Duas horas mais tarde, já lavado, comido e retemperado de forças, com o cavalo fresco e alimentado, Black Man dava entrada em Deanville. Admirou-se em primeiro lugar do silêncio que reinava ao longo de toda a rua. Nem vivalma. Mas do Saloon que pertencera a Sam Legiss — vinha o barulho de profunda gritaria. Que tinha acontecido? Porquê aquele silêncio exterior? Quem chamara os homens ao Saloon?
Black Man impeliu o cavalo para o estabelecimento, mas de súbito fez estacar a montada. A porta do Saloon abria-se com grande estrondo e grosso número de homens e mulheres mulheres apareceram. Que ocorria? Então, no meio dessa multidão, Black Man descobriu a figura do sheriff, descomposto, roto e tom os olhos fora das órbitras. E logo atrás dele... Jane Milton e o pai. O povo gritava:
— À forca! À forca!
Black Man compreendeu o que tinha acontecido. Jane e o pai não lhe tinham obedecido e haviam descido à cidade. Ali, reuniram o povo, como tinham premeditado, e declararam a verdade. Então, o povo, revoltado, procurara o sheriff, e sem o respeito pela estrela que ostentava no peito, havia-o apanhado e conduzido para o Saloon.
Estava ele envolvido nestes pensamentos, quando uma voz rebentou:
— Ali vem ele! O «enforcado» ! A vítima!
Todos olharam e Jane correu ao seu encontro.
— James! James! Reabilitamos-te! O povo ouviu-nos e agora vai fazer justiça! E Butler?
Como num sonho, Black Man respondeu:
— Está morto.
— Então — concluiu Jane — com a morte de MacDonald, ficas vingado. Eu retratei-me revelando toda a verdade ao povo. James, se tu quiseres...
Black Man impeliu o cavalo para a frente, obrigando o povo a afastar-se. E o cavalo compreendeu tao bem a sua intenção, que obedeceu sem dificuldade a mão. MacDonald acabou por ficar sozinho no meio da rua. Com serenidade e impondo silencio com a sua figura gigantesca, Black Man gritou:
— MacDonald! Olha para o meu pescoço! — E tirou o lenço. A cicatriz roxa apareceu em toda a sua hediondez. Entre o povo houve uma exclamação de terror e compaixão.
Black Man tornou:
— Seis homens provocaram o meu enforcamento e mataram Moorehead e os filhos. Desses seis já cinco morreram. Restas tu. Vou matar-te. Mas não quero que morras sem uma arma na mão. Quero que te defendas, para que nao se diga que te- assassinei, embora tu nao mereças outra coisa, pois és um abutre repelente.
E sacando do coldre uma arma, lançou-a sabre o xerife, que logo a apanhou, com os olhos a brilharem de esperança. Talvez agora ele pudesse salvar-se... se alguém podia fugir a vingança de um morto-vivo. Verdadeiramente, desde o princípio de tudo aquilo que o xerife não compreendia o que lhe estava a acontecer. Mas quando ouvira Jane revelar a verdade e tivera conhecimento de que o homem de negro matara todos os seus sócios, compreendera que o negócio era serio e só dificilmente se poderia salvar. Mas aquela pistola que lhe caíra nas mãos no último instante, era uma possibilidade... embora lhe custasse fixar o homem de negro, devido a cicatriz arroxeada que ele ostentava coma um fantasma saído do túmulo.
MacDonald puxou pelo gatilho. Uma, duas, três vezes... A terceira, o gatilho bateu em seco. As balas tinham acabado. Black Man aproximou-se mais. O cavalo saracoteava. Ele levantou o Colt e disse:
— Também tenho aqui três balas — e fê-las cair do tambor, uma a uma. — Agora estou sem balas coma tu. Mas vou meter uma, fazer girar o tambor à sorte e dispararei sobre ti, até que a bala apareça e te mate...
— Não! Não! Não faças isso! —gritou o xerife.— Mata-me já!
Mas o tambor tinha girado. E Black Man começou a apertar o gatilho. Uma vez... MacDonald atirou-se ao solo, com os lábios apertados entre os dentes, tanto era o medo. Duas vezes... O sangue jorrava dos lábios do sheriff. Ele sentia-se perdido e apavorado. Rojava-se pelo solo como um réptil. Black Man voltou a apertar o gatilho. Três vezes... MacDonald não pôde mais. Ajoelhou-se e implorou com as mãos em súplica. Mais uma vez o gatilho foi apertado e desta vez a bala saiu com força endemoninhada, penetrando como um dardo na cabeça do xerife. A morte foi instantânea.
O povo que assistira silencioso a toda a cena, concordando com a atitude do homem de negro, acabou por se aproximar. E Milton, o rancheiro, tomando a palavra em nome de todos, disse:
— Estamos em dívida para consigo, James. Não podemos pagar-lhe o que sofreu COM a injustiça praticada por todos nós. Mas mais do que todos, devido à ação da minha filha, sinto-me particularmente responsável pelo seu caso. Como cidadão mais velho e conhecedor das leis, e portanto sabendo que a partir deste momento a mina Moorehead pertence ao Estado, proponho-me comprar uma parte e oferecer-lha como reparação. Que diz?
— Não, amigos. Eu fiz o que tinha de fazer. Pretendia vingar-me. Estou vingado. Agora resta-me partir...
— Outra coisa — teimou Milton — oferecemos-lhe o lugar de xerife.
— Obrigado. Nada aceito. O meu destino será procurar a aventura. Adeus, amigos! E de futuro, quando tiverem, que condenar um homem, verifiquem sempre todas as suas possibilidades de culpa, pois pode muito bem ser que estejam a condenar um inocente. Adeus, até um dia...
Black Man impeliu o cavalo para a frente e começou a afastar-se a passo lento. Evitou olhar para trás, para não ver o rosto banhado em lágrimas de Jane Milton, que murmurava:
— Não partas, não partas, James, que eu amo-te muito, muito...
Mas o homem de negro, curvado sobre o cavalo, mais parecia uma sombra a perder-se nas sombras da tarde que caíam. Só um homem se destacou de entre a multidão: um homem pequeno, trôpego, com uma grande corcunda. Era «Devil». Destacou-se para correr, a bom correr, enquanto gritava:
— Black Man! Espera! Espera! Eu vou contigo! Eu vou contigo... — E no ar ouviu-se a sua gargalhada casquinada.
Black Man, sem se voltar, limitou-se a acenar com o braço num gesto mudo, de aquiescência...
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