quinta-feira, 9 de abril de 2020

KNS054.06 Trabalho de pistoleiro

As bailarinas sorriam, dirigindo olhares apaixonados a Kleber, que estava sentado numa mesa contemplando o espetáculo do «saloon».
As mesas de jogo estavam atestadas de clientes, assim como os balcões e a pista de baile. Stuart, até ali não tinha estado empregado senão em ranchos, mas pelo que tinha dito Beckette, o seu trabalho ali iria ser muito parecido.
Naquela tarde, quando visitou Beckette, este, apertando a mãos, explicou que tinha certo receio de que houvesse alguém disposto a tirar-lhe o negócio e queria defender-se. Qualquer bêbado ou qualquer pistoleiro, podia provocar escândalo. Devia evitá-lo. Por isso, devia proteger a sua pessoa e o se negócio.
Beckette dissera-lhe que não era partidário da violência e só a ela recorria pela necessidade. Por outro lado, gostava de viver e deixar viver. Não queria arruinar ninguém. Stuart ocupava o seu posto, esperando que tudo se desenrolasse sem complicações.
New Richmond estava crescendo. Descobriu-se ouro nas colinas. Tudo isto atraía à cidade homens decididos e sem escrúpulos. Mas ainda não tinha havido as violências que havia em Dodge City ou em Virgínia City e, depois, segundo diziam, o xerife Winton era um homem perigoso e tinham-lhe muito respeito.
Beckette acercou-se do rapaz e perguntou-lhe sorrindo:
— Tudo vai bem, Kleber?
— Por agora, não há novidade.

— Ainda bem, ainda bem — respondeu Beckette. — Peça que quiser e aí estão as raparigas, se quiser dançar.
Várias se lhe dirigiram, num amável sorriso. Stuart encolheu os ombros.
—De acordo. Sempre gostei de misturar a obrigação com devoção.
Beckette afastou-se dali e quando já tinham passado alguns segundos a porta abriu-se para deixar passar três homens mal-encarados, com os revólveres muito baixos. Detiveram-se um instante junto ao balcão, contemplando a multidão. Um deles sustinha entre os dentes um cigarro apagado, o segundo tinha uma espessa barba e o terceiro mastigava tabaco.
Stuart examinou-os e de repente pôs-se de pé, assegurando-se de que tinha os revólveres à mão. Um dos três homens viu-o de improviso e fez sinal aos companheiros. O da barba sorriu, mostrando os sujos dentes e logo exclamou:
— Viva, Kleber, não esperava ver-te por aqui.
— O que são as coisas!... — Respondeu o jovem. — Precisamente estou aqui.
O outro disse então:
— É que há um ano que te procuramos. Já sabes o motivo.
A multidão ia-se juntando e as conversas cessavam. Mas, pouco depois, afastavam-se, com receio de apanharem alguma bala. Ninguém duvidava do duelo e Stuart não se iludia.
Kleber sorriu.
— Se tanto empenho tinhas, podias tê-lo dito. Já sabes que não falto à festa.
O homem da barba interrompeu:
— Mas agora, que estamos aqui, não vamos discutir mais. Sabes que tens uma dívida pendente connosco?
Com estudada indiferença, Stuart indagou:
— Que dívida é essa?
O homem da barba acrescentou:
— Mataste o meu irmão.
Kleber moveu a cabeça.
— Referes-te a Sten? Era um bandido e dei-lhe uma oportunidade de defender-se. Em todos os territórios da fronteira o nome de Sten Warwick estava propagado. Havia ordem de caçá-lo, sem contemplações. Eu não fiz mais de que o desafiar. Tinha oportunidade de se salvar, mas teve pouca sorte, morreu. Não creio que haja muita gente que o chore.
O homem do cigarro e o outro que mascava tabaco foram-se afastando ligeiramente do companheiro, sem aproximar a mão do revólver, mas dispostos a iniciar o ataque quando fosse preciso. Warwick exclamou então:
—Creio que já falámos demais! Vamos concluir de uma vez.
Os quatro homens ficaram imóveis, com o corpo em tensão e os músculos dispostos ao ataque. As suas mãos acercavam-se com cuidado dos revólveres. De repente, o do cigarro empunhou o revólver. Mas não teve tempo de o empregar. Ante a surpresa de todos, Stuart fez fogo com grande rapidez, derrubando-o com um balázio no peito. Mas, naquele momento, os companheiros empunharam rapidamente os revólveres.
Parecia impossível que o jovem lograsse defender-se ataque dos dois adversários, e Beckette, que contemplava cena, pensava na quantia que devia oferecer àqueles homens para que ocupassem o lugar do cavaleiro.
Os dois companheiros encontravam-se separados e os seus revólveres cobriam Kleber. Mas este cruzou os seus revólveres disparando primeiro sobre o da barba e depois sobre o outro quase instantaneamente. Os dois corpos cambalearam por momentos, enquanto mãos premiam os gatilhos. Mas os projéteis perderam-se no cravando-se na parede.
Stuart contemplou-os por instantes, estendidos no solo sobre o seu próprio sangue e apertando ainda os revólveres com a mão crispada. Levantou os revólveres e soprou para o cano, enfundando-os em seguida. Depois, ordenou aos criados:
— Bem, recolham isto.
Apressaram-se a obedecer. Entretanto, o jovem voltou-se para os músicos:
— Siga a música e que se divirtam todos.
Aqui não se passou nada. A orquestra atacou umas polkas para que os vaqueiros voltassem a dançar; as mesas de jogo voltaram a animar-se com os jogadores, mas ainda que reinando a diversão, todos se achavam pendentes do que acabara de suceder. Discutiam sobre a luta e a habilidade do cavaleiro com as armas na mão. Nunca ninguém vira tal perícia.
Beckette sorriu, esfregando as mãos. Não havia a menor dúvida de que tinha feito uma boa inversão. Stuart Kleber não só seria útil em caso de luta, como constituía uma atração para os clientes. Um local onde se encontrasse um pistoleiro de fama, onde um homem de extraordinária habilidade estivesse certas horas ao dia, era sempre um centro de reunião para os curiosos.

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