lá «Nuvem Negra» e Joe Spain, sentados à porta sobre uma pele de búfalo. A reunião ia dar lugar a um pow-wow particular que serviria de preâmbulo para as cerimónias da noite.
— Está decidido — disse o cacique, depois de acender o calumet — que tu, «Corvo Louco», sejas para nós mais do que um aliado na luta da justiça. O homem que tão generosamente nos oferece a sua ajuda, merece ser um dos nossos e como tal «Grande Águia» fará de ti um membro honorário da tribo apache. O teu nome é glorioso e o nosso sangue se misturará. E se um dia conseguires romper as cadeias que nos unem ao diabo branco que tanto sacrifica o meu povo, os nossos deuses te abençoarão,
O mestiço respondeu com um discurso, como mandavam os usos. Depois o cachimbo percorreu de mão em mão.

domingo, 26 de maio de 2019

BUF011.10 Aparição

Capítulo X
O grosso da tribo apache vivia num aglomerado de choças de barro, próximo dos edifícios da «Agência» e ao longo do rio Recto. Mas naquela altura do ano, o imponente rio, que não era mais do que uma queda de água, mostrava o seu leito quase seco, rodeado de altas montanhas.
Junto da ribeira setentrional estava o núcleo mais importante da suja aldeia, perfeitamente de acordo com o carácter nu e estéril que a torrente emprestava à paisagem.
Spain tinha introduzido «Corvo Louco» no tipi de «Nuvem Negra» antes do amanhecer. A apresentação, acompanhada das explicações necessárias que o caso requeria, foi simples. O mestiço deixou uma favorável impressão ao velho guerreiro, pobre, mas digno e altivo, que o escutava, sentado na sua manta, com os olhos fitos no jovem como se desejassem penetrar na sua alma.
— Houve no nosso povo um grande chefe — disse «Nuvem Negra» —. Como tu, também se chamava «Corvo Louco». O seu nome deu dias de glória à nação apache.
— «Corvo Louco» foi o pai de minha mãe.

sábado, 25 de maio de 2019

BUF011.09 Uma vida para defender os mais fracos

Capítulo IX
«Corvo Louco» apeou-se do cavalo junto de um álamo, livrou a animal do peso da sela e prendeu-o a uns arbustos, perto do alazão de Smith.
O amigo encontrava-se a poucos metros, refugiado na cavidade duma rocha do Hat Peack, fumando pachorrentamente um cigarro.
Anoitecia. Espessas sombras principiavam a estender-se pelo vale. As nuvens tinham-se tingido de verem-lho vivo que contrastava com o azul profundo, insondável, do céu.
— Acabam de passar pelo caminho — anunciou o mestiço, sentando-se junto do companheiro. —Voltam para a «Agência». Tive-os quase ao alcance da mão. Não me pareceram muito satisfeitos.
Smith riu em surdina. — Se seguiram com cuidado as pistas que tracei, ficaram doidos. Foi divertido. Bates agora deve estar a perguntar se o rasto era dum só homem ou de dez.
— Isso pô-lo-á momentaneamente fora de combate.
O texano sacudiu a cinza do seu cigarro.
— Não. Não creio que se retire tão depressa. A dança durará. Nós é que a devemos terminar.
— Sim... nós.
— Nós e Spain — continuou Smith. — Lembra-te do que o rapaz te disse ontem à noite. As coisas não podem continuar assim. Ë forçoso procurar-se uma solução. E ela não pode ser outra que não seja dar uma boa lição a Bosco Bates.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

BUF011.08 O amigo dos índios

Capítulo VIII
O alarme dos acontecimentos circulou em redor da praça e «Corvo Louco» principiou a ver sair dos edifícios vários homens. O indian-agent tinha desaparecido. Doyle galopava naquele momento para o centro da praça.
O mestiço pensou que Bates demoraria somente uns minutos em preparar uma tropa para dar caça ao amigo. No entanto, o ruído dos cascos do cavalo de Smith já há muito que se tinha perdido na distância. Isso deu tranquilidade ao mestiço, que se sentou comodamente no seu posto de observação. Não havia outro homem em todo o território ou até mesmo em todo o Estado do Texas, capaz de forjar uma pista falsa, como Smith.
O alarme que pairou na praça, depois do ocorrido, transformara-se num frenesim. Os homens corriam dum lado para o outro, gritando ordens cm voz estentórica. As luzes apagaram-se e logo os homens principiaram a aparecer, correndo para os currais.
«Corvo Louco» lançou o seu agudo olhar para a porta do cárcere que continuava aberta e viu que, a pouca distância da entrada, algo estava caído ao lado dos corpos de Poggy e do outro pistoleiro que Smith havia liquidado.
Esperou que a praça ficasse vazia e os homens tivessem saído todos em perseguição do amigo. Então, sem deixar de caminhar com cautelas, aproximou-se do objeto que lhe havia chamado a atenção ao lado dos dois cadáveres. Ainda teve tempo de se esconder ao ver que duas figuras se aproximavam.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

BUF011.07 Fuga

Capítulo VII
Um silêncio pesado e artificial desceu sobre a praça do Forte Culebra. O homem que dizia chamar-se John Smith, estendido no catre, distendeu os músculos para, no momento propício, encontrar as forças que lhe seriam precisas. Acabava de ouvir Doyle dizer aos restantes companheiros que regressassem aos seus postos.
Smith sentia-se contente pelo facto de apertar na mão a pesada coronha do seu revólver. No entanto não deixava de congeminar na rapidez com que «Corvo Louco» havia posto em prática o seu plano.
Certamente Joe Spain havia fracassado duma maneira lamentável na ideia de colocar fora de combate o pistoleiro Poggy, e o texano ignorava se estava ou não vivo. A única coisa que sabia é que Doyle havia levado o corpo para qualquer parte e regressara pouco depois para a sua posição de guarda. Mas isto, para a ocasião pouco importava.
O que verdadeiramente importava era que «Corvo Louco» estivesse de atalaia no souto, representando, assim, cinquenta por cento de possibilidades para a sua fuga. No entanto, só uma coisa podia provocar que isso também saísse gorado. Seria o caso de Bates dar ordens para dispararem contra ele através das grades do postigo, apanhando-o assim como quem apanha um rato.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

BUF011.06 A vigília de «Corvo Louco»

CAPÍTULO VI
Ele chamava-se Liam O’Brien, mas sempre fora conhecido por Liam «Corvo Louco», ou mais simplesmente por «Corvo Louco».
E o rapaz mostrava-se orgulhoso do nome, pois este havia pertencido a um chefe apache que tinha sido seu avô.
A sua amizade com o homem que dizia chamar-se Smith vinha já de vários anos atrás, dos difíceis e tortuosos dias da guerra, e desde então nunca mais se separaram.
«Corvo Louco» sabia do seu camarada uma infinidade de coisas, segredos que à simples vista não se podiam adivinhar e que mais ninguém conhecia a não ser ele. Sabia da sombra que pairava na sua vida e da desventura que o havia lançado para uma existência desumana, sem amigos, sem um tecto e sem um amor. Sabia da grandeza sem limites do seu carácter e do temperamento esquisito da sua alma nobre. Por tudo isso, continuava a seu lado até que a morte os separasse.
Rígido, imóvel como uma estátua caída entre os carvalhos, «Corvo Louco» tinha agora o seu penetrante olhar fito no bloco cúbico formado pela prisão.
Quando arremessou a pedra verificou com alívio que o guarda não se havia apercebido de nada. Satisfeito com o seu êxito, nada mais lhe restava do que esperar com atenção. Havia horas que se encontrava ali, estendido, vigiando o lugar onde sabia que Smith estava encerrado.

terça-feira, 21 de maio de 2019

BUF011.05 Uma pedra embrulhada em papel

Capítulo V
O fim da tarde caiu, encontrando Bosco Bates sentado à secretária. Olhava de frente para Poggy, o chefe dos seus pistoleiros, que acabava de trazer más notícias.
— Pois é verdade! — afirmou Poggy. — Ted Collins continua vivo e faz a sua vida como sempre. Entrei no seu acampamento para comprar tabaco. Estava a explicar a um sujeito a agressão de que tinha sido alvo e acusava-te como o homem do lenço vermelho que o atacou. É desagradável, mas a verdade é que ouvi...
Bates chupava babosamente um comprido cigarro. Levantou-se, apoiou as mãos à secretária e caminhou em direção da janela por onde ficou durante algum tempo a perscrutar o exterior. Junto da cela de Smith, um homem armado montava guarda. As sobrancelhas do indian-agent franziram-se. Depois, voltando-se para o seu sicário, exclamou:
— Depois eu me encarregarei de Collins. O seu negócio ata-me as mãos e é uma chaga que arrasto perante os olhos dos meus amigos de Tuecon e Phoenix. Situado perto do acampamento, Collins pode fornecer-nos a preços mais baixos do que outro fornecedor do Território. Espera e verás. Quando o armazém de Culebra City for meu, estarei em condições de me servir a mim mesmo...
Poggy riu.
— Isso sim, Bosco, isso é que é viver. Que o Governo pague provisões, mantas e medicamentos para esses piolhosos! Isso já é de mais para eles. Em troca, do outro lado da fronteira, os rebeldes mexicanos pagam muito bem e nunca perguntam a sua procedência. Grande negócio, eh!, Bosco?...

segunda-feira, 20 de maio de 2019

BUF011.04 O prisioneiro de forte Culebra

CAPÍTULO IV
Opor resistência teria sido um suicídio. Desencadear-se-ia uma tremenda tempestade de morte. Seriam nove armas apontadas sobre um só alvo. E pensando assim, Smith resignou-se.
Foi despojado dos seus revólveres e obrigado a empreender o regresso pelo leito pedregoso do rio seco. A pequena tropa seguiu em fila, escoltando o prisioneiro.
Encontravam-se já dentro do bosque, quando o homem que precedia Smith disse a Bosco Bates:
— Ocorreu-me uma ideia, Bosco.
O chefe diminuiu o andamento da sua montada até ficar junto do outro.
— Que espécie de ideia?
O homem indicou com a cabeça o texano.
— Se este melro é o «Máscara Vermelha», podemos atribuir-lhe a culpa do ataque. Assim, no caso de Collins estar vivo, não haverá perigo, nem mesmo que ele e a rapariga vão contar ao xerife...
O indian-agent olhava-o de boca aberta.
— Grande estúpido! —vociferou. — Que supões tu que ia fazer, Poggy?
— Eu!...
— Por que não hás-de deixar a língua quieta? Precisavas de mostrar a este tipo que fomos nós quem assaltou Collins? Era isso que pretendias?
Um murmúrio percorreu a coluna. Depois Poggy tentou desculpar-se.
— Desculpa, Bosco. Mas... como reclamam «Máscara Vermelha» vivo ou morto... tudo se pode arranjar. Se este pássaro estorva... esperamos somente uma ordem tua. Basta um só tiro...

domingo, 19 de maio de 2019

BUF011.03 Você é o Máscara Vermelha

Capítulo III Você é o Máscara Vermelha
O bandido não havia tomado qualquer espécie de precaução para não deixar uma pista. As pegadas do seu cavalo eram tão claras como uma página escrita para os olhos argutos de Smith.
Levantando a cabeça, o texano lançou um olhar para o lugar onde sabia estar o seu companheiro mestiço esperando-o. Tinham-se separado logo que havia soado o primeiro tiro vindo do deserto, logo seguido dum outro que roçou pela cabeça de Collins.
Smith pensou que o seu camarada teria já calculado que acontecia qualquer coisa de anormal e, portanto, seria necessário avisá-lo. Levantou os ombros e concentrou a sua atenção na pista aberta pelo atacante.
As marcas continuaram a demonstrar que o homem não tinha pressa. Em redor de meia milha, Smith adquiriu a certeza de estar no bom caminho.
Supondo, sem dúvida, ter acabado com a vida de Collins e certo de que Tana se incomodaria mais em atender ao namorado do que iniciar uma perseguição, o atacante agia com toda a tranquilidade.
Smith sorriu. Do pouco que Collins lhe havia dito, deduzira com facilidade que o dinheiro roubado era de suma importância para os dois jovens. E isso era o bastante para entrar em ação. O profundo sentido de justiça impelia-o sempre, quase automaticamente, a tomar o partido dos oprimidos, dos fracos e dos espoliados. Precisamente por isso se encontrava a sós com o companheiro mestiço naquelas paragens do Arizona, longe da sociedade e da civilização, com metade da vida aparentemente destroçada.

sábado, 18 de maio de 2019

BUF011.02 O meu nome é Smith e sou do Texas

Capítulo II
Vacilante, a rapariga levantou-se e encaminhou-se para o riacho, onde refrescou o rosto. Depois encheu o seu chapéu com água e aproximou-se de Collins. Ajoelhou-se e principiou a lavar-lhe a ferida.
Estava fazendo amorosamente aquele tratamento de emergência, quando adquiriu súbita consciência de que, entre ela e o sol, existia uma sombra opaca. Quase instintivamente, Tana empunhou o revólver de Collins.
Voltou-se. Se o homem do lenço vermelho havia regressado, ela sentia-se na disposição de defender, a tiros, a sua vida e a do rapaz.
Mas não foi a figura do bandido que ela viu recortada contra o azul do céu. Imóvel, sobre um penhasco, do outro lado do caminho, estava um cavaleiro. Montava um soberbo alazão e na cabeça usava um chapéu preto. Enquanto a rapariga o olhava, foi-se aproximando. Tana, ao distinguir o seu nobre e enérgico rosto, deixou escapar um suspiro de alívio.
Nem pelo seu porte, nem tão-pouco pelas suas roupas, apesar de usar também no pescoço um lenço vermelho, era aquele o homem que os havia atacado. No entanto, ela continuava com o revólver apontado, quando o desconhecido, num gesto galante, tirou o chapéu.
— Posso ajudá-la em alguma coisa? — perguntou.
Nesse momento, Ted Collins abriu os olhos e, apertando entre as mãos as doridas têmporas, dirigiu o seu olhar para o cavaleiro. Teve um sobressalto como se se recordasse de alguma coisa e, acto contínuo, levou as mãos ao corpo. Lançou uma surda exclamação ao verificar que os mil dólares haviam desaparecido.
— Roubaram-me!... — gritou.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

BUF011.01 Três ações sob o sol de uma manhã de Outono

CAPÍTULO I
Nas vertentes dos abruptos Montes Culebra, a noroeste do deserto de Gila e ainda no território do Arizona, desenrolavam-se simultaneamente três ações, diferentes entre si, embora iluminadas pelo mesmo sol duma manhã de outono, um pouco fria, mas de radiante beleza. Aquelas três ações breve se unificariam, formando um só e perigoso emaranhado.
Naquele momento, no termo do deserto, formado por um escarpado de abruptas rochas, um homem acabava de abater um cavalo. Era um homem de rosto redondo, ensombrado por uma barba de oito dias, deixando transparecer uma expressão de angústia, medo, fadiga, fome e sede. Vestia uma camisa miserável, rota e cheia de nódoas e umas velhas e esfiapadas calças que terminavam nuns pés nus e sujos. Na cabeça, tombava-lhe para a nuca um velho e ruço chapéu de feltro. Um lenço vermelho e sujo de suor apertava-se-lhe com um nó no pescoço. Nos coldres, ao lado das ancas, pendiam-lhe dois revólveres de tambores cromados e escrupulosamente limpos. Na sela do animal, caído de lado, estava presa uma comprida «Springfield 45-70», igualmente muitíssimo bem tratada.
Aquele homem tinha passado aqueles últimos momentos galopando paralelamente às escarpadas rochas, procurando um caminho acessível. O seu cavalo, de súbito, meteu uma das patas dianteiras numa toca de coelho e caiu numa posição forçada, partindo uma pata. O homem caiu para a frente, roçando com o rosto o solo pedregoso. Levantou-se e olhou para o animal impossibilitado de se mexer. Então resolveu abatê-lo com um tiro, encurtando assim o seu sofrimento.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

BUF011.00 O homem do lenço «Vermelho, cor de sangue»



Bates, o agente nomeado para os assuntos dos índios, era um canalha, um ladrão e um assassino. Noventa por cento dos artigos que o Governo autorizava a entrar no acampamento, para suprirem as necessidades da vida dos índios, o patife passava-os para a fronteira mexicana onde lhe rendiam fortunas.
Bates odiava também aqueles que, honestamente, procuravam singrar na vida e tinha especial fixação em Tana, a noiva de Ted Collins a quem tentou assassinar.
Mas a ação de um paladino da justiça que acompanhado de um mestiço percorria o Oeste, por vezes usando um lenço de cor vermelha, fez com que o seu reino de terror terminasse.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

COL005.09 O beijo da Morte

—Não me ama—suspirou Doris, encostando a cabeça ao tronco duma árvore, perto da qual estava sentada.
— Fez aquilo para te agradar; trouxe-me para aqui, para te fazer um favor; mas nada mais. Nunca me dirige uma palavra afetuosa; evita estar comigo, sempre que pode...
Jayne, sorrindo, murmurou:
—E apesar disso, insisto em afirmar que te adora. Tive muitas ocasiões de o observar.
—A tua boa vontade, engana-te.
—Não, Doris. Acontece é que Robert é muito diferente dos homens que aceitam o que creem não lhes pertencer. Há muitos que, se gostam duma mulher, saltam por cima de todos os obstáculos, sem que lhes importe grande coisa, verem-se ou não correspondidos. Uns, porque satisfazendo a sua ambição, o resto não lhes importa; outros, porque a egolatria os faz crer que acabarão por dominar a mulher. Ele é diferente. Conhece-te quando estando apaixonada por Teddy...
—Para o caso tanto faz. A única coisa evidente é que por nada do mundo aceitaria o teu sacrifício, como paga ao que lhe deves.
—O meu sacrifício! Como se engana se pensa assim.
— Ainda bem.
—Foi na tarde do drama do saloon, que me pareceu um ser excecional. Disparei sobre Teddy, porque me horrorizou a ideia de que ele morresse. Depois, foi-me conquistando pouco a pouco, sem o querer. A sua própria frieza excita os meus sentimentos.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

COL005.08 Uma arma na bolsa da artista

Segundo o seu costume entrou, sem se fazer anunciar, no escritório de Sidney.
—Aqui me tens outra vez.
—Olá, rapaz! Desta vez não te fizeste desejar tanto como das outras.
Cumprimentaram-se efusivamente. Kerr, inteirou-se vivamente pela saúde de Jayne, incomodando--se ao sabê-la precária.
Durking entrou imediatamente no assunto:
—Dá-me notícias de Doris. Jayne recebeu uma carta dela, que fez com que piorasse e pediu-me para vir aqui, saber se posso fazer qualquer coisa por ela. Eu não queria, mas ela insistiu tanto...
Sidney tomou um ar grave. Acendeu um cigarro antes de responder e por fim, decidiu-se:
—E um caso feio. Penso que lhe devias voltar as costas, a menos que o teu interesse seja tão grande que te não importem os aborrecimentos que te acarrete.
—Deves compreender que se fiz esta viagem com esse objetivo exclusivo é porque tenho o propósito de saltar sobre todos os obstáculos.
—Bom. Resulta que o «cavalheiro» Egan, é bastante mais asqueroso do que o supúnhamos. Além de batoteiro profissional, descobriu-se ser também um «pistoleiro» de primeira ordem. Tem ao seu serviço dois sujeitos, Carl Freund e Edwin Griffies, destros também no manejar das armas e os três estão a impor a sua vontade por aí, em quase todos os estabelecimentos.
—No teu também?

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Reorganização de blogs do Oeste distante

Ao fim de seis anos, o Passagens dum Oeste Distante é um blog excessivamente preenchido para permitir um bom acesso às coleções que o compõem. Dispõe, no entanto, de uma pool de textos associados aos livros referidos que não deve ser perdida e deve ser tornada mais acessível.

Decidimos, por isso, refazer aquilo a que chamámos sub-blogs associados ao dito.

Assim, em cada uma das coleções, passámos a integrar informação sobre autor e imagem da capa como antes, e complementámo-la com os apontadores para passagens e para os capítulos da publicação integral e com uma possibilidade de acesso por intervalos de numeração dos títulos. Deste modo, num único post relativo a um livro temos reunida a informação relevante acerca do mesmo.

Neste momento, é possível (e mais fácil) visualizar o que temos relativamente às coleções da APR (Bisonte, Búfalo, Arizona, Pólvora, Bravos doOeste) e da IBIS (Califórnia, Kansas, Colt, Colorado) para o que criámos uma barra de acesso à esquerda para as mesmas.

COL005.07 Um paraíso em «São Bernardino»

—Bem... que tal lhe parece isto? — perguntou Durking, gozando antecipadamente com a resposta.
—Infinitamente superior a quanto pudesse imaginar—disse Jayne, passeando a olhar pela maravilhosa paisagem.
Aquela manhã formava um conjunto de luminosidades. O Inverno tinha chegado ao fim e o sol arrancava reflexos às folhas das árvores, às águas dos riachos, à verdura dos prados, entre os quais se destacava o bronzeado dos penedos. Como ondas sucessivas, perdiam-se ao longe cedros, ciprestes e pinheiros mansos...
Os pontos destacados da montanha, alguns coroados de ténues nuvens, brilhavam numa tonalidade purpúrea; ao fundo, estendia-se o vale, sulcado por serpenteastes ribeiros.
—Ainda bem que gosta.
—Gostar, diz você? Entusiasma-me! Isto é um pedaço do paraíso!
Na verdade, para Jayne, «São Bernardino» significava um remanso de paz e ternura que a compensava em parte das agruras sofridas. Entretanto, as visitas a «São Bernardino», dos que precisavam de assistência médica, eram frequentes e nunca baldadas...
— Entrem, façam o favor — convidou a agradecida Fanny.
Entraram na cabana muito limpa e asseada. Enquanto a dona da casa, procurava com que satisfazê-los, Jayne murmurou:
—Encanta-me esta calma.