quinta-feira, 31 de março de 2016

PAS609. O destino dos que sabem demais

— Minha senhora! O doutor está a dizer-lhe adeus. Não lhe quer corresponder?
Maria Bustillo, a jovem mexicana, fitava Helena Morgan, admirada. Com um suspiro, Helena virou-se para trás e agitou a mão. Enquadrado no umbral da porta estava Ulisses Morgan que, muito risonho, lhe acenou em sinal de despedida. Helena virou-se novamente para a frente e ficou a olhar para o filho que estava ao colo de Maria, procurando agarrar as rédeas, pois era a mexicana quem conduzia o carro.
— Vamos? Não percamos mais tempo. Quero chegar a Santa Fé quanto antes.
— Não percebo como o senhor doutor a deixa partir com o menino, sem arranjar uma escolta para nos acompanhar. Santa Fé fica muito longe!
— Nada receies, Maria. Viajaremos apenas de dia.
— Qualquer pessoa diria que a senhora não sente pena de se separar do seu marido!
Helena sentiu-se corar. Com modos bruscos, cortou:
— Basta de comentários, Maria. Se não queres conduzir, eu seguro nas rédeas.
Maria Bustillo agitou as rédeas, incitando os cavalos. Não percebia nada do que se estava a passar. E, para consigo, comentou:
«É mais que certo que se zangaram. Isto, embora se tenham esforçado por aparentar que nada se passou»,
Resolveu não se preocupar mais com o assunto, permitiu ao pequeno Cris apoderar-se das extremidades das rédeas. O menino ria satisfeitíssimo, ao mesmo tempo que sua mãe começava a chorar silenciosamente. Maria achou que o melhor era fingir que não via.
Pouco a pouco, Helena foi readquirindo a calma. Começou então a falar com Maria acerca do que se lhes ia deparando pelo caminho, ou ainda sobre Santa Fé e a casa de seus pais, onde havia passado a mocidade.
Estavam a atravessar um terreno montanhoso, coberto de pó. De repente, surgiram três cavaleiros que pareciam ter brotado do solo. Apareceram pela frente, vindos da parte inferior da montanha. Maria, que foi a primeira a vê-los, soltou um grito que fez que a senhora Morgan emudecesse no meio da frase que estava a pronunciar.
— Minha senhora! — exclamou alarmada a rapariga mexicana. — Repare! Estão mascarados. Isto é um assalto!
Um dos cavaleiros destacou-se um pouco mais do grupo e, a pleno galope, disparou na direção do veículo, fazendo silvar um projétil por cima da cabeça das duas mulheres. A detonação assustou o cavalo que, valendo-se do facto de as rédeas irem quase soltas, deu um forte esticão.
Maria Bustillo era uma rapariga decidida e que não se intimidava facilmente. Pondo-se de pé, puxou violentamente por uma das rédeas, obrigando o cavalo a rodopiar sobre si próprio e a lançar-se de novo sobre o caminho que acabavam de percorrer. Porém, a manobra havia sido muito tardia. Os três cavaleiros, rindo com um som abafado devido aos sujos lenços que traziam sobre o rosto, rodearam o carro. Um deles lançou a mão ao freio do cavalo, obrigando o animal a deter-se.
— Eis o tipo de mulher que me agrada! Morena e com vistosa aparência! — gritou um dos bandidos aproximando-se de Maria e quase lhe encostando o cano do revólver ao peito.
— Pois vocês não são o tipo de homens por quem eu sinta simpatias. Cobardes e ladrões que se dedicam a assaltar mulheres, sempre me enojaram! E agora, saiam da frente. Esta senhora é a esposa do doutor Ulisses Morgan! Espero que não se atrevam a deter--nos!
Maria não parecia nada impressionada pelo revólver que lhe continuava apontado. Os homens riram, divertidos.
— Entregue essa bolsa, senhora. Talvez contenha alguns valores que nos façam arranjo.
Terrivelmente pálida, Helena Morgan estendeu a bolsa perdida. O conteúdo desta foi logo espalhado no solo. O homem apoderou-se do dinheiro, deixando o resto. Outro dos bandidos estava a passar revista à cesta onde levavam as roupas. O pequeno Cris começou a chorar. Notava-se que reinava um certo nervosismo entre os três cavaleiros.
— Vamos embora! O melhor é não falarem a ninguém deste encontro, minhas beldades. Somos uns cavalheiros e, por isso, as deixamos partir sem mais exigências. Têm de concordar que não nos era possível demonstrar maior dignidade, tanto mais tratando-se de duas belezas como vós!
O que estava a fazer este discurso mantinha o seu revólver apontado às duas mulheres. Maria não parara de os insultar, ora em inglês, ora em espanhol. A senhora Morgan, apertando muito o filho conta si, mantinha-se imóvel. Apesar disso, o homem que empunhava o revólver, dirigindo-se a ela, gritou:
— Não faça isso, senhora! De que está à procura?
Helena Morgan olhou-o espantada, ao mesmo tempo que sentia algo embater-lhe no peito. O ruído do tiro coincidiu com o grito de Maria.:O cavalo que puxava o carro, assustado, partiu 'a galope, obrigando a rapariga, a cair para trás sobre o assento. Ainda ouviu o bandido a dizer:
— A...maldita procurava tirar um revólver! Tive de abatê-la!
Com muito custo, Maria conseguiu dominar o cavalo e obrigá-lo a parar. Tentou descobrir os cavaleiros, mas estes já haviam desaparecido. Muito ao longe, divisavam-se as suas silhuetas. Tinham abandonado o ter: reno.
— Senhora Morgan! Que loucura foi essa? Parece impossível!
Helena Morgan, muito inclinada para a frente, continuava agarrada ao filho. Maria puxou Cris para si. Ao ver o sangue que brotava por entre os dedos enclavinhados que Helena mantinha sobre o peito, a rapariga ia desfalecendo.
— Eu não tinha qualquer arma, Maria. Nem seque me mexi. Esse homem.... estava de tal modo assustado…
— Meu Deus! Eu bem disse que esta viagem era muito arriscada! Como se sente, minha senhora?
— Bem, Maria... Peço-lhe um favor. O menino... Não volte para Mesilla... Não o leve para junto do pai...
— Não mostre rancor numa altura destas, minha senhora! Já sei que se zangaram, mas não se queira vingar assim! E agora, deixe-me ver o que posso fazer. Talvez que...
— Não o leve para Mesilla, Maria! Não o leve! Trate você dele... Eu...
De repente, tombou no fundo da carruagem. A rapariga tentou segurá-la, mas não o conseguiu. Ao levantar-lhe a cabeça, Maria soltou um grito abafado.
Cris chorava aos pés de sua mãe. A senhora Morgan acabava de falecer. Maria, com os olhos rasos de lágrimas, não sabia que fazer. Estendeu o corpo da morta na parte de trás do carro e cobriu-o com urna manta. Depois, decidiu-se a regressar a Mesilla, pois ignorava a razão por que Helena pedira para ela afastar o seu filho de Ulisses Morgan.

quarta-feira, 30 de março de 2016

BIS107. Mãos traidoras


(Coleção Bisonte, nº 107)


«Nas suas longas viagens pelas montanhas, os pesquisadores de ouro não costumavam usar os cavalos como meio de locomoção. Os cavalos não só caíam com muita frequência, como se negavam em absoluto a passar pelos estreitos e escarpados caminhos que os solitários (mineiros tinham de percorrer para alcançar os ribeiros onde por vezes apareciam os tão desejados «coloors». Por isso davam a preferência a resignados burros que carregavam com o material necessário para ias explorações, indo eles a pé e à frente dos animais.
Nunca houvera um pesquisador tão otimista que se lembrasse de levar consigo um saco destinado a armazenar o ouro que viesse a encontrar, isto porque nenhum deles acreditava muito que essa possibilidade se viesse a verificar.
Quando a sorte bafejava um desses homens, competia ao asno transportar a fortuna que o dono tinha encontrado. E, nessa altura, lá vinha o pobre bicho ajoujado ao peso duma carga pessimamente distribuída por tudo que servisse para transportar o valioso metal: sacos de víveres, bacias de lavar minerais, peneiras de passar a areia, latas de conserva, o que calhava.»
É neste contexto, que Cesar Torre nos descreve a vida dupla de um médico que se dedicava a salvar a vida das pessoas, granjeando por isso elevada simpatia coletiva, mas que se dedicava a organizar assaltos aos desprotegidos pesquisadores ao ter conhecimento que estes transportavam algo através da troca de mensagens transportadas por pombos. As  mãos que salvavam eram também mãos traiçoeiras…
Um dia a sua atividade foi descoberta ela mulher que se tentou afastar, tendo sido sujeita a violento assalto e abatida. E o tempo foi passando, pensando o médico passar impune pelos seus crimes, até que alguém chegou à cidade e tudo se modificou.
 

 

terça-feira, 29 de março de 2016

PAS608. Os avanços da civilização

Lorde Patrick, sem poder pronunciar uma palavra, seguia com emoção os movimentos daquela jovem que ele havia insultado. Pela primeira vez, depois de longos anos, lorde Patrick sentiu as lágrimas a inundarem-lhe o rosto.
Abraçou-se ao filho, seguindo os movimentos da Iuta.
Heddy, seguida, de oito cavaleiros, surgiu como um furacão diante de Leclair, os seus braços moveram-se com extraordinária rapidez e perto de vinte homens caíram crivados de chumbo.
— Essa mulher é um demónio! — gritou o rancheiro gordo.
A luta prosseguiu. Bergson projectou-se contra os guerreiros índios com dez homens. Estrondos violentos cobriram o espaço e perto de trinta guerreiros foram sacudidos das seus cavalos.
— O velho do chapéu de palha é um monstro! — gritou uma mulher magra.
«Lobo Vermelho» deixou escapar uma praga e correu ao encontro de Bergson com os seus guerreiros. Mas Bergson, o terrível Bergson, queria provar àquele mundo de imbecis aquilo que fora. Ergueu-se sobre o cavalo e o seu corpo dobrou-se para a frente, enquanto os seus «Colts» vomitavam morte.
Dezenas de guerreiros rolaram para o solo crivados de chumbo.
«Lobo Vermelho», com um ombro a escorrer sangue, recuou entre os homens que lhe restavam para depois projectar-se para a frente com fúria diabólica.
A multidão paralisada seguia emocionada o terrível duelo de morte.
Heddy continuava a suprimir o bando de Leclair; da sela do seu cavalo, surgiam com rapidez de relâmpago «Colts» carregados que despejava sem interrupção.
Leclair, furioso, procurava defender-se para não ver perecido o seu poder diante da multidão que o adorava.
— Ah! Como me faz falta uma arma — lamentou Roberto.
— Tenho fé de que tudo terminará com a nossa vitória — respondeu lorde Patrick, sem perder de vista a jovem.
«Lobo Vermelho», de lança em riste, parecia um leão entre os seus guerreiros.
Por fim, uma descarga de Bergson atirou-o do cavalo abaixo. Tentou erguer-se mas as forças abandonaram-no e ficou sem, movimento.
Os seus guerreiros, vendo-o, morto, puseram-se em debandada.
Então, Bergson correu a auxiliar Heddy que parecia um fantasma no meio da refrega.
E o duelo prosseguiu cada vez mais sanguinolento. Mas os homens de Heddy, treinados para enfrentar grandes atiradores, não se deixavam abater, apesar de Leclair apresentar um número maior.
Por fim, Leclair e Heddy ficaram frente a frente. Heddy abandonou o cavalo e avançou para o seu terrível adversário. Leclair, que se havia apossado do cavalo de um índio, desmontou também.
O povo mal respirava. Roberto tremia, apesar de ter toda a confiança na sua amada.
Heddy e Leclair fitaram-se com ódio, bem patente. Ambos eram morenos, ambos eram possuidores de olhos negros e cabelos negros, ambos eram portadores daquela expressão selvagem que no momento da luta os tornava parecidos.
— Não desejava que morresses cedo, Leclair — disse Heddy, avançando para ele.
— Estás convencida disso?
— Tenho a certeza, Leclair. Bem te avisámos.
À distância, Bergson estava alheio ao que se passava. Todo o seu espírito se encontrava em. derrubar o bando de Leclair, que continuava a resistir.
— Veremos quem fica.
— Quero ver o caminho de ferro a atravessar Oregon e seguir o seu curso, Leclair. Estou farta de diligências.
Os dois foram avançando um para o outro.. A distância foi encurtando. Correu um segundo. Heddy, firme, tinha o corpo um pouco inclinado. Leclair, lateralmente dobrado para a esquerda. Os seus olhares não se despregavam.
Mais meio segundo e...
Roanpeu um estrondo ensurdecedor. Ouviram-se gritos na multidão. Roberto caiu sem forças nos braços do pai, depois precipitou-se como um louco para o lugar sinistro que o fumo da pólvora encobria.
O fumo foi-se extinguindo, lentamente; viu-se Leclair cambalear e cair nos braços de um homem que havia acorrido naquele instante.
Firme, com expressão de desprezo nos lábios, Heddy guardou os «Colts». Roberto, com louca alegria, tomou-a nos braços.
 O homem que segurava Leclair, quase sem vida, fixou Heddy, com aborrecimento.
— Disse-te que não fizesses fogo contra ele.
— Um bandido tem de ter a sua conta, Bergson.
Bergson sacudiu a cabeça com tristeza.
— É um bandido, mas é teu irmão. Nunca devias ser tu a matá-lo.
Heddy olhou o velho, assombrada.
— Meu irmão?
— Teu irmão, Heddy.
Todos que haviam acorrido, incluindo lorde Patrick, estavam impressionados com o sucedido.
Heddy desfez-se do abraço de Roberto, deu um passo e atirou com os «Colts» ao chão. Depois, perante o olhar comovido de todos abraçou o corpo ensanguentado daquele que era seu irmão e que o trágico destino fizera que viesse sucumbir em suas mãos.
O olhar de Leclair, quase a apagar-se, fixou Heddy, um pouco assombrado.
— Tony — pronunciou Bergson. — Ela é tua irmã. Heddy é tua irmã. Não vês que são parecidos?
Tony, ou Leclair, ergueu o olhar para quem o segurava e falava. Um ligeiro estremecimento sacudiu o seu corpo tingido de sangue e quase a ser entregue aos horrores da sepultura.
— Bergson! Tio Bergson!
— Meu filho — murmurou o velho com lágrimas nos olhos.
Heddy, aquela mulher que havia momentos dera provas de um poder infernal, soluçava como uma criança desprotegida.
— É minha irmã? — interrogou o moribundo,
— É filha de «sir» Gordon, teu pai.
O infeliz fechou os olhos. A cabeça tombou no peito de Heddy e, uma golfada de sangue brotou de três buracos feitos no-peito.
Voltou a reabrir os olhos e deteve-os em Heddy. E sorriu. A seguir uma nuvem de tristeza tingiu o seu rosto:
— Pequei muito — disse a custo. — Tio Bergson, quis fazer alguma coisa de mim, mas eu andava doido pelo «Colt».
Depois voltou a sorrir e o mesmo sorriso foi desaparecendo conforme o rosto empalidecia.
Foi o último sorriso, aquele sorriso belo de Leclair ou Tony Gordon.
De entre a multidão pôde ouvir-se uma voz comovida:
— Leclair morreu.
O corpo moveu-se num último estertor e ficou rígido nos braços de Bergson, Heddy e Roberto.
A glória daquele jovem que se havia erguido com rapidez, afundara-se da mesma maneira. De odiado e adorado, passara a despertar compaixão.
Bergson fez sinal para quatro dos seus homens, para que transportassem o corpo sem vida de Leclair.
Heddy aproximou-se de lorde Patrick.
— Milorde, seu filho pode continuar com o caminho de ferro. Custou a vida de meu irmão o progresso da Civilização em Oregon.
E sem dar tempo de lorde Patrick pronunciar uma palavra, Heddy montou o seu cavalo e afastou-se abrindo caminho entre a multidão que a olhava com respeito e admiração.
Lorde Patrick olhou para o filho que também se mantinha triste. Depois afastaram-se.
No recinto livre, divisavam-se os  dois «Colts» de Heddy, adormecidos no sangue de Leclair, seu irmão, como documento indestrutível' do preço da civilização em Oregon.
O caminho estava livre para lorde Roberto. Podia continuar com o caminho de ferro. Lorde Patrick podia introduzir novos métodos governamentais, baseados na civilização de todos os povos.
«Lobo Vermelho» e Leclair já não existiam.
 

segunda-feira, 28 de março de 2016

PAS607. Salvos pela filha da escória

Quatro bandidos armados, surgiram no limiar da porta com Leclair à frente.
Lá fora o povo lançava gritos, os mesmos gritos de «Viva Leclair, o libertador».
Leclair, com aspecto imponente do homem que mede a responsabilidade dos seus actos, avançou dois passos e parou.
— Milorde. O povo reclama. a vossa presença.
— Está tudo pronto? — perguntou lorde Patrick, com a mesma autoridade que lhe era conhecida, quando falava para um inferior.
— Tudo pronto, milorde.
Lorde Patrick voltou-se para o filho.
— Vamos, Roberto. Precisamos de mostrar a essa canalha como morre um nobre.
Ao terminar, com a cabeça erguida e expressão de desprezo estampada no rosto altivo, caminhou para a porta precedido pelo filho e pelos bandidos.
O povo, ao vê-los, começou a blasfemar e lançar insultos.  Mulheres desvairadas atiravam-lhes punhados de terra.
Lorde Patrick, sempre de cabeça erguida, passou no meio da turba, cercado por dezenas de bandidos e índios. Uma massa de gente seguia atrás, ora gargalhando ora lançando insultos.,
Roberto correu o olhar pela multidão a ver se distinguia pelo menos a figura do velho Bergson, mas nada viu. Deixou escapar um suspiro enquanto caminhava. Estava tudo perdido, a última esperança que ainda animava a vida daquele jovem afundara-se para sempre. Agora restava-lhe morrer como um nobre, como dizia seu pai.
Foram conduzidos diante das forcas. Lá estavam elas firmes, prontas a mandar as suas almas para a eternidade. Pela primeira vez, Roberto sentiu um ligeiro estremecimento ao encarar aqueles dois instrumentos lúgubres, que pareciam desafiá-los.
Porém, lorde Patrick não perdia a sua serenidade.
Dezenas de bandidos e guerreiros índios rodeavam as forcas para manter o povo em ordem.
Leclair e «Lobo Vermelho», como júris daquele drama, vigiavam a iniciativa.
— Precisam de um padre, milordes? — perguntou Leclair.
— Apressem-se, canalhas! — foi a resposta.
— É de uma coragem extraordinária, milorde — disse Lectair, sem se ofender.
— Sou um descendente de Darnley. Está pronto?
Quatro homens fizeram subir lorde Patrick para cima de um tambor.
— Enforcamo-lo à moda da sua terra — disse Wood, o carrasco.
Mas no momento que ia passar o laço ao pescoço de lorde Patrick, perto de vinte cavaleiros comandados por uma mulher e um velho entraram como um furacão no recinto. Soou uma descarga, o carrasco e seus quatro ajudantes rolaram para o chão.
— Heddy a mulher infernal! — gritou Leclair, assombrado.
Depois projectou-se para a frente como um louco, enquanto a sua voz trovejava:
— Fogo, rapazes!
Heddy e Bergson pareciam dois fantasmas, semeando a morte em todos os lados. Com rapidez extraordinária enquanto as suas mãos se abriam automáticamente semeando a morte, Heddy passou rente a lorde Patrick e a Roberto, descarregando os seus «Colts». Com grande assombro os dois homens viram-se livres das cordas.

domingo, 27 de março de 2016

PAS606. Uma plebeia de nobre atitude

Lorde Patrick ia a dobrar uma esquina a cavalo quando uma figura de mulher montada também a cavalo atravessou uma rua.
Franziu a testa e voltou o cavalo em perseguição mulher. A mulher chegou diante de um «bar» e desmontou. Lorde Patrick também fez o mesmo e entrou. Foi direitinho a ela de testa anuviada e lábios contraídos,
— Ainda bem que a encontro, «miss» Heddy — disse ele sem cumprimentá-la.
A jovem fingiu assombro, depois arrastou uma cadeira e fez sinal a lorde Patrick para que se sentasse.
— Queira sentar-se, milorde.
Lorde Patrick recusou, dizendo:
— Este lugar não é digno de um par da Escócia. É próprio para os meus criados.
A jovem mordeu os lábios, mas dominou-se.
— Em que posso servi-lo, lorde Patrick?
— Em nada. Em coisa alguma. Venho apenas avisá-Ia que não volte a encontrar-se com lorde Roberto Patrick Darnley. Compreende o que quer dizer? Lorde Roberto Patrick Darnley, um senhor da Escócia, um descendente dos reis da Escócia, não pode e não deve apaixonar-se por uma filha da escória.
A jovem corou até à raiz dos seus cabelos negros. Teve um movimento instintivo de revolta e fixou com ódio lorde Patrick.
— Tem mais alguma coisa a dizer-me, lorde Patrick? — perguntou com violenta altivez. 
— Que se afaste de lorde Roberto.
A jovem ergueu-se do assento, fixou lorde Patrick dos pés à cabeça e ripostou:
— Assim o espero, lorde Patrick..
— Também eu.
— Boa tarde, lorde Patrick.
— Passe bem.
A jovem abandonou o «bar», saltou sobre o cavalo e desapareceu. Levava na alma o golpe de um tiro de canhão, mas a sua cabeça conservava-se erguida como a de uma rainha.
Lorde Patrick, aprumado no seu cavalo ficou a olhá-la até perdê-la de vista e não pôde deixar de murmurar:
— Tem uma atitude nobre, a plebeia.
E sorriu. Depois afastou-se.
O dono do «bar» que se havia mostrado humilde diante de lorde Patrick, quando o viu afastar-se, ergueu os punhos e gritou:
— Ah! Ladrão! Os teus dias estão quase terminados! Ainda hei-de ver pendurada numa corda essa cara de jaguar.

sábado, 26 de março de 2016

BIS106. Dança dos "Colts"

(Coleção Bisonte, nº 106)
 
 
 
Um nobre escocês, senhor de razoável fortuna, que reivindicava para si a qualidade de ascendência real, estabeleceu-se no Oregon, onde construiu ume espécie de fortaleza protegida por homens armados a partir da qual realizava os seus negócios e geria os seus projetos. O seu poder era de tal ordem que dominava as próprias autoridades sendo detestado pela população em geral.
O asco do povo ao nobre aumentou quando o filho concluiu o curso de engenharia, regressou à cidade, e o nobre, convencido que era o paladino da civilização, decidiu avançar com um projeto de instalação do caminho de ferro que iria interferir com as explorações dos populares e com o território dos índios.
Desenhou-se a partir daqui particular resistência com dois campos bem definidos. Os populares contrataram uma série de pistoleiros para combater o projeto, conseguindo ainda o apoio dos índios, mas, após um conjunto de peripécias, o autodenominado arauto da civilização conseguiu implementar as suas ideias.
Nesta história, pouco credível mas engraçada, intervém ainda uma jovem com substancial destreza com as armas, que se veio a descobrir ter sangue azul nas veias, a qual foi personagem chave para eliminar o terrível chefe dos pistoleiros.
Dado o interesso do texto aqui deixamos para download a «Dança dos Colts».
 

 

sexta-feira, 25 de março de 2016

PAS605. Requiem pelos cachorros dos criminosos

Uma hora depois de escurecer entraram em Fresno. Passaram duas ou três ruas solitárias que os conduziram à praça. Subitamente detiveram os cavalos. Os raios prateados da lua cheia apresentaram ente os seus atónitos olhos um espetáculo surpreendente e incrível. De um velho carvalho pendia um despojo humano, sujeito pelo pescoço por uma corda de cânhamo.
Aproximaram-se lentamente. Aqueles despojos pertenciam ao inocente Paul. Alguma mão criminosa havia-se saciado sadicamente, enforcando o inocente. O tumefacto rosto do menino apresentava um ar de terror e súplica. Sem dúvida percebera a sorte que ia correr e os seus gritos de inocência não serviram para a brandar os secos corações dos seus verdugos. À altura do peito haviam-lhe posto um cartaz com a seguinte inscrição:

«Assim morrem os cachorros dos criminosos».

Harry Aldon cerrou os dentes com desespero. Debaixo do cadáver havia um corpo estendido no solo tratava-se de uma mulher.
— É Joyce, a minha cunhada — rouquejou Luter O jovem saltou para o chão, examinando- a mãe de Paul. Harry disse:
— Está desmaiada. Aonde poderemos levá-la?
— A minha casa. Não é longe daqui. Entretanto eu descerei o meu sobrinho.
Harry recolheu a inconsciente Joyce e, poucos minutos mais tarde, encontrava-se em frente da casa de Luter. Empurrou a porta com o pé e da mesma forma fechou-a nas suas costas. Tentava segurar com o ombro a mulher desmaiada para ter as mãos livres e acender um fósforo, quando uma voz já conhecida lhe gritou:
— Mãos ao ar!
Pela segunda vez viu-se envolvido em singular peleja com um elemento feminino. Mas desta vez a ira pela morte de Paul fez-lhe abreviar a luta.
Meio minuto mais tarde Peggy, com as mãos atadas atrás das costas, estava estendida no solo. Acendeu o candeeiro de petróleo que acercou da mãe de Paul que começava a dar sinais de vida.
— Assassinaram o seu cunhado e enforcaram o seu sobrinho, senhora Robinson — disse Harry à sua derrotada inimiga.
— Que vão para o diabo!
— Encontrei a sua cunhada em-...
— Tire-a daqui ou estripá-la-ei quando tiver as mãos livres.
— Estou perguntando a mim mesmo se você será mulher ou fera. Onde perdeu os sentimentos, senhora?
 — E você a galanteria? Solte-me e verá em que o deixo feito.
— O seu marido está no povoado. Acaba de chegar comigo. Há dois dias jurou matar ia mulher que tantas vezes o meteu a ridículo. Procurarei recordar-lhe o juramento.
— Você não fará isso. Não posso defender-me nas condições em que me deixou.
— Agora poderá defender-se menos — disse Harry pegando num rolo de cordas e atando-a conscienciosamente.
— Você é um canalha!
— E você é uma pessoa sem sentimentos. Ficará assim até que emagreça e alarguem as cordas, se antes não a comerem as ratazanas.
Ajudou Joyce a levantar-se, saiu e fechou a porta.
— Aonde a levo, senhora? — perguntou.
— Junto de meu filho. Assassinaram--no, meu Deus.
— Prometo que o vingarei. Seu marido diz que trabalha no hotel. É verdade?
— Sim, senhor.
— Levá-la-ei lá. Quanto ao resto não se preocupe. Luter e eu nos encarregaremos de enterrar o menino e matar os seus assassinos.
Assim que a deixou na hotel, Harry regressou praça. Aí esperava-o Luter com o rapaz nos braços, sentado junto ao carvalho que servira para tirar-lhe a vida.
— Vamos! — ordenou o jovem.
— Aonde?
— Ao escritório do xerife. A porta estava fechada. Chamaram repetidas veze sem obter resposta.
 — Temo que o pássaro tenha voado, ao pressentir a nossa visita.
— Voltará, estou certo. Que te faz supô-lo?
— Orson Kerley, o xerife, é homem que não teme nenhum pistoleiro. Tive ocasião de observá-lo duas vezes e não; se enerva.
— Que sugeres?
— Esperá-lo.
— Onde?
-- Aí em frente. Ocultar-nos-emos à sombra do carvalho.
— E o menino?
— Como nada podemos fazer por ele, deixá-lo-emos aqui, por agora. Quando abrir a porta, tropeçará no seu cadáver. Veremos como reage.
No mesmo cartaz que os assassinos prenderam no peito do rapaz, Harry escreveu a lápis:
 
«O sangue deste menino inocente alagará os campos de Fresno, se não nos entregarem os selvagens que o mataram.»
 
Depois assinou, fazenda Luter outro tanto. O veterano «cow-boy» pareceu recobrar a tranquilidade, quando por sua conta acrescentou:
«Se às dez da manhã não se tiverem cumprido as nossas ordens, dispararemos contra qualquer pessoa, seja velha, mulher ou criança. Nota: Darei o exemplo matando, em primeiro lugar a minha mulher.»
 

quinta-feira, 24 de março de 2016

PAS604. O beijo do assassino

Celeste retirou-se para os seus aposentos mais tarde do que o costume. A conversa com Jeff tinha-se prolongado até muito depois da meia-noite. Jeff era partidário de se enforcar Harry sem tardar, contra a oposição de sua irmã que desejava torturá-lo. Esta ideia acalmou a jovem.
O nervosismo impedia Celeste de conciliar o sono. Por fim adormeceu depois de muito se agitar na cama.
Não soube quanto tempo permaneceu adormecida. Uma rara sensação a despertou. A luz da lua entrava em caudais no seu quarto, inundando-o de grata penumbra.
Imediatamente abriu a boca para dar um grito de alarme. Uma mão tapou-lha, dizendo:
— Segundo tu, matei Monty; não me dês ocasião de te matar também. Só desejo falar contigo.
A jovem agitou-se durante alguns instantes, mas, vendo a impossibilidade de se livrar daquela tenaz de ferro, optou por imobilizar-se. Pouco a pouco Harry retirou a mão.
— Sempre foste sensata, Celeste, até que um maldito se lembrou de assassinar o teu irmão. Sou o único suspeito, compreendo-o e não me queixo do meu azar porque só eu tenho a culpa.
— Como conseguiste fugir?
— Fiz um buraco no chão imitando as toupeiras. Custa-me que tenhas de despender quinze mil dólares por uma vida que, como a minha, não vale um cêntimo.
— Aumentá-los-ei para trinta mil se te apanharem morto.
— Esqueces que, se me apetecer, não verás o amanhecer e essa importância nunca será oferecida?
— Podes matar-me se o desejas! Alguém me vingará!
— Todavia quero-te muito, Celeste, sabe-lo bem. Ao ordenares que me açoitassem, soubeste lê-lo nos meus olhos, por isso deste contra ordem. Nenhuma mulher maltrata o homem que a adora.
«Não venho discutir se fui eu ou não quem matou Monty. Antes de morrer disse-me que teu pai tinha desaparecido, embora a ti prematuramente te comunicassem a sua morte. Pois bem, encontrei o cadáver de um homem terrivelmente mutilado, junto da margem do Rio São Joaquim. Ignoro a quem pertence.
 «Um amigo a quem deixei vigiando aquele lugar para ver se aparecia algum suspeito, encontrou esta luva. Desejo que me digas se era de teu pai.
A luz da lua era insuficiente para examinar o objeto. Harry, que estava tranquilamente sentado à cabeceira do leito de Celeste, levantou-se para fechar a janela, acendeu um fósforo e a seguir o candeeiro de petróleo.
— Tenho o pressentimento de que o senhor Russell foi assassinado há alguns dias, portanto, existe alguém que pretende prejudicar a tua família. Ignoro quem é e regressei para desmascará-lo. Também conversei com o xerife mas consegui o mesmo resultado que contigo. Não fez caso.
— Porque sabe que és um criminoso.
— Acusa-me dia morte de teu pai.
— Terá as suas razões.
— Na do teu irmão podes suspeitar de mim. Na outra, não. Sabes perfeitamente onde me encontrava em Ponterville. Tu, em casa da tua amiga, eu trabalhando no rancho. Reconheces a luva?
— É do papá! Ofereci-lhas no seu último aniversário.
— Supunha-o. Queres ajudar-me a desvendar mistério? Custar-te-á pouco trabalho dizer que não fui eu quem acabou com a vida de Monty. Não mentirás.
— Canalha! Desavergonhado! Como tens o descaramento de me propores semelhante mentira? — gritou.
Mesmo que quisesse, Harry não teve tempo par lhe tapar a boca e os seus gritos repercutiram-se por todo o edifício.
— Socorro!
— Cala-te, estúpida! Se não te amasse tanto, não correria nenhum risco por ti. Algo se trama ao teu redor e não queres vê-lo.
—.Auxíli...!
O jovem não se pôde conter. Aplicou-lhe um par de sonoras bofetadas, dizendo-lhe:
— Idiota! Algum dia te arrependerás!
A seguir atraiu-a para si e beijou-a. Foi um beijo quente e prolongado.

quarta-feira, 23 de março de 2016

PAS603. 100 chicotadas num homem

A lua cheia estendia os seus raios prateados pela paisagem, iluminando-a de uma ténue luz azulada, permitindo ver os objetos situados a certa distância.
Harry Melou apeou-se do cavalo, atou-o ao tronco de uma árvore e decidiu fazer o resto do caminho a pé.
A sua corpulenta estatura foi absorvida pelas sombras do arvoredo próximo do rancho «Quatro Barras».
Avançou com infinitas precauções até se encontrar em frente do enorme edifício. Estendeu-se no solo e começou a arrastar-se lentamente.
A escuridão que a rodeava era tão completa que nem deu conta de ter passado' sobre uru monte de folhas secas que estalaram sob o peso do seu corpo.
Subitamente, algo caiu sobre ele: era um homem oculto entre as ramadas duma árvore.
Começou um feroz combate. Harry para se livrar de quem cavalgava às suas costas, e o outro procurando dominá-lo.
A voz do seu inimigo atraiu imediatamente os outros homens postados nas imediações. Harry não esperava aquela surpresa e poucos minutos depois sucumbia ante a força numérica.
Com as mãos atadas, levaram-no à presença de Celeste. Encontrava-se esta na casa de jantar, prodigalizando carinhosas frases à tia Nora, que, como sempre, chorava desconsoladamente a desaparição do cunhado e a trágica morte do sobrinho.
— Caçámos Harry Aldon, patroa! — disse um vaqueiro, aparecendo de súbito.
Celeste pôs-se de pé. O rosto iluminou-se de satânica alegria, não dando crédito aos seus ouvidos.
— Onde está o criminoso?
Imediatamente lho apresentaram. Tinha no rosto vários hematomas em consequência dos golpes que lhe tinham prodigalizado e um fio de sangue deslizava-lhe pela comissura dos lábios.
— Finalmente! — disse satisfeita. — Estás na minha frente. Durante todos estes dias tenho pensado aplicar-te tantos tormentos que neste momento não me ocorre nenhum. Dêem-lhe cem chicotadas!
Os dois jovens fixaram-se frente a frente.
Os olhos da jovem estavam carregados de ódio enquanto os de Harry, sob as suas pálpebras inchadas, pareciam recordar com doce nostalgia os dias não distantes em que tinham jurado amor eterno.
— Ganhaste, Celeste.
— Miserável!
— Se esperas que com o castigo eu confesse u crime que não cometi, perderás o tempo. Tão-pouco os meus lábios proferirão urna queixa.
— Quando tiveres o corpo ferido pelas chicotadas, ordenarei que to esfreguem com sal e vinagre.
— Servirá para as desinfetar. Não sei como agradecer-te.
— E amanhã morrerás degolado, aos pés da sepultura de meu irmão.
— Sempre foste generosa, Celeste. Repeti-to muitas vezes. Mais vale morrer assim do que enforcado.
— Ainda brincas?
— Que posso fazer com uma estúpida como tu?
Os homens que sujeitavam Harry arrastaram-no para o exterior a fim de começar o castigo,
— Quietos! — gritou. — Os criminosos são cobardes e este reagirá como os outros. Não quero que de noite me molestem os seus gritos e lamúrias, embora ele diga o contrário.
— Não temas, Celeste, deixar-te-ei dormir tranquila. Vamos, rapazes; tenho frio e necessito de que me aqueçam o corpo.
— Fechem-no na cave! Amanhã dedicar-nos-emos a ensaiar na sua carne várias espécies de tormentos. Veremos se não terminará pedindo clemência. Tu, Morgan, coloca uma sentinela à vista, de arma aperrada. Ao menor ruído que ouça, dispare sem compaixão.
— De acordo, patroa — respondeu o capataz.
— Depois de lhe termos arrancado a existência, entregar-lhes-ei os quinze mil dólares, para os repartirdes, mas tem de ficar para amanhã.
Tiraram-no aos sacões do refeitório. Minutos depois estava encerrado na cave.
— Agora poderás levantar o espírito, tia Nora. Ternos em nosso poder o assassino de Monty.
— Sim, filha, sim. Para morrer tranquila só me falta conhecer a sorte do teu desgraçado pai.

terça-feira, 22 de março de 2016

PAS602. 15000 dólares por um criminoso vivo

Monty Russell foi a enterrar no pequeno cemitério de Fresno. Além da família composta pelos seus irmãos mais novos, Jeff e Celeste, também se encontrava com eles a tia Nora, a frágil e caduca mulher, irmã da mãe dos jovens, assim como muitos vizinhos e rancheiros da povoação.
Os Russell foram sempre apreciados pelas suas inumeráveis qualidades e boa vontade com que acudiam a socorrer o próximo. Todos queriam e respeitavam o desaparecido proprietário do «Quatro Barras», tanto como a Celeste e Jeff, pois ambos seguiam a linha de bondade marcada pelo seu irmão mais velho. A indignação que o vil assassínio produziu era unânime. Nem um só dos homens presentes deixou de pensar no prazer que experimentaria se pudesse enfrentar o assassino.
Quando o pastor terminou o correspondente panegírico, ouviram-se as primeiras pazadas de terra chocarem com a tampa do ataúde. Naquele momento, a voz vibrante de Celeste Russell elevou-se, e, embargada pela dor, disse:
— Juro não descansar, Monty, enquanto não veja pendurado pelo pescoço o homem que te fez encerrar nesse ataúde! Amaldiçoo com todas as minhas forças o amor que um dia lhe tive e sinto-me envergonhada de o ter conhecido!
Jeff deixou cair uma lágrima pela face curtida, enquanto a tia Nora, com o rosto coberto por um véu, continuava chorando copiosamente, entrecortando o choro de vez em quando por soluços.
— Ofereço quinze mil dólares a quem me traga vivo Harry Aldon! Mas quero-o vivo! Compreendem? Desejo ser eu mesma quem ajuste ao seu pescoço o laço com que o enforcaremos no ramo mais sólido da árvore que dá sombra ao túmulo de meu irmão!
Nos olhos dos circunstantes brilharam estranhos fulgores. Quinze mil dólares era uma soma que eles nunca tinham visto reunida em toda a sua vida. No cérebro dos presentes começou a bulir a ideia de que pela enorme quantidade de dinheiro merecia a pena correr qualquer risco na captura do assassino. Já ninguém pensava em matá-lo onde quer que o encontrasse. Era preciso aguçar o engenho para lhe fazer uma cilada e levá-lo atado cotovelo a cotovelo à presença da generosa doadora.

segunda-feira, 21 de março de 2016

BIS105. Matar ou morrer

(Coleção Bisonte, nº 105)
 
 
«Matar ou morrer» é mais um livro onde Raf G.Smith exibe as suas caraterísticas mais conhecidas: fanfarronice estúpida no herói principal, neste caso, Harry Aldon e aguçado instinto para a intriga policial desenhada a partir de um assassínio com caraterísticas de muita crueldade e sucessiva lista de suspeitos até se chegar ao culpado, muitas vezes, alguém que nem força tinha para matar uma formiga. A linguagem do autor é ainda típica de um provincianismo saloio, com diálogos sem nexo, e denunciando o modo como ele próprio falaria com os seus conterrâneos, afastando-se assim de uma linguagem do Oeste.
Dito isto, este livro, contemporâneo do «Vingança Trágica» publicado na Búfalo e de uma importante sequência na Cow-Boy, até é interessante, mas nada traz de novo em relação ao autor.
A capa, denunciando uma situação pela qual a heroína Celeste foi obrigada a passar pelo seu noivo que ela acusava de assassínio, é excelente. A pobre foi abandonada na noite e um tratador de porcos divertiu-se a imitar uivos de coiote para a aterrorizar.
Aqui vão ficar algumas passagens de «Matar ou morrer»: Harry, chamado a Fresno pois alguém suspeita que Celeste vai ser lesada, é acusado de assassinar um irmão desta e enceta a luta para demonstrar a sua inocência e reconquistar a mulher armada. Vejam lá se descobrem quem foi a frágil criatura que matou o irmão da beldade.

quarta-feira, 16 de março de 2016

ARZ110. Não quero matar

(Coleção Arizona, nº 110).

ARZ109. Salteadores de caravanas

 
(Coleção Arizona, nº 109).
 
 
 
Surpresa das surpresas. Este livro da Coleção Arizona é o mesmo que, mais ou menos, dois anos antes tinha sido publicado na Coleção Búfalo, nº 102, sob o título «Com sangue também se paga». Como justificar uma aldrabice como esta? Aldrabice que se descobre logo de início porque o nome da princesa india é inesquecível: Minetake.
Assim, que podemos dizer? O mesmo que se disse para o correspondente da Búfalo:
«A. G. Murphy. é um especialista em questões de caravanas que têm de atravessar território índio, deixando sempre uma porta aberta para o diálogo, e vencer batalhas com salteadores que gostem de se apropriar do alheio. Desta vez, a acção essencial não é no interior da caravana, mas, fora dela, com forças que combatem esses salteadores.
Para além disso, consegue introduzir nas suas novelas acções em que a paixão entre dois seres seja em geral contrariada. Neste caso, a personagem central apaixonou-se por uma linda princesa índia, Minetake, e resolveu raptá-la a fim de consumarem o seu amor.
Assim, em determinado momento, o herói desta novela vê-se acossado pelos índios que pretendem castigá-lo pelo seu atrevimento (e abuso de confiança, pois abriram-lhe as suas tendas e partilharam a sua comida) em se apoderar de Minetake e, por outro lado, em luta aguerrida contra salteadores muitas vezes traiçoeiros...
Já sabem quem ganhou no fim, mas as perípécias são bastante engraçadas.»
Para provar o que dizemos, aqui fica «ficheiro para download».


ARZ108. O homem do Sul

(Coleção Arizona, nº 108).

ARZ107. A mensagem da morte

(Coleção Arizona, nº 107). Capa e Texto indisponíveis

ARZ106. Matei meu cunhado

(Coleção Arizona, nº 106).

ARZ105. A timidez do vaqueiro

 
(Coleção Arizona, nº 105).

terça-feira, 15 de março de 2016

PAS601. Assim morre um pistoleiro

Uma chama interior de redenção brilhou nos olhos de Adam Neumann. O arreigado sentimento que ardia no íntimo do seu peito impeliu-o decididamente para a frente, para aparar as balas que vinham já ao seu encontro, saídas do revólver de Brandwist.
Estremeceu, cambaleante, como se, de repente, tivesse tropeçado numa barreira invisível. Uma barreira de chumbo que se lhe cravou em pleno peito.
Mordendo os lábios para suavizar a dor, Neumann apertou o gatilho, possuído de uma raiva infinita, e disparou. Brandwist caiu.
Continuou disparando.
Uma rajada de tiros, em leque, terrivelmente certeiros liquidaram prontamente Thagge, Printex e Worthig que viu ainda vagamente cair, através das névoas que lhe cobriam os olhos.
Quando se deixou cair, primeiro de joelhos e depois de cara para baixo, pôde ainda dirigir um último olhar a Katie Parkington.
— Adam! Adam!
Aquele grito lancinante da jovem foi a última coisa que ouviu. Um grito que, mais do que um clamor de aflição, foi uma prece de amor.
Foi a amorosa súplica de perdão para um homem mau... que o não foi na verdadeira aceção da palavra.

segunda-feira, 14 de março de 2016

PAS600. Cinco homens mal trajados

A rua principal de Valongo estava deserta e adormecida, como abochornada pelo calor.
Um cão vagabundo que fossava num monturo fugiu correndo, de rabo entre as pernas quando o grupo de cavaleiros fez a sua entrada na rua.
Eram cinco homens.
Cinco cavaleiros mal trajados, barbudos, cobertos d pó da longa caminhada... e todos bem armados.
Um estremecimento percorreu os habitantes da cidade que obrigados à sombra dos alpendres ou através das reixas das janelas contemplavam a entrada da estranha comitiva.
Juntamente com aqueles homens cavalgava também a morte...
Sombrios e receosos, os cavaleiros avançavam em fila indiana até ao centro da povoação.
O que capitaneava o grupo, sem dúvida o mais velho de todos, parecia estudar cautelosamente o terreno, enquanto os companheiros se limitavam a cavalgar atrás dele com as mãos próximas das coronhas das armas, detendo-se finalmente, junto do «Casino dos Ganadeiros».
Desmontaram.
Sem quaisquer pressas, os homens amarraram as suas montadas à trave de madeira e, depois de deitarem mais uma olhadela em seu redor, entraram no «saloon» fazendo soar estrondosamente as suas esporas texanas.
Um homenzinho vestido de negro que se encontrava à porta do seu estabelecimento e que servia simultaneamente de barbearia e de agência funerária, disse em voz alta:
— Hum! Está a parecer-me que o dia de hoje me vai dar muito que fazer...

domingo, 13 de março de 2016

PAS599. A «pinhata»

Umas após outras, Adam Neumann e Katie Parkington dançaram ininterruptamente uma série de bailados, ante a estupefação e a expectativa das beldades presentes que, ao seu enorme espanto, aliavam a sua pontinha de inveja.
Formavam, sem dúvida, um bonito par.
Um par a princípio tímido e receoso mas que, à medida que o tempo decorria se foi animando e tornando tão íntimo que o diálogo travado entre os dois dava a impressão de que se tratava de pessoas de grande intimidade.
Chegado o intervalo, o homem que tocava a trompete lançou no espaço uma vibrante harmonia que foi entusiasticamente aplaudida e acompanhada em coro pelos assistentes.
— Oh! É a «pinhata» -- exclamou Katie com o maior entusiasmo.
— A «pinhata»? — replicou Neumann. — Que diabo significa isso, Katie?
A jovem apercebeu-se de que, pela primeira vez, o forasteiro a tratava pelo seu nome. Uma alegria luminosa brilhou nos seus olhos.
— Vai já ver, Adam; é um velho costume nosso. Em determinado momento interrompe-se o baile para que as crianças possam tomar parte no jogo da «pinhata» e...
— E que mais ?...
— Bem, a segunda parte diz respeito aos mais crescidos.
-- Os adultos também brincam com a «pinhata»?
— Ah! Não! Os de maior idade não necessitam de quebrar a panela de barro para ir procurar as suas prendas. Todos os homens as trazem consigo nas algibeiras... para as oferecer às damas com quem dançam.
— Compreendo. Um presente...
Katie fez-se muito vermelha.
— Bem, no seu caso... Como o senhor é forasteiro... Não conhece os usos e costumes da terra e, portanto... não está obrigado a coisa alguma, sabe?
Neumann passou a mão pelo queixo, olhou à sua volta e vendo que todos os cavalheiros brindavam as damas com os seus presentes, exclamou:
— E porque não? Eu também trago comigo uma prenda para si, Katie.
— Está a falar a sério?
— O mais sério possível.
O rosto da jovem iluminou-se.
Com a maior seriedade, Neumann tirou do bolso o estojo que continha o bracelete de brilhantes que ganhara na noite anterior na partida de «poker», e estendeu-o à jovem.
— A verdade é que não se trata de um brinde, Katie — disse ele. — Isto... é pertença sua, não é?
Katie Parkington ficou perturbada ao contemplar a joia. Alternadamente, com a maior surpresa, os seus olhos olhavam ora para a refulgente joia, ora para o grave rosto de Neumann.
— É... o bracelete de minha mãe — disse um tanto confusa. — Como é que isto se encontra em seu poder, senhor Neumann?
Neumann reparou que Katie tinha empregado a palavra «senhor» com uma entoação acentuadamente negativa para as suas nascentes relações.
— Foi alguém que a arriscou numa aposta, durante uma partida de «poker», e eu tive a sorte de a ganhar — retorquiu Neumann, evitando pronunciar o nome de John Parkington.
— Uma aposta de «poker»! Quer dizer que John... Não é possível!...
A voz de Katie baixou de tom, ao mesmo tempo que os seus belos olhos se arrasavam de lágrimas.
Foi apenas um instante.
— Foi meu irmão... foi John quem fez a aposta, não foi ? Desceu ao ponto de se utilizar das joias de minha mãe numa coisa tão baixa como um jogo de cartas!
Neumann sentiu-se impressionado pela profunda dor manifestada pela jovem. Era evidente que esse tal John era um irmão indigno...
— Não se aflija, Katie. Pode restituí-la quando quiser. Compreende?
Katie mordeu os lábios. Estava intensamente pálida.
Mas disse com a maior firmeza:
— Bem haja, senhor Neumann. O senhor não pode avaliar o que isto significa para mim.
Adam Neumann sorriu-se.
— Bem, não tem nada que agradecer-me, Katie — disse ele, pegando-lhe ternamente numa das mãos. — O bracelete é seu; e eu ofereço-lhe em troca de...
Da palidez intensa que mostrava, Katie Parkington passou para um vermelho de fogo.
— Pretende impor-me condições, senhor Neumann? — disse a jovem em tom brusco.
— E porque não? Acabo de descobrir que tem o bracelete em tanta estimação que bem posso arriscar-me a pedir-lhe que...
-- Ah! não! Tome, guarde a «sua» jóia — disse a jovem, interrompendo-o com rudeza.
Urna ligeira tremura de angústia sacudiu a encolerizada voz de Katie, quando acrescentou:
— O senhor não passa de um miserável. Um homem sem escrúpulos. Eu... nunca esperei isto de si. Nunca o esperei. Jamais me convenci que viria a receber um semelhante ultraje da sua parte!
Neumann ficou como pregado no solo, olhando estupefacto para a mulher.
Quando lhe foi possível reagir, murmurou desajeitadamente:
-- Mas... estou vendo que me não compreende, Katie! Eu nunca poderia ofendê-la... ainda que o quisesse.
Katie, porém, não o escutava.
Muito direita, muito digna, a jovem afastava-se rapidamente por entre os pares que ocupavam o salão, em direção a um grupo de pessoas entre as quais se encontrava o velho Stefan Parkington, juntamente com o xerife e outros cavalheiros.

sábado, 12 de março de 2016

PAS598. Convite para dançar

Irresistivelmente atraído pelo buliçoso ambiente, Neumann esqueceu-se, por momentos, do assunto que ali levara e sentindo um frémito de entusiasmo percorre -lhe todo o corpo, e que os seus pés começavam a pular-lhe para a dança, procurou com os olhos uma moça galante para seu par.
Katie Parkington.
Era de presumir que ela estivesse na festa. Encontrava-se ali toda a gente. Nem um único habitante de Valongo ou dos arredores faltaria a uma festa da Câmara,
Katie!
Descobriu-a finalmente rindo num grupo de lindas raparigas, entre as quais a sua deslumbrante beleza sobressaia de forma extraordinária.
Katie Parkington também já o lobrigara a ele.
Para melhor dizer, desde que o forasteiro dera entrada no baile, Katie nem por um momento o perdera de vista. Apesar disso, quando se apercebeu de que Neumann a tinha descoberto e se dirigia ao seu encontro, fez de contas que o não tinha visto e procurou fazer-se desentendida...
Ao chegar junto do grupo das raparigas, Neumann descobriu-se, sorrindo timidamente.
— Muito boas noites — disse ele com um delicado acento de cortesia. — Como passa de saúde a menina Parkington?
Katie voltou-se, entre curiosa e surpreendida.
 — Como vê...
Adam Neumann sentiu-se parvo; estupidamente parvo.
Os olhos de todas as raparigas presentes estavam travados nele e os de Katie Parkington brilhavam com requintada malícia.
— Passo bem, senhor... como disse que é o seu nome ?
A pergunta tornou-o ainda mais nervoso do que já se encontrava.
Por fim, conseguiu dizer:
– Neumann. Adam Neumann.
 — Muito bem, senhor Neumann. Que o trouxe por aqui ?
— Bem... vim... vim apenas pedir desculpas pelo meu procedimento de ontem.
O trabalho que teve para dizer aquilo sem que a língua lie lhe entaramelasse... Só ele é que o sabia.
Katie sorriu-se. Sorriu-se com aquele riso feiticeiro que unicamente as mulheres bonitas sabem dirigir aos homens de quem gostam.
— Não era necessário. Não me apresentou as suas desculpas, ontem mesmo?
— Bem. Pensei... que estivesse ainda aborrecida comigo.
— Aborrecida! Porquê? Não foi o senhor, depois disso, tão amável?
Neumann não respondeu. Limitou-se a olhar imbecil-mente para a jovem como se não a tivesse diante de si.
Katie trocou um olhar com as suas amigas, algumas das quais se riram discretamente.
— Bem sei que fui muito rude e violento mas não me foi possível evitá-lo — sussurrou Neumann, como se estivesse falando consigo mesmo. — Fi-la cair, e...
Katie aproximou-se ainda mais do forasteiro e audaciosamente, colocou-lhe uma das suas delicadas mãos sobre um braço.
— Oiça, senhor Neumann: não será melhor que o senhor se esqueça de tudo isso e trate de se divertir? Não gosta do baile ?
Estava tão próxima dele que se sentiu embriagado com o perfume que dela se evolava.
— Como... como diz?...
— Estava convencida que tinha vindo aqui para se divertir, ou estarei enganada?
Neumann amaldiçoava-se mil vezes pelo seu acanhamento. Era verdadeiramente espantoso o que os olhos de uma mulher bonita podiam fazer a um homem. Ele que nunca vacilara diante de nada... nem diante de ninguém...
Mordeu os lábios. Se ao menos lhe fosse possível dizer «adeus» e escapulir-se para longe daquela endiabradamente lindíssima mulher!...
Não. Não queria ir-se embora. Na verdade estava ansioso para a convidar a dançar; por senti-la entre os seus braços... nem que fosse apenas um instante e dizer--lhe que...
Os seus olhos encontraram-se.
Katie deixou de sorrir. O olhar do forasteiro tornara-se repentinamente firme, sereno e perturbadoramente varonil. Percorreu toda a sua silhueta com os olhos ávidos desde o gracioso chapelinho até à extremidade dos elegantes sapatinhos, de um modo que fez estremecer e bater descompassadamente o pequenino coração da jovem.
— Pelo que vejo, também veio divertir-se, não é verdade, menina Katie?
Katie teve um instante de hesitação.
— Pois vim... Porque pergunta isso?
— É seu hábito andar acompanhada de um grupo de amigas com intriguinhas e bisbilhotices?
— Insolente!!
— Não seria preferível que se entretivessem apenas a dançar e a tornar a festa mais alegre, com esse belo palminho de cara que Deus lhes deu?
Katie olhou para Neumann com infinita surpresa.
— Afinal o senhor é tão grosseiro como qualquer pacóvio da província!
Neumann sorriu-se.
— Que outra coisa esperava de mim?
— Esperava simplesmente que fosse... um homem!
— Perdão! Um momento! Se não se tratasse de quem se trata, acredite que viria a lamentar ter dito o que disse. Como se trata de uma mulher... e, sobretudo, de uma mulher bonita, farei de contas que não ouvi nada...
Amedrontada perante o olhar daquele homem, Katie recuou, refugiando-se entre as suas amigas que, por sua vez, não estavam a achar a conversa divertida. Sentiam-se verdadeiramente desconcertadas pela súbita transformação operada naquele forasteiro que, em escassos segundos, pareceu agigantar-se de forma inverosímil.
Katie, entretanto, tratou de recuperar a serenidade.
— Oiça: se está convencido de que tem muita graça...
Neumann voltou a sorrir-se.
— Não olhe para mim dessa maneira. A única coisa que eu pretendo é que venha dançar comigo.
Katie purpureou-se.
— Como? Quer que eu...
— Sim.
Tentou recuar um passo mas Neumann deteve-a por um braço.
— Não vai dizer-me que não, não é verdade?...
— Mas...
— É verdade que vai dançar comigo, não é ? — disse aquelas palavras de uma forma tão estranha e ao mesmo tempo tão persuasiva...
Levantou rapidamente o braço livre, enlaçou-a pela cintura e atraiu-a a si, cravando os seus olhos ardentes nos olhos dela.
— Vamos?...
Todas as mulheres têm um limite de resistência.
Katie... era mulher.
— S…i…m..
 

sexta-feira, 11 de março de 2016

PAS597. A timidez do moscardo

A noite começava a cair.
Adam Neumann contemplou o céu e o horizonte. Dentro de alguns instantes seria noite cerrada. A noite descia de modo muito estranho no Novo México. Nem um simples crepúsculo. Que diferença das noites do Texas!
Deu um profundo suspiro: Texas!
Bendito Deus! O belo e selvagem espetáculo do pôr-do-sol no Texas!...
As luzes acabavam de ser acesas em toda a cidade.
Músicas para todos os gostos faziam-se ouvir nos pianos de todos os concorridos estabelecimentos que enchiam aquela rua. Apesar de ser ainda bastante cedo, vaqueiros começavam já a divertir-se à grande.
Grande número de homens circulava pelas ruas, dirigindo-se para os «saloons» e casas de jogo.
Estranhando grandemente não ter visto Tommy, o forasteiro encaminhou-se vagarosamente para o «Casino dos Ganadeiros» cujo alpendre, iluminado por grandes lanternas de metal, o tornava inconfundível.
O gerente do hotel informara-o de que a mais importante das casas de jogo de toda a cidade era, sem dúvida, «Casino dos Ganadeiros». Segundo lhe dissera, qualquer pessoa que soubesse manejar as cartas, podia enriquecer facilmente, durante uma noite.
Adam Neumann desceu a rua pelo lado esquerdo. Tocando-lhe com o cotovelo, uma mulher surgida de uma das azinhagas transversais desatou a rir-se para ele.
O forasteiro esboçou um frio sorriso e atravessou a rua, afastando-se da pobre rapariga que se apressou a regressar ao seu cubículo.
Uma escassa dezena de metros o separava agora do «Casino dos Ganadeiros», cujas janelas se encontravam todas abertas. O interior da casa regurgitava de gente. A voz do «croupier» gritava nesse momento:
— Par e vermelho! Façam o seu jogo!
Ao seu lado, junto do passeio e em frente de um armazém contíguo ao casino, estacionava uma elegante carruagem em cuja boleia dormitava um mexicano.
Subitamente, alguém que, sem dúvida, estava com muita pressa, saiu do armazém como um furacão. Adam Neumann mal teve tempo de se aperceber do que se passava. Quando pretendeu consegui-lo, o apressado cliente do armazém chocou com ele com tal violência que o obrigou a recuar um passo, cambaleando.
Ouviu-se um grito no meio de toda aquela confusão e um «oh!», vivo e estridente, seguido do baque surdo de qualquer coisa que caía nas tábuas do passeio.
Neumann, que levara instintivamente a mão à coronha do revólver, apressou-se a retirá-la como envergonhado, ficando-se a olhar para a pessoa que acabar de tropeçar com ele e que jazia agora estatelada no solo, no meio de um amontoado de pacotes, de saquinhos e d urna graciosa e bonita chapeleira.
— Bruto! Selvagem!
Poucas vezes, durante toda a sua vida, ouvira palavra mais agressivas da boca de uma mulher.
E que mulher!
Absorto, completamente aparvalhado com aquela beleza feminina, Neumann quedou-se imóvel, contemplando boquiaberto aquela rapariga encantadora que, a despeito do forte encontrão que lhe dera, se encontrava ali estendida no passeio.
— Não tem olhos nessa cara?... Ao menos podia ter pedido desculpa.
Fora a deliciosa voz da jovem que soltou aqueles desabafos, depois de esperar algum tempo que lhe estendessem a mão.
Adam Neumann franziu as fartas sobrancelhas e olho com a maior firmeza para a jovem, sem arredar um passo nem despregar os lábios.
Que maravilhosa criatura!!
Que feições tão delicadas e atraentes!!
E que olhos!!
Como seria possível descrever aqueles olhos grandes e luminosos que estavam cravados nos seus?
Seria fácil compará-los com dois belos lagos sombreados pela verde folhagem dos abetos; com a cálida serenidade de urna noite primaveril; com... com...
A jovem apenas exclamou:
— Bruto!
Levantou-se sem qualquer auxilio, colocou o pequenino chapéu na cabeça e, depois de sacudir a barra da saia, começou a apanhar apressadamente os volumes espalhados.
Concluída a tarefa, endireitou-se com a maior dignidade e encaminhou-se para a carruagem onde o velho mexicano continuava dormitando.
— Eh, lá! Espere um instante.
Neumann alcançou a jovem numa passada.
Detendo-se bruscamente, mediu o homem de alto a baixo com a maior altivez.
— Olhe que se esquece disto... deste volume... -- balbuciou Neumann, estendendo-lhe a chapeleira.
Descobriu-se um tanto atabalhoadamente, acrescentando com a maior timidez:
— Peço que me perdoe... fui um pouco rude. Eu...
Não lhe foi possível continuar. Fez-se-lhe um autêntico nó na garganta, como se estivesse engasgado com uma noz.
A formosa jovem amenizou a expressão do rosto. Alguma coisa devia ter adivinhado no fundo dos olhos daquele afogueado rosto porque um leve sorriso lhe aflorou aos lábios.
— Até que enfim! Cheguei a convencer-me de que perdera a fala!
Disse aquilo com uma naturalidade tal que a atrapalhação de Neumann subiu de ponto.
Abriu os lábios mas não foi capaz de exteriorizar as palavras que estava dizendo a si próprio. Não pôde fazer mais do que engolir em seco.
— Bem! Se não for demasiado incómodo, cavalheiro, poderia colocar-me esse volume junto dos outros?
Neumann conseguiu desempenhar-se tremulamente da incumbência, balbuciando:
— Há-de perdoar-me aquele estúpido encontrão. Não sei como...
O sorriso da jovem tornou-se mais aberto. Mais cordial e mais condescendente.
— Talvez a culpa tivesse sido toda minha... — e lançando-lhe um olhar que lhe penetrou até ao mais íntimo do coração, subiu agilmente para a carruagem depois de ter colocado os embrulhos na parte de trás.
Dirigindo-se ao cocheiro, disse a jovem quase num sussurro:
— Vês aquele homem?
O mexicano dirigiu a Neumann um olhar agressivo, ao mesmo tempo que lançava mão do velho pistolão que trazia na cinta.
— Acaso lhe faltou ao respeito?
— Nem por sombras. Sabes, porventura, quem ele seja?
O velho cuspiu a bola de tabaco que estava mascando e respondeu:
— Não faço a mínima ideia. Porquê?
— Deve tratar-se de algum forasteiro.
— Ou talvez de um qualquer desses vaqueiros...
— Não tem aspeto disso.
— Talvez seja algum rufião.
— Também não me parece.
— O melhor é não se fiar no aspeto dos homens...
— Ê um homem.., muito gentil.
— Como? Que é que disse? — O velho olhou para a jovem em ar de censura.
A jovem soltou um riso cristalino.
— Pronto, Pancho! Vamos para casa.
— Sim, menina.
Muito tempo depois de a carruagem ter desaparecido, ainda Adam Neumann permanecia imóvel à beira do passeio, virando-se e revirando o chapéu entre as mãos.
Estava como extasiado, hipnotizado pela beleza daquela lindíssima rapariga. Jamais conhecera mulher que se lhe pudesse comparar.
— Chama-se Katie Parkington. A rainha do Vado.
Neumann voltou-se, sobressaltado, ao ouvir pronunciar aquelas palavras junto de si. Era Tommy.
Ah! És tu? Diz-me cá, grande patife, onde diabo é que tens estado metido?
O gaiato sorriu-se, piscando os olhos ironicamente.
— Tenho andado por aí. Nunca me convenci de que pudesse precisar de mim.
Neumann puxou-lhe por uma orelha com toda a força.
— Maroto!
Mas, logo, sorrindo, sussurrou em tom confidencial:
— Sabes, deveras, quem ela é?
— Nem mais nem menos do que a filha de Stefan Parkington. Um homem muito rico a quem pertencem todas as pastagens ao sul do vale e de todos os demais que existem desde aqui até às montanhas. Além desta filha tem também um rapaz, de nome John que anda sempre metido em sarilhos.
— Não há dúvida nenhuma. És um autêntico livro aberto, meu caro Tommy.
— Eu já tinha dito que podia ser-lhe muito útil, senhor Neumann — disse Tommy, sorrindo-se e acrescentando: — Sabe? A menina Katie ainda não tem noivo embora tenha muitos pretendentes.
— É muito natural.
— O pai dela corre com os moscardos para longe. Ainda nenhum lhe pareceu suficientemente bom para ela.
— Faz ele muito bem.
-- Não sei se faz — disse o mancebo. — Uma menina tão linda como ela é, merece ter um belo rapaz para defender as suas cores no «Rodeo»...
— Que queres dizer com isso?
— Quero dizer que é uma pena não ter aparecido até agora quem entre nos concursos a bater-se em defesa de tão linda donzela.
— Como é que isso é possível? Quer dizer: é costume ir um «cow-boy» ao «Rodeo», defender as cores da bandeira de uma senhora?
— Já se vê que é esse o costume. Mas só é permitido fazê-lo ao seu próprio noivo.
— Só assim?
— Bem; também pode ser feito pelo seu pretendente, se ela o aceitar para seu campeão.
— Ah!
Andando e conversando acabaram por chegar à porta do «Casino dos Ganadeiros».
Olhando de través para o seu interlocutor, Tommy, perguntou:
— Pensa solicitar a honra de defender as cores da menina Katie, senhor Neumann?
Iludindo a pergunta formulada, Neumann objetou:
— Nem um pio. Agora vou ali dentro ver se arrisco algum dinheiro ao póquer.
— Pois que seja muito feliz, senhor Neumann.
— Ao jogo?
— As duas coisas, senhor Neumann, às duas coisas...
 

quinta-feira, 10 de março de 2016

ARZ104. A redenção do bandido

 
(Coleção Arizona, nº 104)
 
 
Chegou sózinho à cidade à procura de alguém. Em breve, todos viram que era pessoa muito especial de quem era perigoso ser inimigo. Foi-se afirmando com uma presença cada vez mais forte perante os homens e perante... ela.
Até que um dia...
"Eram cinco homens. Cinco cavaleiros mal trajados, barbudos, cobertos de pó de longa caminhada... e todos bem armados. Um estremecimento percorreu os habitantes da cidade que, abrigados à sombra dos alpendres ou através das reixas(?) das janelas contemplavam a entrada da estranha comitiva. Juntamente com aqueles homens cavalgava também a morte...". - conta S. Max.
O certo é que todos se conheciam. E tiveram a má ideia de atacar aquela que agora representava muito para ele. Não consentiu. Opôs-se de armas na mão e caiu com o corpo varado de balas, mas conseguindo salvar a mulher que amava, redimindo-se assim da sua existência como bandido.
Anthony S. Max, 11 obras registadas em Portugal, traz-nos um livro com os habituais ingredientes do Oeste mas com algumas características diferentes: o bandido que se regenera salvando a mulher dos seus sonhos.
A capa, assinada por um M. Angel para nós desconhecido, mostra um pormenor de tiroteio.

quarta-feira, 9 de março de 2016

ARZ103. Era um valente

 
(Coleção Arizona, nº 103)
 
 
Um jovem regressa a casa, depois de dez anos de ausência, supondo ir encontrar o pai em boa situação. A pouco e pouco apercebe-se que está enganado. O rancho que conhecera é um monte de destroços e o pai tinha desaparecido.
A sua missão tornou-se então encontrar o pai e devolver ao rancho o brilho que este tinha tido, mas havia alguém na vizinhança que não estava interessado nas suas ações. Assim acabou por ter de empregar a força e o reencontro com o pai foi em moldes que, no final da novela, alguém pôde afirmar: «Era um valente».

terça-feira, 8 de março de 2016

ARZ102. Marcada a fogo

(Coleção Arizona, nº 102). Capa e texto indisponíveis

PAS596. O olhar do potro branco

O «rancho» de Jack Dean ficava a cerca de meia hora de Phonex. Quando ali soubessem o que se passava e se dispusessem a enviar socorros, já ele se encontraria são e salvo a muitas léguas de distância. No dia seguinte não restaria nada mais do que um montão de madeira carbonizada.
Enquanto a sua imaginação discorria sobre este e outros motivos, ia gravando com a ponta do arame em brasa o nome de Nandy Leick no pedaço de madeira. Dentro dos currais, transformados num enorme braseiro, era infernal o alvoroço das reses envolvidas pelas chamas, acicatadas pelo calor a asfixiadas pelo fumo. Cá fora, as searas lambidas pelas labaredas mais faziam lembrar um vasto oceano de fogo. Tinha escurecido por completo. O pedaço de madeira com o nome de Nandy marcado a fogo pendia do galho da mesma árvore onde prendera o cavalo.
Montou novamente a cavalo e olhou para os estábulos ainda não completamente atingidos pela vaga das chamas. Os animais, no meio da confusão gerada, faziam esforços espantosos para rebentar com a vedação. Era muito possível que rebentassem a porta antes que o fogo a atingisse.
Swater sorriu-se silenciosamente. Afagou a coronha da sua espingarda «Spencer» que sobressaia do longo coldre suspenso da sela e puxou pelo revólver. Deu uma esporada ao cavalo e dirigiu-se para a porta do curral que, com a violência dos coices dos cavalos e das vacas, rangia fragorosamente acabando por se abrir de par em par.
Arredou-se para um dos lados, a cerca de uns quinze metros e de revólver em punho. Os animais lançaram-se loucamente numa correria desordenada, em busca da liberdade. Não eram muitos. Uma dezena de cavalos e uma meia dúzia de vacas e de bois.
Começou a disparar freneticamente, derrubando cavalos e bois que, uma vez estirados no solo, dificultavam a marcha dos restantes, agitando desvairadamente os chifres que rasgavam profundamente as entranhas dos demais. Uma carnificina. O último cavalo acabou por cair varado por uma bala, engrossado o monte dos mortos e dos feridos.
Swater pegou na espingarda e desatou a dar os golpes de misericórdia nas reses feridas que foram caindo, uma por uma, definitivamente.
Swater saltou uma gargalhada. Dava por concluído o seu trabalho: a casa do «rancho» completamente destruída; o gado morto a tiro, a seara transformada num mar de fogo e, para remate da obra, um nome marcado a fogo como assinatura simbólica do autor da memorável façanha.
Subitamente, porém, alguma coisa de insólito se passou. A cabeça inquieta de um potro, com os olhos brilhantes e espantados pelo estampido dos tiros, surgia de dentro do estábulo. Os olhos de Swater fixaram-se no «jovem» cavalo, com a ânsia do caçador que julga concluída uma caçada e vê surgir, inesperadamente, uma nova presa.
Como se fosse um raio, um cavalinho branco saiu de dentro do estábulo em direção ao local onde se amontoavam as reses mortas e, com um salto assombroso, de uma agilidade felina, galgou o montão de cadáveres, continuando a fuga para o campo, enquanto a espingarda de Swater disparava um tiro para as nuvens.
Deu de esporas à montada e lançou-se em sua perseguição. Viu a sua esbelta silhueta surgir acima do campo iluminado pelas chamas e disparou sem o atingir. Perseguiu-o com redobrado entusiasmo, através da margem poupada pelo incêndio e ergueu novamente a espingarda no momento em que o cavalo, inexplicavelmente, acabava de estacar e, perdendo o sentido da primitiva orientação, parecia querer regressar ao ponto de partida.
Apontou à cabeça do animal, curvou o dedo sobre o gatilho e apercebeu-se de que o tiro disparado fora seguido de uma segunda explosão. Ante os seus olhos espantados acabava de surgir um outro cavaleiro como que expelido pela terra, na cola do cavalo branco, ao tempo que um «Colt» luzidio relampejava na sua mão direita.
Swater sentiu o impacto da bala no tórax o que, não suficientemente refeito da surpresa e também por virtude da dor recebida, o obrigou a largar da mão a espingarda que empunhava. Curvou-se rapidamente sobre a sela, mergulhando a um dos lados do pescoço do cavalo, prevenido como estava de que o cavaleiro esporeava a montada lançando-se vertiginosamente na sua direção. Nem chegou a dar conta de como começou a debandada a coberto das sombras da noite e fugindo a «unhas de cavalo», ao mesmo tempo que sentia no peito a presença da bala que o massacrava a cada movimento, a cada upa do cavalo, a cada salto que dava para se desviar de um obstáculo, em cada curva, em cada elevação de terreno, como se dentro do seu tórax se encontrasse algum rato que o estivesse devorando fincando-lhe os dentes nas entranhas.
Conseguiu reagir às dores que o afligiam e dirigiu-se para a cabana onde deixara Nandy Leick ferido, no dia anterior, e aguardando, ansiosamente, o seu regresso. Ali, dizia de si para consigo, encontraria a indispensável ajuda e amparo para continuar a defender-se. Perdera a espingarda durante a luta, e o revólver jazia abandonado no fundo do, coldre completamente vazio e sem possibilidade de voltar a utilizá-lo.
Atrás de si, numa perseguição implacável, continuava um cavaleiro completamente desconhecido para ele mas que uma voz interior lhe dizia ser o dono do «rancho» incendiado, o tal filho de Charles Dean, de que Nandy Leick lhe falara.

segunda-feira, 7 de março de 2016

PAS595. Planos de vingança

Fez estacar o cavalo e apeou-se com penoso esforço. O braço pendia-lhe inerte ao longo do corpo, mostrando a manga encharcada e a mão inteiramente tingida de vermelho. Teve de apoiar-se na sela antes de se dirigir para a cabana. Deu um tropeção e se não tosse o recurso do braço estendido para diante, ter-se-ia estatelado antes de chegar à porta.
Nandy Leick amaldiçoou mentalmente o filho de Charles Dean, bradando em altas vozes, cheio de dor e de cólera:
— Swater! Swater! Abre! Sou eu... Nandy Leick!
Ouviram-se uns passos precipitados e o barulho de um banco derrubado. Abriu-se a porta e apareceu o rosto de um homem contemplando o recém-chegado com espanto. Estendeu os braços e auxiliou o homem a penetrar na cabana.
— Com os diabos, Nandy. Chegaram-te a valer! Entra...
Levou-o até ao divã, onde ficou estendido, observando seguidamente o ferimento. Nandy perguntou quase num gemido:
— Terei osso quebrado?
— Não! A bala penetrou na carne e ficou aí alojada. Dentro de algumas semanas estarás são como um pero.
Limpou e desinfetou convenientemente a ferida a que fez o necessário penso, perguntando, enquanto lhe suspendia um lenço ao pescoço:
— Quem te fez a «partida», Nandy? Foi por acaso Lester Olner?
Nandy abanou negativamente a cabeça. O homem, entretanto insistiu na pergunta, manifestando uma intensa curiosidade nos seus olhos acobreados.
— Não. Lesber Olner e eu ainda não ajustámos as contas. É possível até que não voltemos a encontrar-nos. Foi outro. Um desconhecido. Um autêntico novato no manejo das armas... mas derrubou Sharto e Kirsey Logan. Eu consegui escapulir-me a unhas de cavalo, apenas com este ferimento. Foi o filho de Charles Dean. Ouviste já falar nele?
— Charles Dean? Esse homem não esteve preso durante muitos anos?
— Esteve mas já saiu e agora está a apodrecer. Meti-lhe algumas balas no peito e nas costas para que mordesse o pó. Fomos generosamente pagos e tudo correu pelo melhor. Calhou aparecer o filho na ocasião e deparar-se-lhe o pai quase a exalar o último suspiro. Deliberou vir ao nosso encontro e o resto já tu sabes tão bem como eu.
— E que pensas fazer agora?
— Vingar-me. Ninguém se gaba de ferir Nandy, impunemente

domingo, 6 de março de 2016

PAS594. Assim começa a vida dum pistoleiro

Jack Dean encontrava-se ainda na mesma posição, sentado na cadeira, quando Barton apareceu. Levantou-se de um salto, arredando a cadeira para o lado com o pé. Desceu do tablado para o meio da calçada, sem despregar a boca. A sua mão direita parecia adejar sobre a coronha do «Colt» que sobressaía da pistoleira, como uma ameaça permanente.
— - Que pretendes daqui, Jack Dean?
Deu um passo em frente e quando saiu a resposta, já, os seus olhos tinham descortinado a vaga silhueta de Corwer junto da janela e mover-se um par de sapatos de cada um dos lados dos batentes da porta de entrada. Sem que os seus olhos deixassem um instante sequer de olhar para a mão de Barton que pendia ao lado do revólver que trazia suspenso do cinto, Jack Dean disse:
— Enviastes três pistoleiros a Thomsone, para assassinar meu pai. Conseguiram-no. Cheguei demasiado tarde para impedi-lo, mas dois dos pistoleiros não voltarão mais a disparar. O mais jovem conseguiu fugir apesar de ferido mas não lhe darei tréguas. Persegui-lo-ei sem descanso para lhe pedir contas da morte de meu pai. E foi para também vos pedir contas a todos quatro que aqui me encontro. Cairão um por um diante do meu revólver, cobardes assassinos. O primeiro serás já tu, Barton. Puxa pela arma e dispara.
Barton mastigou urna insolência, gritando surdamente:
— Mandar-te-emos fazer companhia a teu pai.
Ainda não tinha terminado a frase e já a sua mão empunhava o «Colt», retirado com impressionante celeridade do coldre, mas também já a mão do jovem exibia o revólver donde saíam faíscas de fogo e de chumbo. Arrojando-se ao solo e, mudando constantemente de posição, continuou disparando na direção do seu inimigo. Barton pôde ver-lhe nitidamente a figura, ao tempo que a primeira bala lhe atravessava a garganta e um jato de sangue ardente lhe golfava do interior. Recuou dois passos, abriu os braços e ficou-se estatelado no soalho do «saloon», deixando a descoberto a figura de Lambert quando se preparava para disparar. Outra bala foi perfurar a testa de Lambert que abriu desmedidamente os olhos provocando urna reação de pavor em Stone ao vê-lo cambalear como um palhaço, tropeçar e deixar-se cair sobre Barton cujo corpo se desviou por virtude do choque, indo finalmente atravessar a porta cujos batentes ficaram a abrir e a fechar desordenadamente.
Foi naquele preciso momento que os olhos atónitos de Stone Clippe viram com impressionante nitidez o cano do «Colt» de Jack Dean que o visava com implacável firmeza. Viu-o endireitar-se urna vez mais e relampejar o fogacho, ao mesmo tempo que a boca se lhe abria num gesto de horror. Stone Clippe deixou escapar um gemido abafado, enquanto a bala lhe penetrava no meio da cabeça empurrando-o brutalmente para trás, com o crânio desfeito. A violência do choque da nuca contra o solo fez esparrinhar a massa encefálica em todas as direções.
No mesmo instante os vidros da janela ficaram feitos em estilhas por dois motivos sucessivos e diferentes. O primeiro foi a quebra provocada pela bala e o segundo pela queda da parte superior do corpo de Corwer que, com a testa atravessada, se despenhava com todo o seu peso sobre as vidraças que ficaram feitas em fanicos, enquanto metade do corpo lhe pendia do peitoril para o exterior. Não estava, porém, ainda morto como os seus companheiros. Absolutamente imóvel como se encontrava, pôde ainda entreabrir os olhos e ver como Jack Dean, sempre de revólver em punho, atravessava lentamente a calçada e galgava os três degraus do «saloon». A voz de Corwer chamou-o quase num gemido.
Parou e contemplou-o com a maior atenção. Tinha o rosto completamente coberto de sangue da testa para baixo, correndo-lhe um fio vermelho da cabeça até à ponta do queixo, de onde caía sonoramente em gotas no soalho.
— Dean...!
Aproximou-se com a maior indiferença.
— Que desejas?
— Venceste-nos a todos. Vingaste bem teu pai. Mas...
— Mas... quê?
— Ficas amaldiçoado. O sangue pede sangue. Já não conseguirás ser mais do que um pistoleiro. Serás... apenas um pistoleiro. Um... pistoleiro.
Não pôde dizer mais nada. Mas, antes de morrer, tinha largado ainda a baba venenosa. Deixou pender a cabeça que ficou balanceando durante alguns segundos, acabando por se imobilizar. Um grosso jorro de sangue começou a brotar do buraco aberto pela bala encharcando o solo por completo.
Jack Dean reagiu contra o vaticínio, dizendo com íntima convicção:
— Não! Não serei nunca um pistoleiro. Matei para me vingar de todos aqueles que deram a morte àquele que me deu a vida. Ainda falta um. Esse também acabará por pagar o seu cobarde assassínio. Depois... voltarei para o «rancho». Arrojarei as armas e voltarei a pegar no arado. Não serei um pistoleiro. A minha arma será unicamente o arado.
Uma voz pausada e serena dirigiu-lhe as seguintes palavras, sem qualquer censura ou azedume pelo que acabava de ocorrer:
— Nunca mais te deixarão, Dean. Desde este instante tens o teu nome ligado a todos os teus atos. Vingaste teu pai, eliminando todos aqueles que intervieram na sua inerte. Ninguém te lançará em rosto o teu desforço; mas a rapidez do teu revólver vai ser uma constante tentação para outros homens que desejarão defrontar-se contigo para te arrebatar a glória da habilidade por ti demonstrada no manejo do «Colt», apesar de tu próprio nunca te envaideceres com isso. Por todas as partes por onde passes sair-te-ão ao encontro para se medirem contigo e tu não poderás negar-te, sob pena de te apelidarem de cobarde. E então, para poderes viver, terás de ir matando quantos te saiam ao caminho. Foi toda a vida esta a sina dos pistoleiros. Mau destino, Jack Dean!
Jack Dean não respondeu. Ficou um tanto pensativo, repôs lentamente a arma no coldre e dirigiu-se para o lugar onde se encontrava o cavalo. Montou e só depois, quando se preparava para partir, disse com voz firme:
— Cumpri a minha obrigação para com a memória de meu pai. O que vier a seguir não será por culpa minha. Tudo farei para que nunca se diga que Jack Dean é um pistoleiro cobarde.
Deu de esporas ao cavalo e iniciou a marcha com o cavalo a passo, a cabeça levantada e a testa franzida, absorto nos seus pensamentos. Caminhou pelo meio da rua principal de Simpson com destino à terra livre e indómita da pradaria.
O homem idoso e cheio de cãs que lhe havia dirigido a palavra, comentou:
— Seja como for e quer queira quer não queira, começou neste momento a vida de pistoleiro de Jack Dean.