domingo, 22 de maio de 2022

FBV159.10 Uma sova no advogado insolente


Sem perceber bem porquê, Elizabeth sentiu que podia confiar em Dick Steiner. Pareceu-lhe profundamente sincero. Pela primeira vez, sentiu-se inclinada a aceitar a hipótese de uma armadilha contra Gilbert. 

— Mas quem supõe capaz de o ter feito? 

— Tenho vários suspeitos..., mas não seria justo citar nomes sem estar convencido completamente. 

— Então que espera de mim? 

— Apenas uma coisa... que não tenha rancor contra o meu irmão. Ele veio a sua casa trazer um documento que o advogado Merrill lhe levou para que Gilbert e o sócio assinassem..., mas veio especialmente na esperança de a encontrar, a si. 

— Deve saber... 

— Eu sei... Ontem à noite tive uma trem lida discussão com Gilbert. Sei que ele não é o mesmo, que se transformou para muito pior. Mas sei também que não é culpado, e resolvi ficar para demonstrar a sua inocência. Meu irmão continua a amá-la, Elizabeth... 

Ela respondeu, devagar, fitando Dick que lhe lembrava irresistivelmente o Gilbert que conhecera antes, não o de agora. 

— Tenho pena, Dick, mas deixei de amar Gilbert há muito tempo, quando ele começou a transformar-se... a enforcar gente... a exibir-se. Agora não o aceitaria... nunca. No entanto não acredito na culpa dele quanto ao assassínio de meu pai. Creio que já tinha chegado a essa conclusão antes da sua visita, Dick... E tenho pena da situação em que se encontra.

— Vão julgá-lo amanhã... talvez a chamem como testemunha... 

— Devem chamar-me, sim. Direi apenas a verdade... não farei o jogo dos verdadeiros assassinos. Direi o que penso... 

— Agradeço-lhe. Posso ver o gabinete de seu pai? Não que espere fazer qualquer descoberta... 

— Decerto, venha... 

Dick examinou atentamente, o gabinete, sem encontrar qualquer indício útil. Despediu-se de Elizabeth, depois de lhe perguntar quando seria realizado o funeral do juiz. 

— Amanhã, uma hora antes do julgamento... 

Minutos depois. Dick entrava no "Strafford Saloon". Encontrou Merrill, o advogado, que sorriu ao vê-lo, parecendo, satisfeito e seguro de si. 

— O xerife disse-me que não tiveram sorte, Steiner... 

— Alguém esteve na Cruz do Corvo antes de nós — respondeu Dick. 

— Acredita que tivesse existido algum cadáver, sem ser na imaginação de seu irmão? Não viu o juiz morto e Gilbert junto dele com as mãos sujas d sangue? Não viu a bala? 

— Nada disso prova seja o que for e não sou apenas eu a pensar assim. Elizabeth Marlowe é da mesma opinião... — retorquiu Dick. —  Também ela não acredita que Gilbert seja o assassino. 

— Mente! — bradou Merrill, congestionado. — É tão embusteiro como o seu irmão! 

Dick afastou-se do balcão, olhou-o fixamente e disse: 

— Se não retira isso que disse, mato-o! 

— Pois mate! Todos verão que dispara contra um homem desarmado... 

— Isso nada altera, Merrill. Vou bater-lhe até o fazer cuspir as tripas. 

E, ao mesmo tempo que falava, Dick atacou. O seu punho direito acertou em cheio na cara do advogado, atirando-o para cima de uma das mesas. 

Merrill, endireitou-se, doido de raiva, mas segundo soco fê-lo cair sem sentidos. 

— Strafford, — disse Dick... — dê-me uma panela com água. 

O dono da casa obedeceu, e Dick despejou a água por cima do advogado. Merrill agitou-se, tossiu, acabou por se levantar. 

— Maldito... 

— Ainda não acabei, Merrill. Tem de retirar o que disse. 

O advogado lançou-se sobre Dick, de cabeça perdida, mas dois socos mais puseram-no de novo a dormir. 

— Mais água, Starfford… 

Outra vez despertado sob o novo dilúvio, Merrill não se atreveu a levantar-se. Ficou sentado no chão, encharcado, repelente, apavorado. Dick segurou-o pelas bandas do casaco e içou-o. 

— Retira o que disse, ou continuo?... – Perguntou, sacudindo-o.

— Está... está bem... retiro o que disse… reconheço que o insultei sem razão. 

Dick empurrou-o. Merrill cambaleou, segurou-se a uma das mesas e encaminhou-se para a porta, rosnando entre dentes. Quando ele saiu, Dick encostou-se novamente ao balcão e pediu outro uísque. 

— Cuidado com esse tipo... — sussurrou Strafford. — É perigoso, não lhe perdoará isto... 

— Estou prevenido, Strafford. Obrigado...


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