(Coleção Colorado, nº 68)
terça-feira, 31 de maio de 2016
segunda-feira, 30 de maio de 2016
domingo, 29 de maio de 2016
sábado, 28 de maio de 2016
sexta-feira, 27 de maio de 2016
quinta-feira, 26 de maio de 2016
quarta-feira, 25 de maio de 2016
terça-feira, 24 de maio de 2016
segunda-feira, 23 de maio de 2016
KNS060. Uma luz nas trevas
(Coleção Kansas, nº 60)
Este livro da coleção Kansas já tinha sido editado na Coleção Búfalo com o mesmo título. Eis as nossas palavras, nessa altura:
Desta vez, é a história de um médico que também sabia disparar e vivia sob o desgosto de a sua amada se ter comprometido, na sua ausência, com o amigo que o ajudara a custear a formação.
Mas quis o destino que a jovem, bela e arrogante, que tanto dano lhe causara no coração, fosse assediada pelo imbecil, mais endinheirado, tosco e prepotente da povoação e acabasse por lhe dar um tiro, enviando-o deste mundo.
A defesa da jovem, comprometida por um xerife e um juiz corruptos que dependiam do pai do imbecil, acabou por se transformar em formidável ação para a sua libertação e contribuiu para um final imprevisto…
Passagens selecionadas:
PAS111. A missão do médico
PAS112. Uma missão sublime
PAS113. A hora da partida
PAS114. Médicos idiotas
PAS115. Uma esmolinha para «Sansão»
PAS116. Um patíbulo para Vivian
PAS117. Uma luz nas trevas
domingo, 22 de maio de 2016
PAS630. Companhia indesejada
Naquela manhã «Lucky» passeava na companhia de Tes. Era perto do meio-dia e faziam horas para o almoço. O céu estava enevoado e soprava urna brisa agradável.
O jovem pestanejou; acabava de ver Nelly. A rapariga saía de uma loja e dirigia-se para uma carruagem. Daquela vez não viera à cidade na égua. As compras deviam ser mais importantes.
Depressa se aproximou dela Rudell Liston. «Lucky» franziu o sobrolho desgostoso. Ver o seu inimigo aproximar-se da jovem causava-lhe um efeito indescritível. E, contudo, não podia ir ao seu encontro para o evitar, devendo conter-se. Dois motivos o impediam: o primeiro, por ser a atitude do pistoleiro correta; o segundo para não estragar o desenvolvimento do seu plano.
Agora apresentava-se-lhe a oportunidade de tirar a desejada desforra. Podia demonstrar aos rancheiros da região a pérfida finalidade daqueles miseráveis, não demorando a ficarem arruinados. Seriam obrigados a vender os ranchos por uma quantia muito inferior ao seu verdadeiro valor.
O único meio para o impedir era enfrentar-se abertamente com os pistoleiros de Rudell Liston, pois não poderiam recorrer ao xerife, que estava sob as ordens de Wade, coisa que não foi difícil descobrir. Bastou-lhe falar urnas poucas de vezes com o representante da lei.
— Que feliz encontro, Nelly! — exclamou Liston alvoroçado.
A rapariga olhou desgostosa para aquele homem. Era a primeira vez que se atrevia a tratá-la com tanta intimidade e, na aparência, estava muito seguro de si próprio.
— Como está, senhor Liston? — respondeu friamente.
Com efeito, Rudell Liston estava muito senhor de si. Julgava-se dono da situação. No dia seguinte, faria o primeiro aviso aos rancheiros, indicando-lhe a conveniência de cederem às suas exigências.
A presença da formosa rapariga cegava-o; desjava fazê-la sua quanto antes. A sua paixão era forte que até desejava fazê-la sua esposa.
— Muito bem, Nelly. Regressa ao rancho?
— Sim.
— Se me dá licença acompanho-a.
— Não é necessário que se incomode, senhor Liston.
— Não é incómodo algum. Não se apresentam muitas oportunidades para acompanhar uma rapariga bonita, e você é-o muito.
Nelly não pôde deixar de olhar a cicatriz. Esta ainda lhe parecia mais sinistra.
— Não gosto de ouvi-lo falar nesse tom.
— Por que não? — perguntou aproximando-se', insinuante.
Ela olhou-o enojada, mas agora estava assustada. Aquele homem mostrava-se demasiado atrevido; até então tratara-a cortesmente.
Fez um movimento para se aproximar da carruagem, procurando fugir dele. Ainda que sem o mostrar, Liston pôs-se em frente dela, impedindo-a de prosseguir.
— Faça o favor de me deixar passar.
— Porque o há-de fazer? Gosto de estar na sua companhia.
— Mas não pensou se eu gosto de estar a seu lado.
Rudell Liston soltou uma gargalhada brutal.
— Isso não tem importância. Habituar-se-á à minha presença. Chegará um dia em que só desejará ver-me a seu lado; até esta cicatriz lhe parecerá agradável. Realmente, não se nota muito. Não acha?
— Não gosto de o ouvir falar desse modo.
— Nelly, será minha esposa.
Foram pronunciadas tão bruscamente estas palavras, que a jovem ficou paralisada pelo espanto. Diante dela, Liston sorria triunfante.
— Sim, casar-se-á comigo.
Nelly reagiu, respondendo com veemência:
— Não continue a falar, senhor Liston. Caso contrário direi ao meu irmão.
Liston actuou com audácia, agarrando o braço da rapariga e puxando-a para si.
Nelly procurou libertar-se, sem o conseguir. Liston continuou a agarrá-la com força.
— Largue-me — ordenou a rapariga, furiosa.
— Não o farei, minha querida menina. — O pistoleiro sorria e parecia divertido. — E será melhor para si não dizer nada a seu irmão.
— Joel vai matá-lo por causa disto.
Liston soltou uma gargalhada. Tentou rodear a cintura da jovem com a outra mão. Não chegou a realizar o seu propósito, pois uma mão poderosa agarrou-o pelo pescoço, dando-lhe uma forte sacudidela, fazendo-o largar a presa.
Nelly afastou-se, olhando com admiração a alta e esbelta figura de «Lucky» Flowers. O jogador largou o inimigo e Liston, surpreendido, voltou-se para ele.
— Como se atreveu?... — perguntou, furioso.
— Ë uma acção feia abraçar uma mulher à força, Liston.
«Lucky» interrompeu-o com calma, corno se não) desse importância ao que estava a suceder. O rosto do pistoleiro estava lívido de cólera.
— Já o deixei espatifado uma vez — rugiu exasperado. — Agora dar-lhe-ei o que merece por ser intrometido.
— Não lhe será possível fazê-lo, Liston — replicou «Lucky» calmamente.
— Por que não?
As veias do pescoço do pistoleiro estavam inchadas; a sua cicatriz dava a impressão de chegar à boca. A atitude era ameaçadora, dando a sensação de se lançar de um instante para o outro sobre o jovem.
«Lucky» Flowers não se impressionou o mínimo. O seu olhar continuava fixo no pistoleiro.
— Desta vez nenhum dos seus homens me agarrará à traição e não o julgo capaz de me bater de homem para homem. Você é um cobarde, Rudell Liston.
Este não se pôde conter mais e lançou-se sobre o jogador, pronto a atingi-lo com a direita. Não chegou a lançar o golpe. «Lucky» foi mais rápido, alcançando o seu punho o queixo do inimigo. O golpe foi potente, seco e certeiro, produzindo um som forte. O efeito foi altamente espetacular. Liston abriu os braços, como se tivesse a certeza que a terra desaparecia, deu meia volta e estatelou-se de bruços no solo.
Ficou no meio do passeio, mexendo a cabeça, aturdido, sem ter forças para se levantar. A seu lado, «Lucky» olhava-o com desprezo. Não estava satisfeito por lhe ter batido de modo tão demolidor, pondo-o fora de combate com um só soco. Gostaria de o ter submetido a um rude castigo, obrigando-o a pagar mais caro a sua insolente conduta para com Nelly.
A rapariga apressou-se a agarrar-lhe o braço. «Lucky» deu a impressão de não notar, mas a sua impassibilidade ocultava a sua perturbação.
Numerosas pessoas contemplavam a cena com admiração. Uma vez mais «Lucky» Flowers acabava de demonstrar a sua galanteria. Tes achava-se próximo, pronto a intervir se o amigo fosse atacado à traição.
— Não devia ter intervido, «Lucky». — Nelly chamou-o pela alcunha sem o notar. — Liston pro-curará vingar-se de si.
-- Não se preocupe com isso. Sei defender-me, não receio esse pistoleiro.
— Liston é vingativo, não lhe perdoará ter-lhe batido.
— Regresse ao rancho, Nelly. Não diga nada a seu irmão, é preferível que não saiba o que se passou. Rudell Liston pode ser um inimigo perigoso para ele. Eu conheço o sistema para lutar contra homens da sua espécie.
Acompanhou-a à carruagem, ajudando-a a subir. Despediu-a com um cumprimento cortês, Nelly fez tenção de continuar a falar, mas «Lucky», com um gesto eloquente, fê-la calar, indicando-lhe a conveniência de se afastar.
Obedeceu. Sentia-se dominada por uma estranha sensação e, coisa incrível, estava muito contente., Se estivesse sozinha com «Lucky» não teria vacilado em beijá-lo, como prova de gratidão pela sua ajuda, e porque... o queria com toda a sua alma.
Puxou as rédeas e a carruagem afastou-se. Vai; tou a cabeça para ver pela última vez o seu providencial salvador, mas este voltara-se para o seu inimigo.
Liston pôs-se de joelhos. O seu olhar turvo, fixou-se no jogador, vendo-o à sua frente, com as pernas abertas. Apertou os lábios com força e a sua mão direita agarrou a culatra do «Colt». A voz, serena de «Lucky» obrigou-o a largá-la.
— Não faça disparates, Liston. Se puxa o revólver mato-o.
— Não me devia ter batido, «Lucky».
— Não se preocupe com isso; agora estamos em paz. Eu fiquei muito mais maltratado da outra vez em que nos enfrentámos, pois teve a cobardia de mandar um dos seus homens espetar-me uma faca nas costas,
O seu tom de voz era agora despreocupado, como se não desse a menor importância ao facto que tinha ocorrido.
Liston não respondeu, pondo-se de pé com dificuldade.
As pernas tremiam-lhe, ameaçando cederem ao peso do seu corpo. Abaixou-se e apanhou o chapéu, sacudindo-o para lhe tirar o pó.
Depois afastou-se lentamente.
O jovem pestanejou; acabava de ver Nelly. A rapariga saía de uma loja e dirigia-se para uma carruagem. Daquela vez não viera à cidade na égua. As compras deviam ser mais importantes.
Depressa se aproximou dela Rudell Liston. «Lucky» franziu o sobrolho desgostoso. Ver o seu inimigo aproximar-se da jovem causava-lhe um efeito indescritível. E, contudo, não podia ir ao seu encontro para o evitar, devendo conter-se. Dois motivos o impediam: o primeiro, por ser a atitude do pistoleiro correta; o segundo para não estragar o desenvolvimento do seu plano.
Agora apresentava-se-lhe a oportunidade de tirar a desejada desforra. Podia demonstrar aos rancheiros da região a pérfida finalidade daqueles miseráveis, não demorando a ficarem arruinados. Seriam obrigados a vender os ranchos por uma quantia muito inferior ao seu verdadeiro valor.
O único meio para o impedir era enfrentar-se abertamente com os pistoleiros de Rudell Liston, pois não poderiam recorrer ao xerife, que estava sob as ordens de Wade, coisa que não foi difícil descobrir. Bastou-lhe falar urnas poucas de vezes com o representante da lei.
— Que feliz encontro, Nelly! — exclamou Liston alvoroçado.
A rapariga olhou desgostosa para aquele homem. Era a primeira vez que se atrevia a tratá-la com tanta intimidade e, na aparência, estava muito seguro de si próprio.
— Como está, senhor Liston? — respondeu friamente.
Com efeito, Rudell Liston estava muito senhor de si. Julgava-se dono da situação. No dia seguinte, faria o primeiro aviso aos rancheiros, indicando-lhe a conveniência de cederem às suas exigências.
A presença da formosa rapariga cegava-o; desjava fazê-la sua quanto antes. A sua paixão era forte que até desejava fazê-la sua esposa.
— Muito bem, Nelly. Regressa ao rancho?
— Sim.
— Se me dá licença acompanho-a.
— Não é necessário que se incomode, senhor Liston.
— Não é incómodo algum. Não se apresentam muitas oportunidades para acompanhar uma rapariga bonita, e você é-o muito.
Nelly não pôde deixar de olhar a cicatriz. Esta ainda lhe parecia mais sinistra.
— Não gosto de ouvi-lo falar nesse tom.
— Por que não? — perguntou aproximando-se', insinuante.
Ela olhou-o enojada, mas agora estava assustada. Aquele homem mostrava-se demasiado atrevido; até então tratara-a cortesmente.
Fez um movimento para se aproximar da carruagem, procurando fugir dele. Ainda que sem o mostrar, Liston pôs-se em frente dela, impedindo-a de prosseguir.
— Faça o favor de me deixar passar.
— Porque o há-de fazer? Gosto de estar na sua companhia.
— Mas não pensou se eu gosto de estar a seu lado.
Rudell Liston soltou uma gargalhada brutal.
— Isso não tem importância. Habituar-se-á à minha presença. Chegará um dia em que só desejará ver-me a seu lado; até esta cicatriz lhe parecerá agradável. Realmente, não se nota muito. Não acha?
— Não gosto de o ouvir falar desse modo.
— Nelly, será minha esposa.
Foram pronunciadas tão bruscamente estas palavras, que a jovem ficou paralisada pelo espanto. Diante dela, Liston sorria triunfante.
— Sim, casar-se-á comigo.
Nelly reagiu, respondendo com veemência:
— Não continue a falar, senhor Liston. Caso contrário direi ao meu irmão.
Liston actuou com audácia, agarrando o braço da rapariga e puxando-a para si.
Nelly procurou libertar-se, sem o conseguir. Liston continuou a agarrá-la com força.
— Largue-me — ordenou a rapariga, furiosa.
— Não o farei, minha querida menina. — O pistoleiro sorria e parecia divertido. — E será melhor para si não dizer nada a seu irmão.
— Joel vai matá-lo por causa disto.
Liston soltou uma gargalhada. Tentou rodear a cintura da jovem com a outra mão. Não chegou a realizar o seu propósito, pois uma mão poderosa agarrou-o pelo pescoço, dando-lhe uma forte sacudidela, fazendo-o largar a presa.
Nelly afastou-se, olhando com admiração a alta e esbelta figura de «Lucky» Flowers. O jogador largou o inimigo e Liston, surpreendido, voltou-se para ele.
— Como se atreveu?... — perguntou, furioso.
— Ë uma acção feia abraçar uma mulher à força, Liston.
«Lucky» interrompeu-o com calma, corno se não) desse importância ao que estava a suceder. O rosto do pistoleiro estava lívido de cólera.
— Já o deixei espatifado uma vez — rugiu exasperado. — Agora dar-lhe-ei o que merece por ser intrometido.
— Não lhe será possível fazê-lo, Liston — replicou «Lucky» calmamente.
— Por que não?
As veias do pescoço do pistoleiro estavam inchadas; a sua cicatriz dava a impressão de chegar à boca. A atitude era ameaçadora, dando a sensação de se lançar de um instante para o outro sobre o jovem.
«Lucky» Flowers não se impressionou o mínimo. O seu olhar continuava fixo no pistoleiro.
— Desta vez nenhum dos seus homens me agarrará à traição e não o julgo capaz de me bater de homem para homem. Você é um cobarde, Rudell Liston.
Este não se pôde conter mais e lançou-se sobre o jogador, pronto a atingi-lo com a direita. Não chegou a lançar o golpe. «Lucky» foi mais rápido, alcançando o seu punho o queixo do inimigo. O golpe foi potente, seco e certeiro, produzindo um som forte. O efeito foi altamente espetacular. Liston abriu os braços, como se tivesse a certeza que a terra desaparecia, deu meia volta e estatelou-se de bruços no solo.
Ficou no meio do passeio, mexendo a cabeça, aturdido, sem ter forças para se levantar. A seu lado, «Lucky» olhava-o com desprezo. Não estava satisfeito por lhe ter batido de modo tão demolidor, pondo-o fora de combate com um só soco. Gostaria de o ter submetido a um rude castigo, obrigando-o a pagar mais caro a sua insolente conduta para com Nelly.
A rapariga apressou-se a agarrar-lhe o braço. «Lucky» deu a impressão de não notar, mas a sua impassibilidade ocultava a sua perturbação.
Numerosas pessoas contemplavam a cena com admiração. Uma vez mais «Lucky» Flowers acabava de demonstrar a sua galanteria. Tes achava-se próximo, pronto a intervir se o amigo fosse atacado à traição.
— Não devia ter intervido, «Lucky». — Nelly chamou-o pela alcunha sem o notar. — Liston pro-curará vingar-se de si.
-- Não se preocupe com isso. Sei defender-me, não receio esse pistoleiro.
— Liston é vingativo, não lhe perdoará ter-lhe batido.
— Regresse ao rancho, Nelly. Não diga nada a seu irmão, é preferível que não saiba o que se passou. Rudell Liston pode ser um inimigo perigoso para ele. Eu conheço o sistema para lutar contra homens da sua espécie.
Acompanhou-a à carruagem, ajudando-a a subir. Despediu-a com um cumprimento cortês, Nelly fez tenção de continuar a falar, mas «Lucky», com um gesto eloquente, fê-la calar, indicando-lhe a conveniência de se afastar.
Obedeceu. Sentia-se dominada por uma estranha sensação e, coisa incrível, estava muito contente., Se estivesse sozinha com «Lucky» não teria vacilado em beijá-lo, como prova de gratidão pela sua ajuda, e porque... o queria com toda a sua alma.
Puxou as rédeas e a carruagem afastou-se. Vai; tou a cabeça para ver pela última vez o seu providencial salvador, mas este voltara-se para o seu inimigo.
Liston pôs-se de joelhos. O seu olhar turvo, fixou-se no jogador, vendo-o à sua frente, com as pernas abertas. Apertou os lábios com força e a sua mão direita agarrou a culatra do «Colt». A voz, serena de «Lucky» obrigou-o a largá-la.
— Não faça disparates, Liston. Se puxa o revólver mato-o.
— Não me devia ter batido, «Lucky».
— Não se preocupe com isso; agora estamos em paz. Eu fiquei muito mais maltratado da outra vez em que nos enfrentámos, pois teve a cobardia de mandar um dos seus homens espetar-me uma faca nas costas,
O seu tom de voz era agora despreocupado, como se não desse a menor importância ao facto que tinha ocorrido.
Liston não respondeu, pondo-se de pé com dificuldade.
As pernas tremiam-lhe, ameaçando cederem ao peso do seu corpo. Abaixou-se e apanhou o chapéu, sacudindo-o para lhe tirar o pó.
Depois afastou-se lentamente.
sábado, 21 de maio de 2016
PAS629. A desagradável ameaça da forca
Rudell Liston, pistoleiro convertido em negociante de gado, já estava muito perto de Brigh Town. Os seus olhos fixaram-se nas primeiras casas. Eram de tijolo pintadas de cal. Depois havia casas de madeira, até de dois pisos e depois grandes edifícios de pedra, algumas delas de aspeto luxuoso.
Sim, Brigh Town era já uma cidade, uma das maiores do Colorado. E ele tornar-se-ia o dono de tudo aquilo. Os seus habitantes seriam obrigados a respeitá-lo.
Os fundadores da povoação deviam ter-lhe posto aquele nome devido à brilhante luminosidade que os raios do sol produziam ao incidir nas próximas e lisas montanhas. A dura e firme rocha parecia devolver a luz com mais força.
Rudell Liston andou sempre de um lado para o outro rodeado de pistoleiros. Não cessavam de cometer façanhas, ainda que tendo o máximo cuidado para não serem descobertos. Deste modo o seu nome não estaria à margem da lei, única maneira de sobreviver.
Era suficientemente inteligente para compreender que um homem cuja cabeça estivesse a prémio, ainda que fosse numa só província, tarde ou cedo, seria capturado. Se isto acontecesse, a sentença do juiz apenas seria uma: ser pendurado numa árvore. Isto causava-lhe um vivo terror. Não desejava ver-se neste transe. Numa ocasião viu como enforcavam um foragido. Nunca esqueceria a expressão daquele homem, a maneira de estrebuchar ao 'ser suspenso no ar. Parecia estar ainda a ver como o rosto se desfigurava, até ficar contraído numa expressão grotesca. Depois viu enforcar outros bandidos, recebendo sempre a mesma impressão, Isto fazia-lhe tomar a aparência de homem honrado. Não lhe importava empunhar um revólver e disparar a matar; era permitido naqueles estados e territórios do Oeste.
Talvez a maior infâmia, cometida publicamente por ele, fosse a tragédia de Dargton. Excedeu-se demasiado, mas fê-lo por ter perdida a calma. Aquele' maldito «Lucky» Flowers tirou-lhe o juízo ao bater-lhe. Tudo à sua frente se tornou vermelho, desejando antes de tudo a morte do jogador, não vacilando em o ordenar a Long.
Por aquilo a sua cabeça não seria posta a prémio: Tratava-se apenas da morte de um homem ao lutar contra vários, Contentava-se com não passar por aquela parte de Kansas. Não lhe interessava; nos, arredores de Dargton não existia nenhuma povoação de importância. Já não se lembrava de «Luck Flowers», tendo a certeza de que fora enterrado no cemitério de Dargton.
Sim, Brigh Town era já uma cidade, uma das maiores do Colorado. E ele tornar-se-ia o dono de tudo aquilo. Os seus habitantes seriam obrigados a respeitá-lo.
Os fundadores da povoação deviam ter-lhe posto aquele nome devido à brilhante luminosidade que os raios do sol produziam ao incidir nas próximas e lisas montanhas. A dura e firme rocha parecia devolver a luz com mais força.
Rudell Liston andou sempre de um lado para o outro rodeado de pistoleiros. Não cessavam de cometer façanhas, ainda que tendo o máximo cuidado para não serem descobertos. Deste modo o seu nome não estaria à margem da lei, única maneira de sobreviver.
Era suficientemente inteligente para compreender que um homem cuja cabeça estivesse a prémio, ainda que fosse numa só província, tarde ou cedo, seria capturado. Se isto acontecesse, a sentença do juiz apenas seria uma: ser pendurado numa árvore. Isto causava-lhe um vivo terror. Não desejava ver-se neste transe. Numa ocasião viu como enforcavam um foragido. Nunca esqueceria a expressão daquele homem, a maneira de estrebuchar ao 'ser suspenso no ar. Parecia estar ainda a ver como o rosto se desfigurava, até ficar contraído numa expressão grotesca. Depois viu enforcar outros bandidos, recebendo sempre a mesma impressão, Isto fazia-lhe tomar a aparência de homem honrado. Não lhe importava empunhar um revólver e disparar a matar; era permitido naqueles estados e territórios do Oeste.
Talvez a maior infâmia, cometida publicamente por ele, fosse a tragédia de Dargton. Excedeu-se demasiado, mas fê-lo por ter perdida a calma. Aquele' maldito «Lucky» Flowers tirou-lhe o juízo ao bater-lhe. Tudo à sua frente se tornou vermelho, desejando antes de tudo a morte do jogador, não vacilando em o ordenar a Long.
Por aquilo a sua cabeça não seria posta a prémio: Tratava-se apenas da morte de um homem ao lutar contra vários, Contentava-se com não passar por aquela parte de Kansas. Não lhe interessava; nos, arredores de Dargton não existia nenhuma povoação de importância. Já não se lembrava de «Luck Flowers», tendo a certeza de que fora enterrado no cemitério de Dargton.
sexta-feira, 20 de maio de 2016
KNS069. "Lucky Flowers"
(Coleção Kansas, nº 69)
Lucky Flowers era a alcunha de alguém com muita sorte ao jogo. Ele era bom jogador sem ser batoteiro. Era também excelente atirador sem ser pistoleiro. Podia dizer-se portanto que era uma boa pessoa que frequentava maus ambientes. Uma noite, numa partida de cartas enfrentou-se com Rudell Liston, um pistoleiro asqueroso de cicatriz na cara. Foi ganhando, mas Liston não aceitou o resultado do jogo. Lucky Flowers foi selvaticamente agredido, despojado do dinheiro que levava consigo e, no final, um lacaio do pistoleiro esfaqueou-o pensando tê-lo liquidado. Mas Lucky também era um sortudo nestas questões. Recuperou e partiu à procura dos seus agressores. Encontrou-os e encontrou também a bela Nelly.
Orland Garr escreveu, com rara maestria, esta novela que aqui disponibilizamos. Leia
quinta-feira, 19 de maio de 2016
quarta-feira, 18 de maio de 2016
terça-feira, 17 de maio de 2016
segunda-feira, 16 de maio de 2016
domingo, 15 de maio de 2016
sábado, 14 de maio de 2016
sexta-feira, 13 de maio de 2016
quinta-feira, 12 de maio de 2016
quarta-feira, 11 de maio de 2016
PAS628. Ódio sob o pó das recordações
— A culpa deste ódio! Todos o sabem! — comentou Red Haley, pausadamente —. Nem sequer posso culpar Ray de ter-me levado de casa. Fui com ele porque o admirava. Ray costumava refugiar-se, de vez em quando, na cabana que minha mãe e eu tínhamos nas cercanias de uma povoação. Quando decidi partir com ele, arranquei-lhe a promessa de que nunca voltaríamos ali. A fazê-lo, iria eu sozinho, para evitar que a minha mãe e os meus conterrâneos me vissem misturado com a sua gente. Era essa a contradição que torturava o meu espírito de rapaz. Admirava a vida de Ray, e, ao mesmo tempo, envergonhava-me dela...
Outro silêncio. Tossiu, como se o pó das recordações removidas lhe tivesse penetrado na garganta. Parecia que não ia continuar. E já Mady, presa àquelas considerações, se dispunha a pedir-lhe que prosseguisse, quando Red fez, de novo, ouvir as suas palavras frias.
— Uma vez, Ray e eu livrámos um homem de um grave apuro. Uns vaqueiros tinham-no surpreendido a cortar uma vedação, e ele debatia-se desesperadamente para escapar das mãos deles. Mas eram muitos a atacá-lo, e estava bem à vista como a cena ia acabar. «Ali temos um tipo em maus lençóis — disse Ray —. Sinto uma predileção especial por recrutar gente desta!». Foi a primeira vez que o vi salvar um condenado à morte. Depois, fê-lo muitas outras vezes. Julgava que, assim, assegurava nos seus homens uma fidelidade de cão.
— Esse primeiro condenado que viste... era o meu irmão? — inquiriu Mady, visivelmente comovida.
— Não importa quem era!
— Não receies ferir-me. Ele próprio mo confessou ontem à noite. É daí que parte tudo. William nunca quis esquecer o que devia a ti e a Ray. E foi por isso que, quando um dia, se foi refugiar com Ray numa cabana, e ouviu dos lábios de uma pobre velha as verdades mais amargas, sentiu, pela primeira vez, o peso dessa dívida. Ray, enfurecido, esbofeteou a mulher, e William, desesperado, nada mais pôde fazer que puxar Ray e levá-lo dali. A velha foi até à porta e, com os olhos inundados de lágrimas, dirigiu-lhes palavras ásperas e amaldiçoou-os. Muita gente os observara, mas ninguém se atreveu a intervir. William e Ray montaram a cavalo e fugiram.
Fez-se novo silêncio. Red cofiava com os dedos as crinas do cavalo.
— Eu sei isso tudo — disse Hailey, serenamente — Quando estive na povoação, havia já seis meses que a «velha» tinha morrido. Mas o olhar com que todos os meus conterrâneos me acolheram foi talvez mais expressivo do que o que a «velha» me poderia ter dito. Nessa altura, eu ainda admirava Ray. Limitei-me a perguntar-lhe por que não havia cumprido a sua promessa de não ir a casa de minha mãe. Respondeu-me que fora ideia de William. Acabavam de ter um encontro com os representantes da lei, e Ray estava gravemente ferido. Foi nessa altura que perdeu a mão. William lembrara-se de se esconder ali, porque pensava que a «velha», devido ao parentesco que a ligava a mim, era a única pessoa em quem podiam confiar. Ray afirmou-me que estava meio desfalecido, e que tudo se passara quase sem ele se aperceber...
— E tu acreditaste sempre nele! — interrompeu Moly, secamente, com uma atitude quase agressiva.
— Eu nunca acreditei em nada! Ter-me-ia, sido fácil matar Ray. Tanto mais que só podia servir-se da mão esquerda. Mas decidi esperar. Verifiquei que ele alimentava contra teu irmão um fervoroso ódio, que havia de persegui-lo incansavelmente. Mas o teu irmão desaparecia como o fumo. Ninguém conseguia pôr-lhe vista em cima...
— Fugia, porque tinha a sua dívida para com Ray. E também para contigo, porque te julgava ligado a ele. William contou-me que, quando fugiram da povoação, logo que se encontraram num local solitário, pararam os cavalos. Conservaram-se calados, por uns momentos. Foi Ray quem falou primeiro: «William, podes dizer a Red que eu castiguei a sua mãe, por se intrometer na minha vida e na dele». O meu irmão limitou-se a responder: «Nada direi a Red. Se algum dia ele te procurar para te procurar para te matar, será por sua conta!». Durante algum, William pensou que se produzisse em ti a mesma mudança que se produzira nele. Depois, acabou por pensar que já não tinhas emenda.
— Como vês, parece que se enganou — replicou Red, com ironia —. O governador não hesitou em conceder-me o título de bom cidadão. Não creio que William o tenha conseguido, com os seus cinco anos a lavrar terras...
Agora era Mady quem parecia não ter pressa.
— Nunca te preocupaste em pensar porque Ray odeia o meu irmão desta maneira?
— Não é difícil encontrar o motivo. Foi William quem abriu o caminho aos desertores.
— Não disfarces, Red! Tu sabes o verdadeiro motivo. Pudeste averiguar que Ray te mentiu quando disse que William o levou para tua casa meio desfalecido. Ray não estava ferido!
— Bem… E depois? — inquiriu Red num tom quase indiferente.
— William prometeu não te dizer nada. Mas alguma coisa se passou quando ele interferiu em defesa da tua mãe. Ao ver a atitude brutal de Ray, ameaçou-o com o revólver. Ray não hesitou um segundo e puxou a sua arma. Mas não chegou a disparar. Nunca mais tornaria a disparar com essa mão…
E, depois de breve pausa, acrescentou:
— A mão que agrediu a tua mãe…
Outro silêncio. Tossiu, como se o pó das recordações removidas lhe tivesse penetrado na garganta. Parecia que não ia continuar. E já Mady, presa àquelas considerações, se dispunha a pedir-lhe que prosseguisse, quando Red fez, de novo, ouvir as suas palavras frias.
— Uma vez, Ray e eu livrámos um homem de um grave apuro. Uns vaqueiros tinham-no surpreendido a cortar uma vedação, e ele debatia-se desesperadamente para escapar das mãos deles. Mas eram muitos a atacá-lo, e estava bem à vista como a cena ia acabar. «Ali temos um tipo em maus lençóis — disse Ray —. Sinto uma predileção especial por recrutar gente desta!». Foi a primeira vez que o vi salvar um condenado à morte. Depois, fê-lo muitas outras vezes. Julgava que, assim, assegurava nos seus homens uma fidelidade de cão.
— Esse primeiro condenado que viste... era o meu irmão? — inquiriu Mady, visivelmente comovida.
— Não importa quem era!
— Não receies ferir-me. Ele próprio mo confessou ontem à noite. É daí que parte tudo. William nunca quis esquecer o que devia a ti e a Ray. E foi por isso que, quando um dia, se foi refugiar com Ray numa cabana, e ouviu dos lábios de uma pobre velha as verdades mais amargas, sentiu, pela primeira vez, o peso dessa dívida. Ray, enfurecido, esbofeteou a mulher, e William, desesperado, nada mais pôde fazer que puxar Ray e levá-lo dali. A velha foi até à porta e, com os olhos inundados de lágrimas, dirigiu-lhes palavras ásperas e amaldiçoou-os. Muita gente os observara, mas ninguém se atreveu a intervir. William e Ray montaram a cavalo e fugiram.
Fez-se novo silêncio. Red cofiava com os dedos as crinas do cavalo.
— Eu sei isso tudo — disse Hailey, serenamente — Quando estive na povoação, havia já seis meses que a «velha» tinha morrido. Mas o olhar com que todos os meus conterrâneos me acolheram foi talvez mais expressivo do que o que a «velha» me poderia ter dito. Nessa altura, eu ainda admirava Ray. Limitei-me a perguntar-lhe por que não havia cumprido a sua promessa de não ir a casa de minha mãe. Respondeu-me que fora ideia de William. Acabavam de ter um encontro com os representantes da lei, e Ray estava gravemente ferido. Foi nessa altura que perdeu a mão. William lembrara-se de se esconder ali, porque pensava que a «velha», devido ao parentesco que a ligava a mim, era a única pessoa em quem podiam confiar. Ray afirmou-me que estava meio desfalecido, e que tudo se passara quase sem ele se aperceber...
— E tu acreditaste sempre nele! — interrompeu Moly, secamente, com uma atitude quase agressiva.
— Eu nunca acreditei em nada! Ter-me-ia, sido fácil matar Ray. Tanto mais que só podia servir-se da mão esquerda. Mas decidi esperar. Verifiquei que ele alimentava contra teu irmão um fervoroso ódio, que havia de persegui-lo incansavelmente. Mas o teu irmão desaparecia como o fumo. Ninguém conseguia pôr-lhe vista em cima...
— Fugia, porque tinha a sua dívida para com Ray. E também para contigo, porque te julgava ligado a ele. William contou-me que, quando fugiram da povoação, logo que se encontraram num local solitário, pararam os cavalos. Conservaram-se calados, por uns momentos. Foi Ray quem falou primeiro: «William, podes dizer a Red que eu castiguei a sua mãe, por se intrometer na minha vida e na dele». O meu irmão limitou-se a responder: «Nada direi a Red. Se algum dia ele te procurar para te procurar para te matar, será por sua conta!». Durante algum, William pensou que se produzisse em ti a mesma mudança que se produzira nele. Depois, acabou por pensar que já não tinhas emenda.
— Como vês, parece que se enganou — replicou Red, com ironia —. O governador não hesitou em conceder-me o título de bom cidadão. Não creio que William o tenha conseguido, com os seus cinco anos a lavrar terras...
Agora era Mady quem parecia não ter pressa.
— Nunca te preocupaste em pensar porque Ray odeia o meu irmão desta maneira?
— Não é difícil encontrar o motivo. Foi William quem abriu o caminho aos desertores.
— Não disfarces, Red! Tu sabes o verdadeiro motivo. Pudeste averiguar que Ray te mentiu quando disse que William o levou para tua casa meio desfalecido. Ray não estava ferido!
— Bem… E depois? — inquiriu Red num tom quase indiferente.
— William prometeu não te dizer nada. Mas alguma coisa se passou quando ele interferiu em defesa da tua mãe. Ao ver a atitude brutal de Ray, ameaçou-o com o revólver. Ray não hesitou um segundo e puxou a sua arma. Mas não chegou a disparar. Nunca mais tornaria a disparar com essa mão…
E, depois de breve pausa, acrescentou:
— A mão que agrediu a tua mãe…
terça-feira, 10 de maio de 2016
BIS036.1 Sob o signo do ódio
«Sob o signo do ódio» é uma trama complexa acerca do relacionamento entre três homens, William, Red e Ray que tinham tido um percurso comum, no passado, no campo do crime. William escapou-se e tentou iniciar nova vida num local em que ninguém o conhecesse, mas um dia um estranho aviso soou à porta de sua casa e, com a esposa à espera de um filho, teve de se preparar para enfrentar o passado. Este concretizou-se no aparecimento dos outros companheiros embora em campos opostos.
Vamos deixar uma passagem deste livro para se compreender a razão do ódio que ligava aqueles três homens. Eis um livro do senhor Rolcest um pouco menos aborrecido que outros por que passámos.
segunda-feira, 9 de maio de 2016
PAS627. O drama de uma vida
Mirtha, desconfiada, olhou bem Hatter a ver se descobria no seu rosto, qualquer indício de que Ronald o tivesse mandado ali. Mas o ar bonacheirão, Inocente e simpático, do velho gordo, fez que se dissipassem aquelas nuvens duvidosas.
— Foi precisamente há uma semana que ele aqui esteve a falar comigo e... a nossa conversa não foi das mais agradáveis.
— Que me diz? — perguntou agora o secretário, como se o espantasse muito aquela declaração.
— Falámos muito duramente um ao outro.
— Oh! Aquele homem é doido! Então ele descompõe a senhora sem mais nem menos? Às vezes chego a pensar que ele já não tem salvação possível. Pobre senhor Bradley! Tem a vida arruinada.
Mirtha dominou a custo a sua imensa curiosidade por saber qual o drama que envolvia a vida de Ronald.
Depois de hesitar um pouco, resolveu perguntar:
— Mas... o que é que lhe sucedeu?
— Sofreu muito, muito!
— Refere-se a essa tragédia íntima que mencionou há pouco?
— O quê? Mas eu falei-lhe disso?
— Sim... falou...
— Sou um papagaio incorrigível. Mas... não faz mal. A senhora é merecedora de toda a espécie de confidências. Visto que o seu pai e o do meu chefe foram muito amigos e que o senhor Bradley lhe tem especial amizade, talvez a senhora queira ajudar-me a afastá-lo do caminho que o conduz à morte.
— Ajudá-lo?
— Por que não? Merece-o bem! Pois vou cantar-lhe a história em poucas palavras.
Bebeu devagar o resto da cerveja, aumentando assim o interesse da jovem rancheira.
— Desde muito novo que o senhor Bradley tinha um amigo a quem queria como a um irmão. Chamava-se George Borah. Juntos sofreram muitas privações e juntos gozaram algumas alegrias. Separaram-se um dia e cada qual seguiu seu rumo. Mais tarde voltaram a encontrar-se e George já havia casado. Margery, a mulher deste, era uma das mais belas mulheres que vi até hoje. O senhor Bradley, infelizmente, enamorou-se dela.
Parou para acender um cigarro. Mirtha quase não respirava.
— Quando o meu chefe descobriu que a amava perdidamente era já tarde. Apesar de tudo, o seu cavalheirismo, o seu carinho pelo amigo, a sua nobreza de carácter, foram barreiras fortes e poderosas contra tão desgraçada paixão. Ronald preferia morrer a trair o seu melhor amigo. Nunca disse a Margery o que sentia nem lho mostrou jamais. George, porém, descobriu o inferno em que a ardia a alma e o coração do seu companheiro.
Voltou a calar-se. A jovem, sem se poder conter mais, disse-lhe:
— Continue, por favor.
— Interessa-lhe?
— Claro!
— Bem... Certa noite aziaga, Borah, ciumento até à loucura, acusou o senhor Bradley de traidor, insultando-o e querendo, até, matá-lo. Meu amo obrigou-o a largar a arma e, para não mentir ao melhor amigo da sua vida, disse: «Não nego que estou apaixonado por Margery, mas ela ignora-o e eu, porque te quero como irmão e porque a considero muito digna e honesta, nunca ousaria trair-te. A tua mulher é para mim sagrada». George deixou-o, mas a sua alma ardia de ciúme e de loucura. Horas mais tarde assassinava a esposa inocente.
— Oh!
— A Justiça foi inflexível. Condenou-o a morrer na forca e a sentença cumpriu-se.
Novo silêncio. A rapariga estava emocionada e não sabia que dizer. Danny tinha os olhos húmidos e a voz tremia-lhe. Naqueles momentos não representava; ao recordar tão angustiosos acontecimentos, o secretário de Ronald comovia-se profundamente e as lágrimas atropelavam-se-lhe na garganta. Acrescentou, procurando acalmar-se:
— Receei que o senhor Bradley perdesse a razão. Os que o estimavam em vão lhe diziam que o culpado não fora ele. Mas considerava-se responsável pela tragédia e não se resignava por ter perdido um amigo tão querido e a mulher tão nobremente amada. Queria esquecer e para isso lançou-se nas empresas mais arriscadas, sem dúvida, na esperança de encontrar depressa a morte. Mas a «dama negra» não quis nada com ele e sempre o salvou. Poucos homens terão corrido tantos perigos saindo ileso de todos eles. O tempo foi passando e a chaga aberta no coração do senhor Bradley já não está a sangrar. O mundo, porém, não tem encantos para ele e só procura a aventura e o perigo como um meio de distração para a sua alma vazia. As grandes riquezas que possui, as suas relações com as personalidades mais destacadas do país são, para ele, uma carga difícil de suportar. Enfim... esta é a história crua que eu queria contar-lhe e espero que com, ela a senhora modifique bastante a sua opinião acerca do senhor Bradley. Em meio das suas loucuras, o meu chefe tem semeado o bem às mãos cheias.
Mirtha estava profundamente emocionada e a sua dureza habitual desaparecera para dar lugar a uma doçura triste que a tornava mais bela!
— Como é que o senhor Bradley se lembrou de voltar aqui? — decidiu perguntar.
— Soube que o irmão não seguia raminho muito reto quis ser-lhe útil. Anda a enfrentar a morte, mas por mais que se lhe diga, não há meio de se convencer a sair daqui.
Mudou de tom enquanto se erguia da ladeira onde estivera sentado.
— E agora é que me vou embora. Já é muito tarde.
— Volte sempre que lhe aprouver.
— Obrigado. Aceito o seu oferecimento. Significará para mim um motivo de desabafo.
Hatter despediu-se e saiu finalmente.
— Foi precisamente há uma semana que ele aqui esteve a falar comigo e... a nossa conversa não foi das mais agradáveis.
— Que me diz? — perguntou agora o secretário, como se o espantasse muito aquela declaração.
— Falámos muito duramente um ao outro.
— Oh! Aquele homem é doido! Então ele descompõe a senhora sem mais nem menos? Às vezes chego a pensar que ele já não tem salvação possível. Pobre senhor Bradley! Tem a vida arruinada.
Mirtha dominou a custo a sua imensa curiosidade por saber qual o drama que envolvia a vida de Ronald.
Depois de hesitar um pouco, resolveu perguntar:
— Mas... o que é que lhe sucedeu?
— Sofreu muito, muito!
— Refere-se a essa tragédia íntima que mencionou há pouco?
— O quê? Mas eu falei-lhe disso?
— Sim... falou...
— Sou um papagaio incorrigível. Mas... não faz mal. A senhora é merecedora de toda a espécie de confidências. Visto que o seu pai e o do meu chefe foram muito amigos e que o senhor Bradley lhe tem especial amizade, talvez a senhora queira ajudar-me a afastá-lo do caminho que o conduz à morte.
— Ajudá-lo?
— Por que não? Merece-o bem! Pois vou cantar-lhe a história em poucas palavras.
Bebeu devagar o resto da cerveja, aumentando assim o interesse da jovem rancheira.
— Desde muito novo que o senhor Bradley tinha um amigo a quem queria como a um irmão. Chamava-se George Borah. Juntos sofreram muitas privações e juntos gozaram algumas alegrias. Separaram-se um dia e cada qual seguiu seu rumo. Mais tarde voltaram a encontrar-se e George já havia casado. Margery, a mulher deste, era uma das mais belas mulheres que vi até hoje. O senhor Bradley, infelizmente, enamorou-se dela.
Parou para acender um cigarro. Mirtha quase não respirava.
— Quando o meu chefe descobriu que a amava perdidamente era já tarde. Apesar de tudo, o seu cavalheirismo, o seu carinho pelo amigo, a sua nobreza de carácter, foram barreiras fortes e poderosas contra tão desgraçada paixão. Ronald preferia morrer a trair o seu melhor amigo. Nunca disse a Margery o que sentia nem lho mostrou jamais. George, porém, descobriu o inferno em que a ardia a alma e o coração do seu companheiro.
Voltou a calar-se. A jovem, sem se poder conter mais, disse-lhe:
— Continue, por favor.
— Interessa-lhe?
— Claro!
— Bem... Certa noite aziaga, Borah, ciumento até à loucura, acusou o senhor Bradley de traidor, insultando-o e querendo, até, matá-lo. Meu amo obrigou-o a largar a arma e, para não mentir ao melhor amigo da sua vida, disse: «Não nego que estou apaixonado por Margery, mas ela ignora-o e eu, porque te quero como irmão e porque a considero muito digna e honesta, nunca ousaria trair-te. A tua mulher é para mim sagrada». George deixou-o, mas a sua alma ardia de ciúme e de loucura. Horas mais tarde assassinava a esposa inocente.
— Oh!
— A Justiça foi inflexível. Condenou-o a morrer na forca e a sentença cumpriu-se.
Novo silêncio. A rapariga estava emocionada e não sabia que dizer. Danny tinha os olhos húmidos e a voz tremia-lhe. Naqueles momentos não representava; ao recordar tão angustiosos acontecimentos, o secretário de Ronald comovia-se profundamente e as lágrimas atropelavam-se-lhe na garganta. Acrescentou, procurando acalmar-se:
— Receei que o senhor Bradley perdesse a razão. Os que o estimavam em vão lhe diziam que o culpado não fora ele. Mas considerava-se responsável pela tragédia e não se resignava por ter perdido um amigo tão querido e a mulher tão nobremente amada. Queria esquecer e para isso lançou-se nas empresas mais arriscadas, sem dúvida, na esperança de encontrar depressa a morte. Mas a «dama negra» não quis nada com ele e sempre o salvou. Poucos homens terão corrido tantos perigos saindo ileso de todos eles. O tempo foi passando e a chaga aberta no coração do senhor Bradley já não está a sangrar. O mundo, porém, não tem encantos para ele e só procura a aventura e o perigo como um meio de distração para a sua alma vazia. As grandes riquezas que possui, as suas relações com as personalidades mais destacadas do país são, para ele, uma carga difícil de suportar. Enfim... esta é a história crua que eu queria contar-lhe e espero que com, ela a senhora modifique bastante a sua opinião acerca do senhor Bradley. Em meio das suas loucuras, o meu chefe tem semeado o bem às mãos cheias.
Mirtha estava profundamente emocionada e a sua dureza habitual desaparecera para dar lugar a uma doçura triste que a tornava mais bela!
— Como é que o senhor Bradley se lembrou de voltar aqui? — decidiu perguntar.
— Soube que o irmão não seguia raminho muito reto quis ser-lhe útil. Anda a enfrentar a morte, mas por mais que se lhe diga, não há meio de se convencer a sair daqui.
Mudou de tom enquanto se erguia da ladeira onde estivera sentado.
— E agora é que me vou embora. Já é muito tarde.
— Volte sempre que lhe aprouver.
— Obrigado. Aceito o seu oferecimento. Significará para mim um motivo de desabafo.
Hatter despediu-se e saiu finalmente.
domingo, 8 de maio de 2016
PAS626. Não mais quero ouvir a palavra «cobarde»
O desejo de Ronald era estar só e vaguear pelas ruas, ao acaso. Já tarde regressou à pensão onde um criado lhe entregou uma carta de Hatter.
— Hatter? Mas... onde está ele?
— Ah! Não sabe? Foi-se embora.
Ronald apressou-se a ler a folhita.
— Hatter? Mas... onde está ele?
— Ah! Não sabe? Foi-se embora.
Ronald apressou-se a ler a folhita.
«Adeus, senhor Bradlley. Você está farto de cobardes e eu não posso deixar de ser como sou. De qualquer modo, neste momento, considero-me um valente, pois é difícil separamo-nos. Não quero, no entanto, que se irrite mais por minha causa. Deseja-lhe muita sorte,
Danny Hatter
Amachucou o papel, deitou-o ao chão e pediu que lhe arranjassem o cavalo.
Pelo caminho soube para onde se dirigia Danny e correndo o mais que podia quis ver se conseguia apanhá-lo.
Depois de várias horas de galope desenfreado, Bradley conseguiu finalmente ver Hatter. Naquele momento preciso, o gordo subia para a carruagem de um comboio que o levaria à terra donde viera.
Ronald chegou ainda a tempo de o puxar pelas abas do casaco, rasgando logo uma.
— Senhor!... — exclamou Hatter, gratamente surpreendido.
— Venha daí, seu paspalho!
— Não posso. O comboio vai partir...
— E acha que ele dará pela sua falta?
— Mas eu não consigo que a minha barriga passe para outro lado...
E esforçava-se por conseguir o seu propósito.
— Que barbaridade! Fazem as portinhas para famintos e não se lembram dos bem nutridos!
Ronald, como pôde, lá o ajudou a sair do comboio, exatamente no momento em que a máquina apitava para partir.
O secretário de Ronald ficara em estado lastimoso. De casaco rasgado, cabelos em desalinho, a suar por todos os poros, Danny dava vontade de rir aos que tinham presenciado a cena.
— Com que então, senhor Hatter, é assim que você estima os seus amigos?
— Pois claro. Não quero ser testemunha da sua morte e muito menos ouvir da sua boca a palavra «cobarde» no tom mais desdenhoso que se pode conceber.
— Lamento tê-lo ofendido, meu velho, mas acho que não tem melhor prova do muito que eu o estimo do que o facto de o ter vindo buscar. Esqueça as minhas palavras e voltemos a Buck Springs.
— Mas...
— Onde deixou o «Veloz»?
— Entreguei-o ao chefe da estação para que ele o enviasse depois ao senhor.
— Vamos buscá-lo.
Danny, embora fingindo pouco entusiasmo, sentia-se profundamente emocionado com a atitude de Ronald.
De súbito, deteve-se.
— Meu Deus, a minha mala!
— Que aconteceu?
— Foi no comboio. Entrou primeiro do que eu.
— Não se preocupe. Vamos tentar que a recolham e deixe o resto por minha conta.
Meia hora volvida, Ronald aparecia com um grande embrulho debaixo do braço. Eram roupas para Danny. O nosso homem experimentou várias, forçou casacos, mas nada. Não cabia dentro delas e finalmente, depois de tanto trabalho, teve de voltar em mangas de camisa.
A meio do caminho, Hatter perguntou:
— Diga-me, senhor Bradley: isto significa que você está disposto a não lutar mais nem a brincar com a morte como tem feito até aqui?
Ronald respondeu em tom emocionado:
— Não, Danny. A minha atitude explica-se desta maneira: se você me estima como a um filho, eu quero-lhe como se fosse meu pai e a minha solidão, se você me abandona, será absoluta e desesperada. Não sei onde me levará tal desespero e, por isso mesmo, lhe peço que fique. Acha que é suficiente a explicação?
Hatter não pôde responder. Tinha um nó na garganta que não deixava sair mais palavras e os olhos marejaram-se-lhe de lágrimas.
Danny Hatter
Amachucou o papel, deitou-o ao chão e pediu que lhe arranjassem o cavalo.
Pelo caminho soube para onde se dirigia Danny e correndo o mais que podia quis ver se conseguia apanhá-lo.
Depois de várias horas de galope desenfreado, Bradley conseguiu finalmente ver Hatter. Naquele momento preciso, o gordo subia para a carruagem de um comboio que o levaria à terra donde viera.
Ronald chegou ainda a tempo de o puxar pelas abas do casaco, rasgando logo uma.
— Senhor!... — exclamou Hatter, gratamente surpreendido.
— Venha daí, seu paspalho!
— Não posso. O comboio vai partir...
— E acha que ele dará pela sua falta?
— Mas eu não consigo que a minha barriga passe para outro lado...
E esforçava-se por conseguir o seu propósito.
— Que barbaridade! Fazem as portinhas para famintos e não se lembram dos bem nutridos!
Ronald, como pôde, lá o ajudou a sair do comboio, exatamente no momento em que a máquina apitava para partir.
O secretário de Ronald ficara em estado lastimoso. De casaco rasgado, cabelos em desalinho, a suar por todos os poros, Danny dava vontade de rir aos que tinham presenciado a cena.
— Com que então, senhor Hatter, é assim que você estima os seus amigos?
— Pois claro. Não quero ser testemunha da sua morte e muito menos ouvir da sua boca a palavra «cobarde» no tom mais desdenhoso que se pode conceber.
— Lamento tê-lo ofendido, meu velho, mas acho que não tem melhor prova do muito que eu o estimo do que o facto de o ter vindo buscar. Esqueça as minhas palavras e voltemos a Buck Springs.
— Mas...
— Onde deixou o «Veloz»?
— Entreguei-o ao chefe da estação para que ele o enviasse depois ao senhor.
— Vamos buscá-lo.
Danny, embora fingindo pouco entusiasmo, sentia-se profundamente emocionado com a atitude de Ronald.
De súbito, deteve-se.
— Meu Deus, a minha mala!
— Que aconteceu?
— Foi no comboio. Entrou primeiro do que eu.
— Não se preocupe. Vamos tentar que a recolham e deixe o resto por minha conta.
Meia hora volvida, Ronald aparecia com um grande embrulho debaixo do braço. Eram roupas para Danny. O nosso homem experimentou várias, forçou casacos, mas nada. Não cabia dentro delas e finalmente, depois de tanto trabalho, teve de voltar em mangas de camisa.
A meio do caminho, Hatter perguntou:
— Diga-me, senhor Bradley: isto significa que você está disposto a não lutar mais nem a brincar com a morte como tem feito até aqui?
Ronald respondeu em tom emocionado:
— Não, Danny. A minha atitude explica-se desta maneira: se você me estima como a um filho, eu quero-lhe como se fosse meu pai e a minha solidão, se você me abandona, será absoluta e desesperada. Não sei onde me levará tal desespero e, por isso mesmo, lhe peço que fique. Acha que é suficiente a explicação?
Hatter não pôde responder. Tinha um nó na garganta que não deixava sair mais palavras e os olhos marejaram-se-lhe de lágrimas.
sábado, 7 de maio de 2016
PAS625. Cavalgada para a morte
Montou de um salto. Hatter, porém, não o conseguiu tão facilmente porque «Veloz» era um cavalo manhoso. Não se habituara ainda ao peso exagerado do seu dono e sempre que este queria montá-lo havia primeiro uma espécie de baile com «Veloz» aos pulos e Danny desfazendo-se em suor e em pragas atrás dele.
— Maldito sejas, «Veloz»! — gritou este, ameaçando-o com o punho.
«Veloz» recuou e aos estirões procurava tirar as rédeas das mãos de Hatter. O público ria a bandeiras despregadas e, por fim, o secretário lá conseguiu acomodar-se na sela.
Empreenderam a marcha, seguidos de muitos olhares e, sem saber porquê, Ronald tomou o caminho que conduzia ao rancho «Verde». Uma força estranha o impelia para aqueles lugares onde, na sua Infância, brincara e dera largas à sua alegria de criança.
E enquanto Hatter resmungava numa algaraviada sem fim, Ronald contemplava extasiado a paisagem maravilhosa que se abria à sua frente. E pela sua mente iam passando, num desfile saudoso, certas cenas e factos da sua meninice.
Danny, percebendo que o seu chefe não ia a ligar-lhe nenhuma, resolveu calar-se mas, por fim, já farto de tão prolongado silêncio, perguntou:
— Pode saber-se para onde vamos?
— Para a morte — respondeu o jovem, como se tivesse despertado dum largo sonho.
Hatter estremeceu todo e o «Veloz» relinchou iracundo.
Ronald riu à gargalhada ao ver o efeito da sua frase.
— Não se apoquente. A minha resposta foi apenas um pouco de filosofia e nada mais. De facto, nós viemos ao mundo apenas para caminhar para a morte. Foi a isso que me referi.
— Uff! Enfim, respiro! Mas, por favor, deixe em sossego a filosofia!
Ronald ia responder quando um facto imprevisto o obrigou a parar. A pequena distância, uma criança loira e linda deixava cair flores nas águas do caudaloso rio.
— Que foi? — quis saber Hiatter, ao vê-lo parado.
— Não o emociona aquele quadro?
— Sim, é digno do pincel dum artista.
Continuaram, muito devagar, o caminho até que a pequenita deu com os olhos neles. Belos olhos azuis os daquela criança!
— Boas tardes, senhor Bradley! — disse, agitando um dos bracitos.
O rapaz ficou estupefacto. Desmontou e aproximou-se dela.
— Conheces-me?
— Claro que sim! Estava no rancho «Verde» quando você vingou a morte do pobre capataz
— Ah! Caramba!
— Chamo-me Vivian Bettham e sou afilhada de Mirtha.
— Mas... estás muito distanciada do rancho. Não tens medo de andar sozinha por aqui?
— Não. Foi aqui que meu pai caiu para sempre e todos os dias venho a este lugar deitar flores no rio para que as águas as levem até onde está o meu pai.
Ronald e Hatter impressionaram-se profundamente com aquela declaração tão cheia de deliciosa ingenuidade.
— A alma do teu pai ficará muito contente ao ver o teu carinho.
A pequenita alegrou-se:
— Verdade? Penso nisso a todo o momento. Nisso... e também em crescer para matar Frederik Jens, o assassino de meu pai. Verá!
Ronald acariciou-a com ternura e foi-lhe dizendo:
— Antes que tu sejas uma senhora, pode ser que o teu desejo se cumpra. Até lá sucederão tantas coisas! E tu, Vivian, queres contar-me o que sabes sobre esse crime?
— Pois conto. Já o ouvi centenas de vezes, embora a madrinha não goste que eu oiça.
E contou com pormenores tudo quanto ouvira e sabia acerca daquela morte inglória, causada pelo chefe dos pistoleiros às ordens de Petelbow.
Bradley não fez comentário algum. Limitou-se a afagar a pequenita e a colher um punhado de rosas silvestres que deixou cair no rio.
— São para teu pai — disse, quase num murmúrio.
Danny perguntou:
— Não te importas que eu lhe ofereça também flores?
Vivian sorriu-lhes com doçura e apenas pôde pronunciar: «Obrigada!».
— Maldito sejas, «Veloz»! — gritou este, ameaçando-o com o punho.
«Veloz» recuou e aos estirões procurava tirar as rédeas das mãos de Hatter. O público ria a bandeiras despregadas e, por fim, o secretário lá conseguiu acomodar-se na sela.
Empreenderam a marcha, seguidos de muitos olhares e, sem saber porquê, Ronald tomou o caminho que conduzia ao rancho «Verde». Uma força estranha o impelia para aqueles lugares onde, na sua Infância, brincara e dera largas à sua alegria de criança.
E enquanto Hatter resmungava numa algaraviada sem fim, Ronald contemplava extasiado a paisagem maravilhosa que se abria à sua frente. E pela sua mente iam passando, num desfile saudoso, certas cenas e factos da sua meninice.
Danny, percebendo que o seu chefe não ia a ligar-lhe nenhuma, resolveu calar-se mas, por fim, já farto de tão prolongado silêncio, perguntou:
— Pode saber-se para onde vamos?
— Para a morte — respondeu o jovem, como se tivesse despertado dum largo sonho.
Hatter estremeceu todo e o «Veloz» relinchou iracundo.
Ronald riu à gargalhada ao ver o efeito da sua frase.
— Não se apoquente. A minha resposta foi apenas um pouco de filosofia e nada mais. De facto, nós viemos ao mundo apenas para caminhar para a morte. Foi a isso que me referi.
— Uff! Enfim, respiro! Mas, por favor, deixe em sossego a filosofia!
Ronald ia responder quando um facto imprevisto o obrigou a parar. A pequena distância, uma criança loira e linda deixava cair flores nas águas do caudaloso rio.
— Que foi? — quis saber Hiatter, ao vê-lo parado.
— Não o emociona aquele quadro?
— Sim, é digno do pincel dum artista.
Continuaram, muito devagar, o caminho até que a pequenita deu com os olhos neles. Belos olhos azuis os daquela criança!
— Boas tardes, senhor Bradley! — disse, agitando um dos bracitos.
O rapaz ficou estupefacto. Desmontou e aproximou-se dela.
— Conheces-me?
— Claro que sim! Estava no rancho «Verde» quando você vingou a morte do pobre capataz
— Ah! Caramba!
— Chamo-me Vivian Bettham e sou afilhada de Mirtha.
— Mas... estás muito distanciada do rancho. Não tens medo de andar sozinha por aqui?
— Não. Foi aqui que meu pai caiu para sempre e todos os dias venho a este lugar deitar flores no rio para que as águas as levem até onde está o meu pai.
Ronald e Hatter impressionaram-se profundamente com aquela declaração tão cheia de deliciosa ingenuidade.
— A alma do teu pai ficará muito contente ao ver o teu carinho.
A pequenita alegrou-se:
— Verdade? Penso nisso a todo o momento. Nisso... e também em crescer para matar Frederik Jens, o assassino de meu pai. Verá!
Ronald acariciou-a com ternura e foi-lhe dizendo:
— Antes que tu sejas uma senhora, pode ser que o teu desejo se cumpra. Até lá sucederão tantas coisas! E tu, Vivian, queres contar-me o que sabes sobre esse crime?
— Pois conto. Já o ouvi centenas de vezes, embora a madrinha não goste que eu oiça.
E contou com pormenores tudo quanto ouvira e sabia acerca daquela morte inglória, causada pelo chefe dos pistoleiros às ordens de Petelbow.
Bradley não fez comentário algum. Limitou-se a afagar a pequenita e a colher um punhado de rosas silvestres que deixou cair no rio.
— São para teu pai — disse, quase num murmúrio.
Danny perguntou:
— Não te importas que eu lhe ofereça também flores?
Vivian sorriu-lhes com doçura e apenas pôde pronunciar: «Obrigada!».
sexta-feira, 6 de maio de 2016
BIS034.1 O aventureiro louco
Ronald Bradley chegou a Buck Springs acompanhado pelo seu secretário, Danny Hatter, depois de uma longa ausência durante a qual correra mundo e fizera fortuna. Tinha como objetivo esclarecer algo que tinha ouvido em relação ao seu irmão que parecia ter enveredado pelo caminho do crime associando-se a um cacique da terra, Petelbow.
A realidade veio a mostrar que Sims Bradley não era flor que se cheirasse, sendo inclusivamente detentor de uma hipoteca sobre um rancho da formosa Mirtha a quem pretendia levar à ruína para esta aceitar propostas indecorosas do cacique.
Ronald decide-se a enfrentar este mundo minado por interesses pouco recomendáveis. E ei-lo, na companhia de Danny, qual um Sancho Pança, a lutar pela justiça com os objetivos de libertar a formosa Mirtha e conquistar o seu coração.
Raf Segrram tem aqui uma narrativa simples, escorreita, por vezes cheia de histórias encravadas no enredo principal, pelo que o «O aventureiro louco» merece ser lido por inteiro.
A realidade veio a mostrar que Sims Bradley não era flor que se cheirasse, sendo inclusivamente detentor de uma hipoteca sobre um rancho da formosa Mirtha a quem pretendia levar à ruína para esta aceitar propostas indecorosas do cacique.
Ronald decide-se a enfrentar este mundo minado por interesses pouco recomendáveis. E ei-lo, na companhia de Danny, qual um Sancho Pança, a lutar pela justiça com os objetivos de libertar a formosa Mirtha e conquistar o seu coração.
Raf Segrram tem aqui uma narrativa simples, escorreita, por vezes cheia de histórias encravadas no enredo principal, pelo que o «O aventureiro louco» merece ser lido por inteiro.
quinta-feira, 5 de maio de 2016
quarta-feira, 4 de maio de 2016
terça-feira, 3 de maio de 2016
segunda-feira, 2 de maio de 2016
domingo, 1 de maio de 2016
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