quinta-feira, 19 de maio de 2022

FBV159.07 Mãos sujas de sangue e uma bala comprometedora


Dick Steiner chegou a Misoula e dirigiu-se para o "Strafford Saloon", a fim de comprar provisões para a jornada. 

— Já se vai embora, Dick? -... perguntou Strafford. — Vamos sentir a sua falta. Estávamos habituados a vê-lo por aqui... 

Dick não respondeu. Não queria dar explicações, a quem quer que fosse, sobre os motivos da sua partida... 


***


Gilbert atravessou a rua principal de Misoula, viu o cavalo do irmão e por momentos hesitou. Mas o seu orgulho impediu-o de ceder ao impulso fraternal. Continuou o seu caminho. 

Chegou à porta da casa do juiz Marlowe, e desmontou. Sentiu que o coração batia com desusada força, ao pensar na possibilidade de se encontrar com Elizabeth... e talvez de lhe falar. 

Não pôde ver alguém que o espreitava atrás de uma das janelas e se retirou apressadamente depois deter a certeza de que era ele. Um vulto percorreu a casa, desde o escritório do juiz até às portadas traseiras, e segundos depois desapareceu numa ruela. 

Gilbert bateu à porta e esperou. Decorreram dois ou três minutos sem que alguém respondesse. Voltou a bater, mas o silêncio continuou. Viu então que a porta estava entreaberta e empurrou-a brandamente, espreitando para dentro. Chamou: 

— Juiz Marlowe! 

Silêncio…

Adiantou-se mais, viu a porta do gabinete do juiz. Intrigado, aproximou-se. A porta estava também entreaberta... e pareceu-lhe ver uns pés, de alguém que estivesse caído. Deu um passo, empurrando o batente... 

O corpo do juiz Marlowe estava estendido no chão. Gilbert ajoelhou junto dele, precipitadamente e, tentou erguê-lo. Mas o juiz estava morto, e, quando Gilbert se ergueu, aterrado, viu que tinha as mãos sujas de sangue... 

Um pânico súbito se apoderou de Gilbert. Teve o pressentimento de uma armadilha... e nesse momento ouviu um grito estridente. 

Elizabeth Marlowe tinha acabado de provar um vestido. A modista comentou, sorridente: 

— Se todas as clientes tivessem um corpo como o seu, todas as modistas do mundo seriam artistas... Assim dá gosto trabalhar... 

Elizabeth sorriu também, satisfeita. Por muito grande que fosse a sua simplicidade, o comentário. não podia deixar de agradar-lhe. 

— Está a ser lisonjeira, sra. Carol... Quando me dá o vestido pronto? 

— Mando-lho amanhã à tarde. Está bem? 

— Com certeza... 

Minutos depois a jovem despedia-se da modista, e saía. Queria chegar cedo a casa para poder dar um passeio com o pai, como tinham combinado. Surpreendeu-se ao ver a porta aberta. E entrou para o gabinete do pai... e gritou com todas as sua forçar. 

O juiz Marlowe estava caído no chão, inerte, e junto dele encontrava-se Gilbert Steiner, com as mãos sujas de sangue... 

Elizabeth, apavorada, continuou a gritar. Gilbert olhava-a, querendo explicar-se, mas sem conseguir falar... 

De repente, Elizabeth deixou de gritar e olhou para ele, com uma expressão de indizível ódio. 

— Assassino! Assassino! 

— Não, Elizabeth... Não o matei... Vinha trazer--lhe um documento... a porta estava aberta... 

— Assassinaste-o! 

— Juro-te que não... 

— Não tardaremos a averiguar isso... - disse uma voz rude, à porta. 

O xerife Toomey acabava de entrar, seguido por Weis. Ouviam-se mais vozes, dentro e fora da casa. Os gritos de Elizabeth tinham sido escutados, e começava a juntar-se gente... Falava-se em Gilbert e no juiz assassinado! ... 

-- Não o matei! ... -bradou Gilbert, desesperado — Quando cheguei, vi a porta aberta... e ninguém me respondeu... Esta porta também estava aberta... Entrei... vi o juiz caído no chão e pensei que tivesse tido um ataque... Quis levantá-lo, e foi então que eu sujei as mãos de sangue... Elizabeth chegou nesse momento... 

— Onde estava, menina Marlowe? 

— Vim da loja da sra. Carol... e ao chegar vi isto... este homem... 

Apareceu mais gente, entre essa gente vinha o dr. Speelling, o advogado Merrill... e Dick Steiner... 

Elizabeth foi levada dali, por algumas amigas. O olhar de Dick encontrou o do advogado... e leu nele uma expressão estranha, de triunfo e ódio. Mas talvez fosse apenas impressão sua... porque lhe parecera ver a mesma expressão no olhar do xerife e até no de Weis. 

Gilbert parecia um animal encurralado, desnorteado. O xerife aproximou-se dele e desarmou-o, bruscamente. 

— Não o percas de vista... — recomendou a Weis, que empunhara o seu "Colt". 

Toomey abriu o revólver de Gilbert e cheirou-o. Murmurou: 

— Esta arma foi disparada recentemente... 

— Sim... — retorquiu Gilbert, que parecia agora mais calmo. — Fui atacado por um homem, no caminho, e disparei sobre ele. Ainda lá deve estar, na Cruz do Corvo. Era um irmão de um tal Rush a quem enforquei.

— Um bom acaso, hem?... — grunhiu o xerife. 

— É a verdade! 

— Verificaremos isso, e outras coisas. Vejo que não substituiu a bala, no carregador... 

— Não tinha pressa... Foi a primeira vez que disparei uma bala dessas... contra um homem... 

— Há urna maneira de esclarecer isto prontamente... — interveio o advogado. — Se a bala que matou o juiz se encontra ainda no corpo dele... pode ser extraída...Talvez não seja uma bala de oiro... mas talvez seja... 

Gilbert quase sorriu, aliviado. Sim, com efeito... a sua inocência não tardaria a ser demonstrada.

O dr. Speelling foi buscar a sua maleta e, tendo mandado estender o corpo do juiz em cima da secretaria, curvou-se sobre ele, empunhando o bisturi. Toomey, o xerife, fez sair toda a gente que se encontrava no gabinete. 

Dick não pronunciou uma só palavra. Ao contrário de Gilbert, tinha a nítida certeza de que a bala só serviria para confirmar as suspeitas. Alguém preparara a armadilha... e o pormenor não podia ter sido esquecido. Tinha razão. Minutos depois o médico reaparecia trazendo entre os dedos uma bala de oiro! 

— Então, Gilbert Steiner? Que diz agora? É uma das suas balas? 

— Sim..., mas não a disparei... -respondeu Gilbert, lívido. 

— Vamos verificar agora o que disse a respeito desse homem que o atacou na estrada... -declarou o xerife. — Se não houver outra bala como essa no corpo dele, o assunto está resolvido... à força... 

— Suponho que não aplicará também a lei de Lynch... — disse Dick em voz alta. 

Foi John Merrill quem respondeu: 

— E porque não? O seu irmão tem-na posto em prática... Mas descanse, ninguém pensa em fazer o mesmo que ele faz. No entanto, se verificarmos que não existe sequer o tal homem que ele diz ter abatido... o resultado é o mesmo e o julgamento não alterará as coisas...E a forca para Gilbert Steiner. 

Dick voltou-se para o irmão, e por momento os olharam-se fixamente. Mas não havia animosidade nesse olhar... Eram novamente dois irmãos. 

— Confia em mim, Gilbert. Sei que não foste tu... 

— Sim... mas quem foi deve ter tudo bem preparado... Podem tentar matar -te... 

— Se o fizerem... isso provará a tua inocência. 

Gilbert encolheu os ombros. Sentia-se perdido. Tinha agora a certeza de que alguém devia ter feito desaparecer o corpo do irmão de Rush. 

— Faz o que entenderes, Dick. Não tenho nada a censurar-te... e tenho muito que censurar a mim mesmo. 

O advogado interveio, voltando-se para o xerife e ordenando: 

— Meta este homem na cadeia, Toomey. 

Toomey e Weis levaram Gilbert. Na rua, a "cambada" - como ele dizia - olhou-o com escárnio. Odiavam-no... 

Dick regressou ao caminho da mina, acompanhado pelo xerife e pelo seu ajudante. Pararam no lugar exato onde Gilbert dissera ter disparado sobre o seu assaltante, o irmão do enforcado Rush. Não havia sinais de qualquer corpo, por mais que procurassem. 

— O seu irmão mentiu... — disse o xerife. 

— Não o afirme com tanta certeza... Sei que o odeiam e esperavam há muito tempo uma oportunidade destas... Vocês e esse John Merrill... 

— As provas... 

— São contra Gilbert, bem sei. Mas sei que a provas podem ser forjadas pelos inimigos dele. Tarde ou cedo desmascararei o verdadeiro culpado... ou os culpados... 

— Pois apresse-se, ou não chegará a tempo de salvar o seu irmão. Volta para Misoula? 

— Fico ainda aqui. Irei depois, para falar com Gilbert. Suponho que isso é permitido. 

— Sem dúvida... 

Dick esperou que os dois homens se afastassem e renovou as buscas... mas o resultado foi o mesmo. Alguém removera o corpo sem deixar rastro. Resolveu ir à mina e falar com Lee Stevens... 


Sem comentários:

Enviar um comentário