domingo, 12 de janeiro de 2020

KNS049.10 Regresso à cabana armadilha

A porta estalou ao bater dos nós dos dedos e Ken saltou da cama, com um «Colt» empunhando instintivamente. O visitante noturno voltou a bater e o jovem aproximou-se da porta sem ruído, com os pés descalços.
— Quem é?
— Senhor Adams?
Sem abrir disse que sim.
— Quem chama?
— Trago uma nota da senhorita Fraser.
Ken franziu o rosto, desconfiado. — De Eva. Puxou o percutor e abriu a porta.
Abriu-a suavemente apontando o revólver diretamente ao estômago do desconhecido.
— Não é preciso tanta precaução, Juiz. Trata-se somente desta nota. Vou-me embora imediatamente.
Ken pegou no papel e examinou o rosto do mensageiro à escassa luz do corredor. Leu a nota num relance.
— Ela está na cabana?
— Sim, senhor. Pediu-me que a acompanhasse e depois mandou-me aqui.
— Que faz lá? Porque não veio consigo?
— Não me explicou. Parecia muito excitada, depois de encontrar algo e não me permitiu que a aconselhasse. Que podia fazer? Vim a toda a pressa e agora regressarei rebentando o cavalo, se é que você não vem. Não me agrada a ideia de que esteja ali só a estas horas.
— Eu acompanho-o — decidiu Ken.
Fechou a porta e vestiu-se. Levou poucos minutos a enfiar as roupas. Ao sair mantinha as mãos próximo das armas desconfiado de uma cilada. Na rua estava o cavalo do mensageiro, e Ken teve de tirar o seu da cavalariça do hotel. Minutos depois, ambos cavalgavam, em silêncio, para Este de Tombstone.
Levaram quase meia hora a encontrar a cabana. Pouco antes de vislumbrar a massa escura da cabana, Ken parou o seu cavalo.
— É verdade que está ali, amigo?
— Oiça, que é que está a pensar?
— Que talvez seja uma cilada demasiado ingénua.
O indivíduo ia para dizer alguma coisa, mas o jovem atuou com tanta rapidez, que o outro não pôde defender-se do súbito ataque. Saltou com agilidade por cima do cavalo, caindo em cima do pistoleiro. As suas mãos aferraram-se à garganta do bandido apertando com força.
Os dois caíram no chão golpeando-se e lutando em silêncio. Os dedos de Ken estavam cravados na garganta do seu inimigo, e este torcia-se, tornava-se roxo. Ken soltou por instantes a sua presa e aplicou-lhe um murro nos queixos que soou como uma castanha ao estalar.
O foragido soltou um gemido e os seus dentes rangeram. O jovem voltou a bater, com raiva, até ter a certeza de que o seu inimigo tinha uma dose de soporífero para largo tempo. Levantou-se cambaleante, e afastou os cabelos que lhe caíam para a testa suada. Depois, acariciou o pescoço do seu alazão e trocou o seu chapéu pelo do pistoleiro. Montou e empreendeu a marcha para a cabana. Aproximou-se despreocupado, sem ocultar a sua presença, consciente de que algum rifle o estaria espreitando na escuridão.
Tinha os músculos tensos, dispostos a saltar do cavalo ao menor sinal de perigo. Ouviu o ruído da culatra de uma «Winchester» a introduzir a bala na câmara.
— És tu, Dick? — perguntou Went, da escuridão. Ken guiou o cavalo até ao lugar de onde tinha vindo a voz.
— Sim. Desmontou.
O ex-xerife saiu do seu esconderijo.
— Onde diabo está o Juiz? Não o trouxeste?
— Não quis vir. Estás só?
— Rod está por aí... — Went, de repente, suspeitou: — Eh, que voz?
Ken sacou o seu revólver.
— Põe as mãos para cima, Went. Estás preso.
O ex-xerife soltou uma maldição.
— Duro com ele, Rod, é o Juiz! Bang.
A primeira bala de Went arrancou o chapéu da cabeça de Ken antes que este tivesse tempo de pôr-se a salvo do cobarde ataque. Do outro lado da cabana soou o ladrar áspero de um rifle.
Ken escondeu-se do outro lado, rebolando pelo chão, enquanto que a bala que lhe era destinada só apanhava o ar. Mesmo do chão, de bruços, Ken disparou. Primeiro, contra Went, que, por estar mais próximo, era o mais perigoso.
A bala penetrou-lhe pela testa, lançando-o para trás, no mesmo instante em que o dedo ia a apertar o gatilho. A última contração nervosa produzida pela morte fez com que a espingarda de Went se disparasse, mas a queda desviou a trajetória da bala.
Uma chuva de terra salpicou o rosto de Ken, que voltou a rolar para iludir os disparos de Red. Este fazia fogo com louca velocidade, raivosamente, sem fazer pontaria, confiando que a grande quantidade de balas acertasse no seu inimigo, mais que a precisão dos tiros.
Ken, rolando, protegeu-se atrás de umas árvores, e voltou a montar o percutor. Mas sem deitar de fora a cabeça, pois as balas de Red formavam uma cortina de fogo mortal. De repente, Red deixou de disparar e o jovem levantou cautelosamente a cabeça. E então ouviu a voz triunfante de Red, caminhando ao seu encontro.
— Sai daí Juiz, ou seco as lágrimas à tua pequena com uma bala.
— Não faças caso, Ken — gritou Eva.
No mesmo instante, Ken ouviu um golpe e um gemido.
— Assim aprenderás, encanto, e o teu noivo saberá obedecer-me.
O jovem soltou uma exclamação de raiva e apertou com ânsia o revólver.
— Vou contar até três, Juiz. Saia antes de ouvir o último, ou não verá cor vida a sua pequena.
Ken largou o revólver e levantou-se, esperando a cada instante ouvir o tiro que lhe acabasse com a vida. Vê-lo causou em Red um feliz entusiasmo. Ken rangeu os dentes.
— Agora, Juiz, porte-se corno um homenzinho! ...
— Que vais fazer? Deves estar louco.
— De entusiasmo, sim. Sabe o que me pagará o chefe pela sua cabeça?
— Não Lenho a mínima curiosidade, rapaz, mas sei o que ganharás com isso, uma boa gravata de cânhamo.
Red soltou uma gargalhada.
— Não está em condições de fanfarronar. Tenho-o bem na mão e, se isso fosse pouco tinha a sua noiva que originou toda esta embrulhada. Patton sentir-se-á feliz por os saber nas suas mãos.
Ken, com as mãos no ar, espreitava uma oportunidade para entrar em ação com perigo da sua vida. Mas Red não se descuidava, e o rifle apontava direito ao peito do seu rival. Eva, próximo do pistoleiro, estava caída, dorida pelos golpes sofridos.
— Será melhor que te entregues, rapaz. Não te esqueças que sou Juiz, e não é o mesmo que matar um índio.
— Torna-se mais divertido, Juiz. Mas, não vai suplicar-me a sua vida? Não me prive desse prazer, raios!
— Que tu sejas um cão ladrão, não quer dizer que todos os homens sejam iguais.
Bang. O rápido tiro de Red roçou o queixo de Ken, e este sentiu o calor da bala abrasar-lhe o pescoço. Mas nem sequer estremeceu.
— Um tipo sem nervos, eh?
— Deixe essa mulher, pois já me tem a mim — pediu acremente, Ken.
— Vá, comece a suplicar!...
O jovem avançou um passo.
— Estás jogando a vida rapaz.
— Nesse caso, será melhor que lhe pregue um tiro. Vai conseguir assustar-me. ~
Levantou a espingarda e à pálida luz do amanhecer, Ken viu a morte no cano do rifle. Eva moveu-se no chão! Foi um gesto desesperado, nascido do seu fervoroso amor. Os pequenos pés golpearam as pernas de Red fazendo-o perder o equilíbrio. Este soltou uma maldição, desperdiçando a bala que já saía da espingarda. Furioso, voltou a «Winchester» contra a jovem e Ken saltou como uma lebre.
Em dois saltos caiu sobre Red, e as suas mãos apertaram o pescoço do pistoleiro. Foi uma luta brutal, de vida ou de morte. O rifle caiu no chão e Ken deu um pontapé no peito do pistoleiro que soltou um gemido. Depois rolaram pela erva, enquanto Eva escondia o rosto e soluçava desesperadamente.
Entre ambos os homens trocaram-se violentos golpes que soavam sonoramente na quietude do plácido amanhecer. Ken, de repente, encontrou-se debaixo de Red, e as mãos deste estrangulavam-no, cujos dedos se afundavam na sua garganta. O rapaz sentiu que os seus ouvidos começavam a zumbir e que a cabeça lhe começava a estalar. O ar faltava-lhe nos pulmões, e contraiu-se como um felino.
O duplo pontapé no ventre de Red lançou este pelo ar, como uma bola. O Ken, esfregando o pescoço, levantou-se, com os sentidos quase perdidos. Mas, continuou a lutar, compreendendo que uma simples vacilação equivalia à sua morte e à de Eva.
Caiu sobre Red, espancando-o ferozmente. A mandíbula do foragido estalou, mas nem por isso deteve o seu implacável castigo. Um murro no estômago do seu inimigo fez com que ele se dobrasse, e, um novo golpe no queixo, deixou este numa pasta de sangue. Respirando a custo, Ken afastou-se do corpo do seu rival, tragicamente retorcido no solo. Notava que o chão parecia faltar-lhe debaixo dos seus pés.
Os braços femininos acolheram-no ternamente, e os lábios vermelhos de Eva, tornaram-se num bálsamo para as suas feridas. Demorou vários minutos a recompor-se, e quando por fim pôde valer-se a si próprio, limpou o sangue dos lábios.
Guardando os revólveres, Ken olhou para a j ovem. Esta tinha lágrimas nos olhos, mas teve ânimo para brincar. -- Sempre tenho de estar a salvar-te a vida. Abraçou-o ternamente.
— Não devemos separar-nos. Depois verificou que Went estava morto e Red sem sentidos.
— Regressemos a Tombstone, Eva.
Ela informou-o:
— Segundo disseram Went e os outros, o chefe deve passar por aqui.
— O chefe?
— Melvin Patton. Devem ter algum plano combinado porque tinham concordado reunir--se aqui.
O jovem humedeceu os lábios e nos olhos assomou uma sombra de ansiedade. Eva adivinhou os seus pensamentos.
— Não, Ken! É uma loucura. Agarrou-a pelos ombros e fez com que ela o olhasse. — Temos de acabar com esta quadrilha, querida. É preciso! Entendes-me? Só quando acabarmos tudo isto poderemos estar tranquilos para nos dedicarmos um ao outro inteiramente.
— Matam-te!
— Tenho a pele dura. Tu vais montar a cavalo e voltarás a Tombstone para pedir reforços. Eu os aguardarei aqui.
— Mas Patton virá antes!
— Porque hás de pensar sempre o pior? Encaminhou-a suavemente, mas com firmeza para o cavalo.
— Sê valente, Eva.
Ajudou-a a montar o animal e em seguida deu uma palmada neste que se lançou a galope. Em poucos minutos o cavalo perdeu-se de vista. Ken ao ver-se só, começou a preparar o cenário para a última batalha, e o primeiro que fez foi esconder o cadáver de Wint e o corpo de Red.
Em seguida, montou no seu alazão e foi buscar o corpo do pistoleiro que o tinha levado até ali, mediante o engano da nota escrita por Eva.
O corpo do pistoleiro continuava no lugar onde o tinha deixado. Ocupou-se dele e levou-o também para a cabana que

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