sábado, 12 de dezembro de 2015

PAS556. Seis balas para sete pistoleiros

Foram sete os pistoleiros que se voltaram de uma vez, com a velocidade de répteis.
O tipo que se lhes deparou, era quem menos esperavam encontrar, naquele sítio. Davam como certo que Will se encontrava no outro extremo da povoação, e agora lançaram um grito de espanto, quase em uníssono, ao encontrá-lo dentro da cocheira. Além disso, não vestia como de costume, mas como um vaqueiro, todo de negro, para passar despercebido. A sua estrela, também negra, apenas se distinguia sobre a camisa.
— Entrei com aqueles quatro cavalos — murmurou suavemente, correspondendo aos olhares atónitos dos pistoleiros. — Junto ao ventre do que ia no meio, era muito difícil que alguém me visse. Podeis dizer ao imbecil do vosso espia, que devia ter pensado nisto.
Jess e os seus homens estavam assombrados, Will nem sequer tinha empunhado o seu revólver, que guardava no coldre do lado esquerdo. Eles eram sete e no tambor do revólver de Will só podia haver seis balas; de modo que estava perdido antes de começar a luta. Tratar-se-ia de uma armadilha?
Perscrutaram as sombras, como animais encurralados, pensando que ali podiam estar escondidos todos os homens do xerife.
— Não temais — sorriu Will. — Estou só. Precisamente, quando vocês entraram, dormia uma sestazita, naquele lado da manjedoura, que os cavalos não ocupavam. E sinto-o por vocês, porque sempre desperto de mau humor.
Um sorriso tranquilo aflorava aos lábios de Will. Parecia sentir-se tão seguro, como se aqueles sete pistoleiros estivessem contidos pelas armas do próprio governador de Arkansas.
Foi essa tranquilidade que fez explodir os nervos de Jess. Não pôde resistir mais.
— Matem-no! — bramou. — Matem-no.
Todos levaram as mãos aos revólveres, enquanto saltavam para sítios diversos, tornando-se assim um alvo mais difícil. Sabiam que pelo menos um, com toda a certeza, sairia vivo e esse seria o que mataria Will.
Todos tinham interesse em ser esse afortunado.
Este foi um facto favorável a Will, porque os sete pistoleiros tiveram mais a preocupação de procurar refúgio do que disparar. Teriam agido muito melhor se estivessem desesperados.
Will, por sua parte, moveu-se com uma endiabrada rapidez.
Enquanto sacava com a esquerda, deixou-se cair entre as patas dos cavalos. Estes encabritaram-se. O revólver crepitou duas vezes e os dois homens que estavam mais à esquerda, terminaram o seu salto, caindo como sapos, com as cabeças atravessadas.
Jess conseguiu atingi-lo numa das fontes, produzindo-lhe um pequeno ferimento. Ao ver brotar o sangue, salpicando a parede, gritou:
— Já é nosso!
Com efeito Will estaria já vencido, se estivesse só, porque cinco homens eram demasiados para ele, sobretudo porque só lhe restavam no revólver quatro balas. Mas Will não estava completamente só porque havia que contar também com Betty, a mulher que os sete bandidos queriam assassinar.
E já ninguém se recordava dela.
E sem demora a mulher agiu. Tinha na mão um «Derringer» de dois canos que acabava de tirar de entre as roupas. Os pistoleiros estavam de costas para ela, mas esta não mostrou o menor pejo em apertar o gatilho.
Eram uns cobardes e não mereciam outro trato.
As duas balas atravessaram sem remissão duas cabeças. Os três pistoleiros que restavam vivos voltaram-se, gritando, não sabendo de quem se defender.
Will tinha quatro balas.
Chegaram para os três pistoleiros e a última, dedicada a Jess, foi de luxo, de fantasia, como a última carambola de urna partida de bilhar. Só serviu para lhe arrancar uma orelha. Will soprou o cano do seu revólver e carregou-o lentamente, enquanto contemplava, pensativo, os sete mortos.
— São um feio adorno para uma cocheira — disse olhando para Betty. Esta soluçava silenciosamente.
— Porque chora? — murmurou Will. — Você portou-se muito bem. Temi que perdesse a sereni-dade com aqueles dois tiros.
— Não fiz mais do que defender a minha vida.
— E atuou muito bem. Boa pontaria. Os dois fulanos do seu lote têm a cabeça bem atravessada.
— Você fala duma maneira que nos gela, Will. Não parece o promotor desta manhã.
— Sou mais pistoleiro do que outra coisa.
Betty levantou-se lentamente.
— Há algo que não entendo— sussurrou.-- Você não sabia que eu tinha um revólver.
— Não, não o sabia.
— Como pensava, então, acabar com sete pistoleiros, se o seu revólver só tem seis balas? E porque é que não usa duas armas?
— É que com a direita, sou uma nulidade. Não tenho pontaria. Além disso, não sabia o número de tipos que viriam. — Passou uma mão pelos cabelos. — Supunha que não seriam tantos homens, para matar uma única mulher.
— Pois supos mal. Já vê que são cobardes como as serpentes. Atuam pela certa.
Will sorriu.
— Reconheço que passei um mau bocado — disse. — Mas não creia que isso me assuste. Sabe o que acontece num tiroteio como este? Os que seguem à frente, quando vêem cair os seus companheiros, não contam as balas. Só pensam que não querem morrer e nenhum deles se expõe a ficar para último, pois pode ser que ainda reste alguma bala na câmara. Estou certo, que os dois ou três últimos pássaros teriam voado para a porta, sem quererem saber de mais nada.
— De qualquer maneira, parece-me uma tática arriscada.
— É que estou certo, de que na próxima vez, que me equivoque numa coisa assim, vou deixar a pele, pequena.
— Que devo fazer amanhã?
— Prestar juramento. Conan tem agora o júri contra si e quando os seus membros souberem que já não existem pistoleiros na cidade, recobrarão toda a coragem. Esse tipo será condenado à morte.
— Está seguro de que já não restam mais pistoleiros?
A pergunta de Betty foi interrompida por um repentino gesto de alarme. De súbito gritou:
— Cuidado!
Um dos homens que esperavam cá fora, havia assomado o nariz para ver se o trabalho estava terminado. E sacava velozmente o seu revólver, ao distinguir os cadáveres dos seus companheiros, apanhando Will de costas para ele.
Não chegou a disparar.
Will voltou-se.
Tinha já carregado a sua arma com duas balas, e as duas foram para o tipo que intentava matá-lo à traição.
Uma atravessou-lhe o coração e a outra destroçou-lhe a cabeça.
Betty lançou um grito levando as mãos aos olhos, para não ver a trágica pirueta do pistoleiro.
Mas, outros dois se aproximaram. Ouviam-se os seus passos rápidos e nervosos, atravessando a rua. Will compreendeu que tudo dependia da rapidez com que carregasse a arma.
Conseguiu introduzir duas balas e fechou o cilindro, no momento preciso em que um dos foragidos entrava na cocheira.
Ao princípio não viu, porque a penumbra era muito espessa. Isso custou-lhe a vida.
Will despachou-o com um balázio no coração.
O outro seguiu de seguida e havia feito fogo guiando-se pelo fogacho, Will teve que lançar-se entra as patas dos cavalos, enquanto a bala lhe roçava a cabeça. Disparou, com a esquerda, o seu único projétil alcançou o seu inimigo, num pulso, desarmando-o e fazendo-o lançar um grito de dor.
Em seguida, Will avançou para ele, carregando o revólver. O bandido havia caído de joelhos, encolhendo-se.
— Porque... não me mataste? — balbuciou. — Ter-te-ia sido mais fácil atirar à cabeça.
— Não o quis fazê-lo.
— Porquê?
— Tens de estar vivo para falar com Conan. Diz--lhe que praticamente já não tem quadrilha. Devem restar-lhe, quando 'muito, um ou dois homens mais. E diz-lhe, também que amanhã será condenado à morte.
— Estás... louco.
— Mais vale estar louco do que estar enforcado. Diz-lhe também isso.
O pistoleiro levantou-se, segurando a mão ferida e aos tombos, correu em direção à prisão.

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