domingo, 13 de dezembro de 2015

PAS557. E assim acabou o "estrela negra"

Will foi reunindo todas as armas, com os pés e juntou-as num monte, que lentamente foi chegando para a porta onde Fred Conan já o esperava.
— Não tentem chegar a elas antes que passem cinco minutos, xerife — disse. — É para seu bem. E agora... desejo-lhes boa-noite.
Empurrou Conan para fora, com o revólver, deixando atrás de si os representantes da lei, completamente atónitos.
Uma vez no passeio disse:
— Toma um revólver, cão.
Conan pegou na arma e conteve a respiração, porque havia visto os seus três homens no passeio fronteiro.
Mas Will não os havia visto, ainda.
Com o revólver seguro na mão direita, Conan olhou para Will de soslaio. Tinha os nervos tão tensos que sentia como se a sua pele fosse percorrida por cãibras.
— Insistes em lutares comigo, Will?
— Para isso, fiz tudo o que acabas de ver.
Os três homens de Conan, pressentindo a situação, haviam-se agachado, sem que Will os visse. Não eram doidos. Conan compreendeu que a partir daquele momento a luta estava decidida a seu favor. Ninguém, por bom pistoleiro que seja, pode resistir ao ataque de quatro inimigos ao mesmo tempo, sobretudo, quando três deles estão escondidos e dispostos a matar à traição.
Conan sorriu, mostrando os dentes, numa esquisita careta.
— A quantos passos, Will?
— Escolhe tu mesmo.
Conan compreendeu que lhe convinha colocar-se o mais próximo possível do passeio, onde se encontravam os seus três companheiros. A rua devia ter uns trinta passos de um lado ao outro.
— A vinte passos — disse.
— Como tu queiras. Quanto mais contares, mais vives.
— Tu ficas aqui?
— Sim.
Conan sorriu outra vez, com uma careta. Tudo saía melhor do que ele esperava.
Começou a recuar.
Um passo. Dois passos.
Via o olhar metálico de Will. Via os seus olhos de assassino profissional, perscrutando através da rua.
Dez passos, Doze...
O suor começou a invadir a fronte de Conan. A boca tornava-se seca.
E se os seus homens não disparassem a tempo? E se se assustassem no último momento, e não interviessem na luta, para não terem que enfrentar-se com Will?
Dezassete passos. Dezoito. Dezanove...
Agora a boca de Conan estava tão seca como se lhe tivesse deitado areia.
Will continuava com os olhos cravados nele.
Não havia movido um músculo.
Vinte!
Ao dar o último passo, Conan levantou o revólver disparando de qualquer maneira, sem apontar' e arrojando-se imediatamente ao chão. Com aquele disparo só havia querido cobrir-se, distraindo o seu inimigo.
Deixou para os seus homens, os que estavam escondidos, a tarefa de acabar com ele.
Ressoou pela rua um terrível alarido que brotou em uníssono de três gargantas. Um angustioso alarido de morte.
Seis revólveres vomitaram chumbo contra a figura de Will, que estava quieto e a descoberto. E as balas tê-lo-iam trespassado se não fosse o xerife, que olhava através de urna das janelas.
O xerife pôde ver no último momento os três homens escondidos.
— Cuidado, Will!
Will lançou-se ao solo, evitando todas as balas, menos uma. Materialmente foi impossível conseguir mais.
A bala penetrou na clavícula esquerda e imobilizou o braço. O seu revólver caiu por terra. O que acabava de feri-lo sabia que era canhoto e havia-o apanhado bem.
Will deu um par de voltas sobre si mesmo, sem poder evitar que Conan se escondesse no passeio em frente.
Segurou o revólver com a mão direita.
Mas não era o mesmo. Com a mão direita era um atirador vulgar. Dominando a dor da sua clavícula ferida, fez fogo.
O xerife gritou da sua janela:
— Foi um idiota, Will! Não tinha que dar a esse patife qualquer oportunidade! Foi um idi...!
A bala arrancou-lhe um pedaço de uma orelha, fazendo-o cair para trás. Will disparou contra o pistoleiro que havia ferido o xerife, que se descobrira ao fazer o disparo. Necessitou de duas balas para o atingir, quando com a mão esquerda ~ente necessitava duma. O homem caiu para trás com a cabeça atravessada.
Os outros dois, juntamente com Conan, dispararam também.
Um verdadeiro furacão de chumbo caiu sobre o local onde se encontrava Will, que entretanto, conseguira abrigar-se, atrás duma das colunas do passeio. As balas arrancaram lascas de madeira e atingiram o seu rosto.
Um dos ajudantes do xerife, ao ver o seu chefe ferido assomou a cabeça à janela e gritou:
— Canalhasl...
Foi a última coisa que disse.
Uma bala do próprio Conan atravessou-lhe a cabeça.
Os seus companheiros acachaparam-se, encostando os seus rostos às tábuas do chão, enquanto proferiam maldições. Sabiam que estavam encurralados e nenhum quis arriscar-se mais.
Will ficou só.
Ficou só ante os três homens escondidos e sem poder empregar a sua forte mão esquerda.
Apoiando-se sobre um cotovelo, arrastou-se umas polegadas sobre as tábuas. Outra bala perfurou-lhe uma bota, não lhe levando os dedos por verdadeiro milagre. Viu que um dos homens de Conan, que estava disparando contra o escritório do xerife, se descobria demasiado.
Fez dois disparos mais e conseguiu atingir o seu inimigo no pescoço. Fê-lo cair, sangrando. No entanto Will também tivera que se descobrir para disparar aquelas duas vezes.
Conan e o companheiro, que ficara vivo, levantaram-se ao mesmo tempo, com as armas preparadas. Will percebeu que havia chegado o momento decisivo, de que este era o terrível instante em que seria preciso matar ou morrer.
Morrer.
Will sabia que não tinha salvação.
Descobrindo-se totalmente conseguiu disparar contra o inimigo que lhe pareceu mais perigoso, o companheiro de Conan. A sua bala alcançou o estômago do seu inimigo uns décimos de segundo antes que este disparasse. Este dobrou-se e caiu pesadamente em cima do passeio. Mas agora, Will, já não tinha mais balas. Também já não era capaz de disparar de novo. Caído no chão, os seus músculos negavam-se a aguentá-lo de pé.
Não obstante quis morrer erguido.
Ouviu o rumor lento, pausado, dos passos de Conan. Este havia abandonado o seu refúgio sabendo que agora Will nada poderia contra ele. Que estava tão indefeso como um pobre cão cego.
Acariciou o revólver muito suavemente, recreando-se com o perfeito funcionamento daquela máquina mortífera.
Will pôs-se de pé. O seu olhar parecia extraviado, mas ainda tinha forças para manter-se erguido. Deixou que Conan visse a estrela negra que luzia sobre o seu peito. Os dois homens estavam a uns quinze passos.
— Atira, Conan — sussurrou Will.— Não podes falhar...
— Calma, amigo. Quero acertar precisamente na estrela negra. Quero convertê-la numa estrela vermelha.
Aproximou-se mais.
Dez passos.
Os agentes do xerife, encurralados no escritório, não se atreviam a intervir, com receio de que aquele silêncio fosse urna armadilha. Davam como certa a morte do «Estrela Negra». Receavam que, assim que assomassem as cabeças à janela, seria atingidos por um pedaço de chumbo, que lhas fa riam voar.
Conan entreabriu os lábios.
— Foste um estúpido ao dar-me esta oportunidade, Will — sussurrou. — Aos homens como eu,, matam-se, quando se têm pela frente. Não o sabias? E a tua estupidez vais pagá-la com a vida...
Os olhos de Will não denotavam temor, mas um infinito cansaço, e um infinito desprezo.
— Joguei e perdi, Conan. Atira de uma vez, cão!
O revólver já apontava para a estrela, e a estrela estava sobre o coração de Will. A menos de dez passos, o tiro não podia falhar.
— Atira, cão... — repetiu o «Estrela Negra».
— Claro que vou fazê-lo... E quando tenha acabado contigo, levarei Elsa. Esta está melhor do que quando era rapariguita. Vou passar com ela uns dias deliciosos.
Conan havia torcido a boca, num sorriso cruel, onde o prazer se confundia com o ódio. Will lançou um rugido e fez uma derradeira tentativa para se lançar sobre ele, reunindo as últimas forças que lhe restavam, mas já não foi a tempo. Conan, fria mente apertou o gatilho.
Soou urna detonação.
Will não sentiu nada.
Sabia de qualquer modo, que aquilo era a morte. Vira que os homens a quem ele atravessara o coração, não sofriam. Morriam sem dar por isso, corno agora ele estava morrendo. Com a sensação de serem levados por um sopro de vento.
Mas os seus joelhos continuavam firmes. Achou estranho não se dobrar.
Viu a muito pouca distância, as faces satanicamente retorcidas de Conan.
Mas porque não disparava outra vez? Porque não o liquidava, se ainda lhe apontava?
Soou outro disparo.
Conan deu uma estranha volta sobre si mesmo, olhando o céu, e então Will viu, com infinito assombro, a marca vermelha que ele tinha numa das suas omoplatas. O segundo tiro dirigido também às costas, atravessara-lhe o fígado.
Conan largou o revólver.
Will só foi capaz de balbuciar:
— Mas...
Outro disparo.
Desta vez Conan foi atingido no estômago, e dobrou-se lentamente. A sua morte era angustiosa, horrível e quem o matava estava realizando urna obra de arte, de um verdugo.
Uma quarta bala.
Apanhou-lhe os queixos.
Conan caiu no chão. Will viu com horror que ainda estava vivo, mas não tinha cara. As suas mãos arranhavam debilmente a terra. O fino pó tingia-se de vermelho.
Foi então que viu aquela figura branca. Viu Elsa avançar, com o revólver fumegante na mão direita e reparou que ela era o verdugo e que dos seus olhos, caíam lágrimas, que lhe corriam pela pálida face.
Elsa avançou dois passos mais.
Urna última bala.
Esta foi de compaixão, e a cabeça de Conan, ou o que restava dela, saltou feita em pedaços.
Elsa caiu então de joelhos no chão, largando o revólver.
Deixou cair a cabeça sobre o peito e pôs-se a chorar.
Foi Will que se acercou dela, e que a ajudou a levantar-se, com o seu braço útil.
— Pequena. Por Deus... pequena...
Ela levantou para ele os seus olhos marejados de lágrimas.
— Esta era a sentença justa, Will._ Compreendi-o, quando estava a ponto de ser demasiado tarde...
Abaixou a cabeça outra vez sobre o peito e soluçou.
— Obrigada, Will, por me chamares... pequena.
Ele levantou-a. Ainda lhe restavam forças, tinha suficientes energias para suportar aquela carga deliciosa.
Os seus lábios pousaram-se muito suavemente na fronte de Elsa, quando a teve junto à sua.
— Tu sempre serás para mim uma pequena — sussurrou. — Ainda que os dois «tenhamos» um filho.
Ela olhou-o. E talvez pela primeira vez desde que Will a conhecia, viu nos seus olhos uma luz de felicidade completa e autêntica.
— Ternos que viver para ele, Elsa — sussurrou Tem que ser o que sonhaste que fosse. E quando se torne um advogado, oferecer-lhe-ei um relógio. Um relógio muito velho, recordas-te
Ela, com as lágrimas nos olhos, disse que sim.
Caminharam para o passeio. Ninguém reparou que Will mexia a mão e deixava cair algo, sobre o pó da rua.
Encontraram-na no dia seguinte.
Era uma estrela negra.

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