domingo, 31 de janeiro de 2016

PAS575. E, naquele momento, o cavalo tomou o freio nos dentes

No dia seguinte, Nelson Montgomery, para se familiarizar com a cidade, montou o seu cavalo e começou a percorrer as ruas ao acaso. A certa altura, num cruzamento, quase ia sendo atropelado por uma «charrete» puxada por dois belos cavalos brancos e guiada por uma jovem de estonteante beleza.
O cavalo empinara-se de súbito e, se não fosse o sangue-frio do rapaz, este teria caído e serra apanhado pelas rodas do veículo.
Furioso com o acontecimento, Nelson, depois de dominar a sua montada, pensou lançar-se em perseguição da rapariga para a chamar à ordem pela sua falta de senso em andar pelas ruas da cidade com aquela velocidade.
Foi então que reparou que alguma anormalidade se estava a passar com os cavalos que puxavam o carro.
A rapariga fazia esforços 'inauditos para parar o veículo. Os cavalos porém não lhe obedeciam e continuavam no seu louco galopar. Certamente que haviam tomado os freios nos dentes e se ninguém os conseguisse dominar 'a vida 'daquela jovem estaria em perigo. A vida dela e a dos diversos transeuntes que porventura se não desviassem a tempo.
Em face disso, não hesitou. Esporeou violentamente o seu cavalo que protestou com um relincho e se lançou em perseguição do carro que estava já a cerca de sessenta metros 'de distância.

sábado, 30 de janeiro de 2016

PAS574. Um passado pouco recomendável

Nelson Montgomery viera ao mundo vinte e sei anos antes. Precisamente naquele dia, fizera o seu vigésimo sexto aniversário. Nascera numa aldeola dos confins de Nevada e era filho de um casal de trabalhadores rurais, pobres mas honrados.
A sua infância fora, na sua quase totalidade, passada entre gente pobre e os seus companheiros andavam tão andrajosos como ele. Cedo, começara a conhecer a dureza da vida, poi o trabalho de seus pais e os seus ganhos para pouco mais davam que para comer e por vezes bastante mal.
Assim, para ajudar o sustento dos seus, começo a fazer recados, pelos quais ia recebendo algumas gorjetas que entregava integralmente a sua mãe que via obrigada a aceitá-las.
As más companhias, no entanto, perderam-no. O mal foi terem levado a cabo o primeiro roubo do qual se saíram airosamente.
Ao primeiro sucedeu o segundo, depois o terceiro e por aí fora numa rápida sucessão, até que pela primeira vez, um dos que estavam a ser assaltados reagiu travando-se uma luta violenta entre os quadrilheiro nessa altura espigadotes, o mais novo dos quais tinha quinze anos, e um grupo de honrados cidadãos que acorrera aos gritos de socorro.
Dessa contenda resultou uma morte.
Um dos companheiros de Nelson agredira com uma barra de ferro um dos cidadãos, esmagando-lhe a cabeça. Foram todos presos, menos Montgomery, que conseguira evadir-se.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

BUB105. Vida por amor


 
(Coleção Búfalo, nº 105)
 
Nelson Montgomery era um rapaz brigão e cedo teve de fugir da terra que o viu nascer devido à falsa acusação de que havia morto alguém, deixando a mãe com a tarefa de arranjar provas da sua inocência. O seu percurso não foi nada recomendável com assaltos em que procurou não ferir ninguém até que chegou a Kansas City onde viria a conhecer a mulher dos seus sonhos.
Associado a um bandido mexicano, veio a saber que este se preparava para atacar o rancho da sua amada e tudo fez para o defender. No momento da chegada da sua mãe a Kansas City com o indulto tinha acabado de enfrentar o chefe da quadrilha, matando-o, mas ficando moribundo. Foi triste o adeus de Nelson Montgmory o que deu a «Vida por amor» uma tonalidade comovente.
Tal como demonstraremos oportunamente, a capa nada tem a ver com o livro, mas com o número seguinte da coleção Búfalo, do mesmo autor, e com o titulo «Território Índio». Mas foi assim que foi publicado e assim seguiremos com algumas passagens.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

PAS573. Uma história para o filho do mistério

— É uma história muito curiosa, Fixer. Se quiseres posso contar-ta.
— Claro que quero. Não tenho nenhum sono, e a tua história sempre nos ajudará a passar o tempo.
Carrigan encheu de novo o cachimbo, acendeu-o e deu duas ou três chupadelas nele antes de começar a falar, divertido pela expectativa que lia nos olhos do companheiro.
— O princípio remonta talvez a uns vinte e cinco anos. Então tinha eu pouco mais de vinte. Era alto, forte, e tinha muita sorte com as mulheres.
Carrigan falava em voz baixa e suave, com os olhos fixos na fogueira, como se naquela dança das chamas se viessem refletir as imagens de um longínquo passado, que o ajudavam a recordar. A sua entoação tinha uma cadência atraente, que obrigava a escutá-lo. Danne reparou que até a arisca rapariga parecia suspensa das suas palavras.
— Tinha um amigo, cujo nome não interessa. Um dia estávamos a caçar nas Montanhas do Sangue, quando encontrámos um velho caçador, bastante ferido.
«Levámo-lo à sua cabana, que se erguia no meio de um pitoresco e solitário vale e tratámos dele o melhor que pudemos.
«Eu e esse meu amigo revezávamo-nos no seu tratamento e quando se curou tinha-se estabelecido entre os três uma sólida amizade. O velho caçador chegou inclusivamente a tratar-nos como filhos. Eu e esse meu amigo éramos dois rapazes novos, estarolas, que só pensávamos em jogar, beber e entrar em quantas lutas se travavam.
«O velho Danne Lindsball reprovava constantemente o nosso procedimento, mas não fazíamos o menor caso das suas recriminações. 
«Um dia chamou-nos à sua cabana e disse-nos que tinha encontrado um tesouro, num lugar pouco menos que inacessível. Segundo constou tinha sido lá escondido no tempo da dominação espanhola. Ele não tinha outras ambições do que acabar a sua vida caçando no seu formoso vale e disse-nos que aquele tesouro seria para o primeiro de nós que tivesse um filho, pois isso para ele era uma prova de que tínhamos ganhado juízo. Toda a sua ilusão era ver-nos convertidos em homens na verdadeira aceção da palavra e o tesouro seria para o primeiro de nós que o conseguisse.
«Eu não fiz muito dano das suas palavras e continuei na mesma vida, mas a partir daquele momento, o meu amigo começou a afastar-se de mim. Uns meses depois casou. Mas dois longos anos decorreram e a sua mulher não lhe dava aquele ambicionado filho que tanto esperava. Entretanto o seu rancho ia de mal a pior e sobre ele avolumaram-se um sem-número de hipotecas.
«Por fim, um dia apresentou-se muito contente na cabana do caçador e comunicou-lhe que sua mulher lhe tinha dado um filho. Depois de se certificar que o não enganava, o velho caçador entregou-lhe o mapa do local onde estava guardado o tesouro, pondo-lhe como única condição que o menino se chamasse Danne, como ele».
Danne teve um sobressalto ao ouvir as últimas palavras de Carrigan. Também ele se chamava Danne. Seria uma simples coincidência? Não estaria Carrigan contando um capitulo da vida de BOXer, no qual ele tinha um papel primordial? Entretanto o bandido continuava a falar.
— Eu não senti o menor rancor por ele. Tinha tido um filho? Bom, pois que fosse para ele todo o ouro. Eu já começava então a ser famoso e tinha todo o dinheiro que queria.
«Uns dias depois, o velho Danne foi encontrado morto na sua cabana. Tinha sido estrangulado e nunca se conseguiu saber quem o tinha feito. O meu amigo empregou bem o dinheiro recebido e em pouco tempo levantou o rancho, que se converteu na mais famosa fazenda dos
arredores».
Fixer e a rapariga seguiam fascinadas o relato da história, mas o seu interesse nada representava comparado com o de Danne. Algo lhe dizia que Carrigan ia pôr ante os seus olhos o mistério que envolvia a sua chegada ao rancho de Boxer. .,
-- Continua, Carrigan. A tua história é muito interessante — disse Fixer.
— Incomodo-a, menina? — perguntou o bandido solicitamente, e pela primeira vez a jovem não lhe respondeu agressivamente, fascinada pelo interesse que a história lhe proporcionava.
— De modo nenhum. Continue, por favor.
Era um elogio aos dotes de narrador de Carrigan e este sorriu, satisfeito com o seu triunfo.
— Passaram vários anos e um dia chegou aos meus ouvidos um estranho rumor. Não lhe prestei muita atenção, mas chegou a tal grau de insistência que não tive outro remédio senão fazer umas quantas averiguações. Com efeito, cheguei à conclusão de que esse meu amigo tinha enganado o velho caçador, como também me enganara a mim. O rapaz não era seu filho. Tinha-o roubado e apresentou-o ao velho como seu filho, para conseguir o dinheiro que tanta falta lhe fazia.
Danne sobressaltou-se, emocionado pelo que acabava de ouvir. A história ajustava-se perfeitamente ao que ele pensava e sem se poder conter moveu-se inquieto no seu esconderijo, atrás de uns arbustos.
— Quem está aí? — perguntou Fixer, levando a mão ao revólver.
— Deve ser algum animal, Fixer, não te assustes —interveio Carrigan. — Bom, parece-me que os estou a aborrecer com a minha história, e por conseguinte é melhor calar-me.
Danne esteve a ponto de sair do seu esconderijo de revólver em punho para o abrigar a continuar, pois agora tinha a certeza que a história que Carrigan contava se referia a Boxer e a ele próprio.
— Não, não, Carrigan. Peço-te que continues.
Carrigan não se fez rogado e de novo tomou a palavra.
--- Fui visitar esse meu amigo e reprovei-lhe a sua conduta. Tivemos uma azeda discussão e chegámos inclusive a vias de facto. Consegui deixá-lo sem sentidos com uma coronhada e revistei toda a casa procurando o plano do esconderijo do tesouro. Pensei que talvez ele não tivesse tirado todo o dinheiro. Seguindo as suas instruções, não me foi difícil encontrar o esconderijo, mas o tesouro tinha desaparecido. Esse meu amigo —continuemos a chamar-lhe assim — tinha retirado tudo.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

PAS572. Uma carta do homem que agonizava

Durante um segundo, Danne continuou a olhar o fundo do barranco como fascinado, depois afastou-se e só então recordou que o cavalo não levava cavaleiro.
— Onde estará? — e o pensamento de que um seu semelhante precisava da sua ajuda fê-lo reagir e empreendeu uma veloz corrida pelo caminho escorregadio, em busca do cavaleiro.
Percorreu cerca de meia milha sem encontrar o menor indicio do cavaleiro perdido e preparava-se já para regressar à gruta, renunciando à sua busca, quando um ténue gemido de dor chegou até ele.
Naquele lugar a parede do barranco perdia a sua linha vertical convertendo-se num pronunciado declive.
Danne aproximou-se do começo do declive.
— Há alguém aí em baixo? — perguntou, gritando com todas as suas forças.
Ninguém respondeu à sua voz e pensava já se na se teria enganado, quando de novo chegou até ele um lamento, mais percetível agora.
Não duvidou. Alguém precisava do seu auxílio no fundo do barranco.
Sem pensar no perigo que corria, lançou-se em seu socorro. Danne era assim: impulsivo nos seus atos, o que pensava fazer fazia-o mesmo, lançando-se para o perigo sem medir os riscos que isso lhe podia acarretar, entregando-se por completo nas mãos da Providência e da sua boa estrela.
Mal pisou a pendente, percebeu que não poderia descer tão depressa quanto seria o seu desejo. O barro pegava-se às suas botas, formando uma capa resvaladiça, que o fazia patinar e cair a cada momento, enquanto a água lhe continuava a fustigar o rosto.
Agarrando-se ao terreno com as mãos e com os pés, recorrendo aos ramos e pedras que via, conseguia ir descendo pouco a pouco. De vez em quando um gemido chegava até ele, cada vez mais próximo, e Danne gritava palavras de ânimo ao desconhecido.
Faltavam escassos metros para chegar, quando de novo resvalou. Dessa vez não encontrou nada a que se pudesse agarrar e rolou como uma bola, rebolando no barro e na água.
Esteve a ponto de ir parar à ameaçadora torrente, que rugia a seu lado sedenta de novas vítimas, mas conseguiu evitá-lo apoiando o pé direito contra uma rocha que se levantava mesmo à beira da água, e agarrando-se depois a ela, desesperadamente.
Quando de novo se encontrou em terra firme, olhou em redor. Três metros à sua esquerda percebeu o corpo imóvel de um homem que soltava lancinantes gemidos.
Tinha sem dúvida rolado pela pendente ao ser lançado ao chão pelo desenfreado cavalo e a sua cabeça teria chocado ao cair contra alguma rocha, pois tinha nela uma ferida que sangrava abundantemente. Os seus pés mergulhavam na torrente, chegando lhe a água quase aos joelhos, mas por um verdadeiro milagre não tinha sido arrastado por ela.
Danne segurou-o pelos sovacos e puxou-o para cima, transportando-o para um sítio mais seguro. Depois ajoelhou a seu lado.
O homem olhou-o com olhos falhos de expressão e os seus lábios mexeram-se.
— Obrigado...
— Não fale. Vou tentar tirá-lo daqui.
Mas imediatamente percebeu que os seus desejos não eram muito viáveis. A força da chuva parecia ter diminuído e os trovões soavam cada vez mais distantes, mas a encosta continuava resvaladiça e perigosa para se aventurar por ela e mais ainda transportando um homem às costas. Uma escorregadela, um passo em falso, poderia precipitá-lo na torrente, sem qualquer esperança de salvação.
Danne vendou com o lenço a cabeça do homem enquanto o fazia uma ideia assaltou-lhe o espírito.
Com tremendo esforço carregou o ferido às costas e começou a andar na mesma direção que a da água em vez de atacar a encosta pelo sítio por onde tinha descido, verificando com satisfação que, como calculara, encosta era cada vez mais curta e de mais suave declive.
O desconhecido não pesava muito, mas exigia um tremendo esforço caminhar com ele às costas, por cima daquele barro pegajoso que formava nas suas botas uma segunda sola de vários centímetros de espessura e que o obrigava a deter-se.
Demorou mais de trinta minutos a sair do barranco e, quando se encontrou de novo no caminho, estava muito cansado e doía-lhe todo o corpo. Tinha deixado de chover e já não se ouviam os trovões. O suor banhava-lhe o rosto e todo o corpo, misturando-se com a água que lhe empapava as roupas.
Descansou um momento, mas ao perceber que aquele homem morreria se não o fizesse reagir imediatamente, empreendeu de novo o caminho para a gruta.
Pouco depois chegava a esta. Deixou o ferido sentado no chão com as costas apoiadas contra a parede de terra e procurou nas algibeiras algo com que pudesse fazer fogo.
A faísca da pederneira permitiu-lhe distinguir no fundo da gruta uma espécie de cama de folhas secas e uns troncos. Dando graças a Deus por tão feliz encontro transportou o ferido e de novo fez lume.
Pouco depois o alegre resplendor das chamas iluminava a cena. Sem se preocupar em tirar as roupas, ia a auxiliar o desconhecido, quando este o deteve com um gesto.
— Não se preocupe comigo... eu... já não preciso.
Danne debruçou-se sobre ele, tentando animá-lo.
— Agradeço-lhe... as suas palavras de coragem... mas é inútil. Desejo que me faça um favor — prosseguiu com voz débil. — No bolso do meu casaco... encontrará uma carta. Peço-lhe que a leve ao seu destino... É muito importante para... para mim. Fá-lo-á?
Danne assentiu com a cabeça.
— Deve entregá-la a um tal Mulholland, em Las Cruces. Peço-lhe... também que vá ver... a minha filha. Diga-lhe que tudo o que fiz foi por ela. Que me perdoe... mas foi por ela.
— Como se chama sua filha?
— Lilian. Vive também... em Las Cruces. Eu...
Não pôde prosseguir. Penosos estertores impediram--no. A sua cabeça caiu para a frente e os olhos ficaram estranhamente fixos nas pontas das botas.
Passou um bom bocado antes  que Danne se apercebesse de que tinha morrido. Quando por fim se convenceu disso, procurou nos seus bolsos e encontrou a carta.
Era um sobrescrito azul, sujo e amarrotado, sem qualquer direção aposta, mas Danne recordava perfeitamente o nome da pessoa a quem a devia entregar.
— Mulholland, em Las Cruces — murmurou. — Não me esquecerei.
Ia a guardá-la quando notou que atrás do sobrescrito havia outro papel. Olhou com atenção. Era o retrato de uma jovem. Tinha-o tirado do bolso do morto juntamente com a carta. Olhou a dedicatória.
«A meu adorado pai, de sua filha Lilian», leu.
Estava diante do retrato da rapariga a quem havia de visitar para lhe transmitir as últimas palavras do pai. Que teria feito ele por ela? Por que razão ela tinha de lhe perdoar? Deu de ombros. Aquilo não era de sua incumbência.
Examinou de novo o retrato. Era um retrato muito deficiente, mas mesmo assim podia ver que representava uma bela rapariga, de grandes olhos, que sorria encantadoramente, deixando ver uma perfeita dentadura.
Guardou-o juntamente com a carta, no bolso da camisa, e olhou o empo sem vida que tinha ante si. Que fazer?
— O melhor será ir a Las Cruces e contar ao xerife todo o ocorrido para que mande buscar o cadáver.
Depois entregarei a carta e irei visitar a filha. Felizmente que este assunto não me leva a afastar do meu caminho, porque a senhora Brent também vive em Las Cruces.
A sua ideia dominante continuava sendo a de encontrar os pais e conhecer de uma vez para sempre a sua verdadeira identidade, mas não sabia que o destino o tinha metido numa verdadeira embrulhada e que teria de deixar passar algum tempo antes de poder continuar as suas pesquisas para solucionar o mistério que rodeava o seu nascimento e a sua vida.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

PAS571. Um cavalo sem cavaleiro caminha para o abismo

Montou a cavalo e encaminhou-se para Las Cruces, absorto nos seus pensamentos.
A tormenta surpreendeu-o a poucas milhas do povoado. A chuva aumentava de intensidade e em pouco tempo Danne estava totalmente encharcado. Lançou o cavalo a galope e conseguiu por fim chegar à entrada de uma espécie de gruta. Sem vacilar saltou da sela e correu para a gruta, podendo comprovar que era demasiado escura e funda. Fez entrar também o cavalo e depois, indiferente ao frio que as suas roupas molhadas lhe proporcionavam, aproximou-se da entrada do seu providencial refúgio.
A água continuava a cair abundantemente. O caminho passava junto à gruta e um metro mais distante abria-se um precipício, por cujo leito corria uma torrente que bramava ameaçadora.
Não poderia precisar o tempo que aí passou, mas de súbito o ruído dos cascos de um cavalo, que se aproximava a galope, tirou-o da sua abstração.
— Parece que vou ter companhia — murmurou com desagrado.
O ruído dos cascos soava cada vez mais próximo e um segundo depois um cavalo passava diante dos seus olhos. O ruído de um trovão afogou a exclamação de Danne.
— Tomou o freio nos dentes — murmurou. — E não leva cavaleiro!
Olhou o cavalo que se afastava. De súbito viu como patinava no barro viscoso do caminho e resvalava para o barranco. As suas patas traseiras perderam-se no abismo. Fincou as dianteiras no barro, num desesperado esforço para voltar ao caminho, mas foi resvalando pouco a pouco, até que por fim se perdeu na água da torrente, soltando um relincho escalafriante, que fez que Danne estremecesse.
Apesar da chuva, Danne aproximou-se do barranco, mas nada conseguiu ver. Só ouviu os relinchos do cavalo moribundo.
Eram uns relinchos de agonia, mas tão cheios de dor e angústia como os de um homem agonizante. Depois um leve relincho, um só mais. Por fim mais nada. Só o ruído da torrente que sepultava mais um cadáver.

domingo, 24 de janeiro de 2016

BUF103. O filho do mistério


(Coleção Búfalo, nº 103)
 
Este livro, com uma capa deplorável, até é engraçado. Um homem que não conhece a sua identidade, posto repentinamente perante a notícia de que os seus pais não são quem pensava, parte para o desconhecido procurando saber quem é.
A caminhada que encetou trouxe-lhe alguns encontros surpreendentes e um mapa. Curiosamente, este mapa levá-lo-ia até quem poderia trazer-lhe os motivos pelas quais alguém o havia adotado e lhe tinha atribuído o nome que usava.
No final, o encontro com a bela Lilian foi a sua melhor recompensa.

sábado, 23 de janeiro de 2016

PAS570. Uma vingança implacável

Mal se viu na rua, «Faro» Robinson correu para o estábulo publico, montou num dos cavalos e obrigou-o com as esporas a galopar rapidamente, dirigindo-se com desespero para os Termos.
A ideia do jovem foragido era a de apanhar o oiro que guardava no refúgio e sair precipitadamente para outro Estado. Ali, em Dakota, a vida no futuro ser-lhe-ia impossível.
Já, não se lembrava da bela Eleonor, nem de Martha, nem do homem da cara de furão, o ultimo que havia caído as mãos da Lei. Um grande pânico espicaçava-o e só desejava pôr a maior quantidade possível de terreno entre ele e Rapid City.
Chegado ao refúgio, começou a disparar contra as aves de rapina que enchiam as galerias; mas quando conseguiu chegar ao sítio onde havia escondido todo o produto das inúmeras pilhagens, carregar com ele e sair de novo para o exterior descobriu, aos primeiros alvores do dia, um cavaleiro que, decidido, avançava na sua direção. Semicerrou as pupilas amareladas, langou uma maldição ao reconhecer Tony Mitchell no cavaleiro, empunhou os revólveres quase maquinalmente e meteu-se numa das cavernas para esperar o seu inimigo e disparar sobre ele à traição.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

PAS569. Por que se morre por um foragido

— Já acabaste, filha...?
Martha entrou no quarto de Eleonor. Esta, desde que seu pai morrera, mal saia dos seus aposentos. O golpe havia sido demasiado rude, e por mais que Richard Maloney, Tony Mitchell e a própria Minetake tivessem tentado convencê-la a distrair-se, a fazer a sua vida normal, não o haviam conseguido.
— Ouvi abrir-se a porta da rua. Era Dick?
— Sim, era ele... Esta no gabinete de teu pai... que descanse em paz. Quer que vás ali. Disse-me qualquer coisa acerca de mandar fechar o estabelecimento.
— Por que razão não me veio ver primeiro? Não achas a sua atitude esquisita?
— Eu... não... Sabes que a sua opinião é a de que salas desta clausura... Uma filosofia um pouco estranha, mas... Creio que deves ir... Pode ser que seja importante o que tem a dizer-te.
— Insisto em que devia ter vindo ver-me primeiro...
— Vamos, vamos, não sejas criança...
Sobre uma mesinha, o jantar de Eleonor estava intacto.
— Direi a Susan que retire isso... Quanto a Richard Maloney, que decides...?
Sobre o roupão, Eleonor O'Brien langou um ligeiro casaco de meia estação e dispôs-se a acompanhar a tia. Desceram ambas as escadas e entraram no «saloon» pela porta que Maloney utilizara minutos antes.
Uns segundos depois, as duas mulheres penetravam no gabinete.
A surpresa e o terror deixaram a jovem paralisada. Viu Maloney amarrado a cadeira, recém-recobrado o conhecimento, com claros sinais de haver sido maltratado, e sentiu que o mundo cedia sob os seus pés... Refez-se com grande esforço e olhou fixamente a tia.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

PAS568. Procurar bandidos e encontrar formoosas meninas

A cada saraivada de chumbo que enviavam para a caverna, respondia-lhes um novo e agónico alarido.
Ao fim de algum tempo, ao verificarem que do lado de dentro já ninguém respondia ao fogo, Richard Maloney e o companheiro deixaram de disparar, embora mantivessem os revólveres em posição de recomeçar a luta ao primeiro sinal de perigo.
— Não disparem... entrego-me...
— Estás sozinho? — perguntou Mitchell. — E os teus companheiros? — Mortos... Estão todos mortos... Não disparem, por favor! — Sai com as mãos atrás da cabeça — ordenou Maloney —e muito cuidado com o que fazes.
O foragido apareceu na abertura da caverna e deteve-se. Tony Mitchell pôs-se em pé, para ordenar que o outro avançasse até eles. Nesse momento, o bandido moveu uma das mãos que trazia atrás da cabeça e nela apareceu uma arma de fogo.
Não chegou a disparar. O próprio Mitchell levantou o revólver e apertou o gatilho duas vezes consecutivas. Um dos projéteis alcançou-o no coração e o outro no estômago.
Embora tudo tivesse acontecido com grande rapidez, ambos os jovens se admiraram de que o resto da quadrilha não houvesse acudido em seguida ao ponto onde se havia desenrolado a fugaz e sangrenta peleja. Mas nem por isso perderam tempo. Saíram do seu refúgio com grandes precauções e aproximaram-se do caído.
Depois de comprovarem que estava morto, apuraram o ouvido para verificar se na caverna ainda restava alguém com vida. Ouviram uns gemidos e Richard Maloney decidiu acender a pequena lanterna que normalmente usava suspensa no cinto, como um instrumento de ajuda no seu trabalho.
Voltou para o interior da caverna e avistou quatro vultos imóveis.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

PAS567. Razões para duas meninas não passearem sozinhas pelos campos

Mais propriamente para distrair a sua nova amiga, Eleonor O'Brien propôs a Minetake dar um passeio a cavalo e visitar, de passagem, a cabana que Maloney lhes havia oferecido. A manhã, soalheira e alegre, apesar de uma ligeira aragem que soprava do Norte, era propícia para a projetada excursão. Tony Mitchell tê-las-ia acompanhado de boa vontade, mas não o fez para não deixar o posto abandonado.
Montadas em magníficos animais, propriedade de Eleonor, as duas raparigas afastaram-se de Rapid City, prometendo estar de volta antes do meio-dia.
Eleonor O'Brien falou a Minetake da sua vida, dos seus amores com Richard Maloney e da leve oposição que o pai fazia às suas relações com o «rural». Segundo a sua opinião, o motivo de tal oposição residia no facto de Maloney não possuir outros meios de fortuna senão os braços e o coração.
Não contou, porém, a Minetake a absurda paixão que «Faro» Robinson nutria por ela e a insistência de sua tia Martha em favor do bandido. Sobre essas coisas tão íntimas e aborrecidas, preferiu guardar um prudente silêncio.
— Não te importes com o facto de Richard ser pobre — disse-lhe Minetake. — Se o amas como dizes, luta denodadamente pela tua felicidade e faz ver a teu pai que o dinheiro não conta em assuntos amorosos. Eu, no teu caso, não faria disso um problema.
Cavalgaram uns segundos em silêncio, contemplando a maravilhosa paisagem.
— Compreendo que sou uma tonta, Minetake — murmurou, por fim, a filha de O'Brien. — Mas é que me sei incapaz de dar o menor desgosto a meu pai... Se não fosse pelo grande amor que lhe tenho, já me teria casado com Dick. Já atingi a maioridade e posso fazê-lo se assim o entender.
— E o que pensa o teu noivo?
— Richard é bom e sumamente compreensivo. Deixou o assunto nas minhas mãos, convencido de que, por fim, o papá consentirá. Eu também penso o mesmo. Ele espera falar-lhe um destes dias... Mas... conta-me alguma coisa acerca de ti, Minetake. De ti e de Tony. Como vos conhecestes? Porque vieste até tão longe?
A filha de «Urso Prateado» explicou à sua amiga tudo quanto esta desejava saber, concluindo com a odisseia da fuga e lamentando a partida que haviam pregado a seu pai. Não obstante, afirmou:
— Mas amo Tony sobre todas as coisas e casar-me-ei com ele.
— Mas, Minetake, eu também quero muito a Dick. Daria a minha vida por ele. No entanto, falta-me a tua força de vontade. Esperemos até ver o que acontece quando ele falar com meu pai.
— Oxalá tenhais sorte. Desejo-vo-la sinceramente. No pouco tempo que te conheço, dei-me conta de que és digna de encontrar a verdadeira felicidade.
Haviam chegado à cabana. Desmontaram à porta, prenderam os cavalos e penetraram no interior da humilde construção.
— Isto está bastante bom, hem? — disse Eleonor. — De princípio não tereis grandes comodidades, mas sei que Tony é habilidoso e com o tempo porá a casa em condições. Além disso, a paisagem é magnífica.
— Agrada-te?
— Muito, Minetake. Não encontro palavras para te exprimir a minha admiração. Pena que o pobre «Pecos» Burt não possa estar convosco!
— É verdade. Acredita que lamentei a sua morte como se se tratasse de um verdadeiro irmão.
Saíram e sentaram-se sobre a erva fresca, à sombra da construção. Do bosque vizinho chegava até elas um agradável sussurro, e alguns pássaros, aninhados no beiral do telhado, lançavam para o ar os seus alegres trinados. Tudo estava impregnado de uma grande paz e serenidade. No entanto, a paz e a serenidade eram enganosas. Um perigo espreitava as duas jovens.
Eleonor O'Brien foi a primeira a dar fé dele. Havia voltado a cabeça para arrancar uma margarida e viu os homens que se aproximavam. Ao seu grito, Minetake voltou também a cabeça e levantou-se disposta a apanhar uma pedra para se defender. Mas os bandidos caíram-lhe em cima e prenderam-lhe os braços.
— Miseráveis! — arquejou a jovem índia. — Que procurais aqui? Vós sois os que fugiram da prisão!
— Como o adivinhaste, pequena? — perguntou um dos foragidos com ironia.
«Faro» Robinson adiantou-se, ignorando Minetake. Todo o seu interesse ia para a pessoa de Eleonor O'Brien.
— Voltamo-nos a ver, Eleonor, e desta vez no meu terreno.
— O que te propões fazer?
— Cansei-me de esperar, querida. Tenho a tua imagem gravada no cérebro com os contornos desenhados a fogo, e é-me impossível arrancá-la. Tu e a tua amiga virão comigo.
Fez um gesto aos restantes bandoleiros. Tratava-se, efetivamente, do grupo de fugitivos. «Faro» Robinson havia-os libertado e todos, sem exceção, haviam decidido fazer parte da nova quadrilha criada por ele. Amarraram os cavalos junto aos das raparigas e penetraram na cabana, levando Minetake.
— É um atropelo de que, apesar de tudo, o julgava incapaz — sussurrou a filha de O'Brien.
«Faro» Robinson cravou de novo as pupilas amareladas no rosto ligeiramente sufocado da jovem.
— Tu és obstinada, mas eu não o sou menos. Veremos por fim quem vence. Que viste em Richard Maloney que eu não tenha?
— Ele é um homem honrado!
O foragido levantou a mão e deixou-a cair com força sobre a face de Eleonor. Naquele momento, dentro da cabana, soou o alarido de um dos homens de Robinson, seguido por um grito de Minetake.
— Que aconteceu, rapazes? -- inquiriu o cabecilha em voz alta.
— Esta ferazinha morena mordeu-me — explicou um deles. — Eu, para me defender, vi-me obrigado a dar-lhe uma bofetada.
O homem que falara havia entretanto surgido à janela.
— Estão uns para os outros! — murmurou a filha de O'Brien, com os olhos húmidos.
«Faro» Robinson ignorou o comentário da jovem.
— Deixai-vos de brincadeiras e amordaçai-a convenientemente ordenou. Sairemos em seguida para o esconderijo.
— Vocês são infames — prosseguiu Eleonor, compreendendo o que havia acontecido com a amiga.
O cabecilha não replicou. Agarrou a jovem pela mão, arrastou-a para o cavalo e em menos de um minuto manietou-a de tal forma que não pudesse escapar. Os restantes bandidos fizeram o mesmo com Minetake, e, pouco depois, com ambas as mulheres prisioneiras, galopavam rumo ao Sul, para o esconderijo que os foragidos tinham nos Termos...

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

PAS566. Nunca faças perguntas a um homem escondido

Passados vários dias, a ferida de «Faro» Robinson estava suficientemente cicatrizada para permitir ao cabecilha dos bandidos descer a Rapid City, a fim de visitar 'William O'Brien e combinar com este a melhor forma de libertar os presos.
Morto «Maneta» Abraham, o jovem foragido tinha a certeza absoluta de que, se os tirasse da prisão, todos os homens que haviam pertencido ao bando daquele se uniriam a ele de bom grado.
O problema estava, pois, no modo de os libertar. Sabia por experiência própria que nenhum dos batedores se deixaria subornar, pelo que pensava sinceramente que a solução tinha de ser encontrada noutro lado, com a ajuda do pai de Eleonor. Ele era bom para assaltar caravanas em grupo, mas não para idealizar um plano em que a inteligência predominasse sobre a força.
Pouco depois de anoitecer, selou o cavalo e partiu para o povoado. Sabia que não se podia apresentar ali despreocupadamente e, por isso, esperou que as sombras noturnas se apoderassem da terra.
Uma vez em Rapid, conduziu a sua montada a passo por algumas ruas pouco frequentadas. Estava quase a alcançar o seu objetivo — a porta traseira do «saloon» de O'Brien — quando algo lhe chamou a atenção.
Uma das janelas posteriores da residência do seu amigo estava iluminada e, através dos vidros, percebiam--se várias figuras, que se moviam no interior. Numa dê-las reconheceu Eleonor e não teve força de vontade para passar de largo.
Aproximou-se da vidraça e pôde comprovar que a jovem se encontrava acompanhada por uma rapariga morena, de visíveis traços índios, e por um homem de uns vinte e cinco anos, vestido como os caçadores.
«Faro» Robinson não podia adivinhar que os hóspedes de Eleonor eram Minetake e Tony Mitchell.
Os dois jovens haviam sido apresentados à rapariga naquela mesma tarde e a filha de O'Brien fizera questão em que o caçador e a rapariga pele-vermelha a acompanhassem a casa para tomarem todos um refresco. Nem Tony Mitchell nem Minetake haviam sabido recusar e ali estavam os três, percorrendo os salões, sob a admiração de Minetake e os elogios de Tony Mitchell ao muito e belo que a casa encerrava.
«Faro» Robinson sentiu-se invadido pelo ódio e pela inveja só pelo fato dos jovens serem convidados da rapariga que desejava de modo doentio. Apertou os punhos com raiva.
— Que faz aí, amigo? Que observa com tanta insistência?
A voz de «Pecos» Burt soou à retaguarda de «Faro» Robinson e este voltou-se com os revólveres nas mãos. Não respondeu nem articulou a menor palavra. Tinha visto a morte demasiado perto da última vez que estivera no povoado e o medo de cair de novo ferido fê-lo premir o gatilho sem permitir ao outro o menor movimento de defesa.
Na noite, os dois disparos ecoaram lugubremente e as balas acertaram em cheio no peito do mais velho dos Mitchell. Sob todos os prismas, foi um assassínio.
«Pecos» Burt cambaleou. Quis sacar as suas armas, mas, sem forças para isso, caiu de costas. O foragido, receoso, correu para o cavalo e perdeu-se na noite. Tony Mitchell saiu à rua, atraído pelos disparos, e encontrou-se com o corpo moribundo.
Quando se aproximou e viu que era seu irmão, algo como uma forte descarga elétrica sacudiu o seu corpo. O grito que proferiu pareceu mais o de uma estranha fera.
— Burt! Quem disparou sobre ti?
«Pecos» Burt sorriu tristemente. Pela comissura dos seus lábios começou a deslizar um fio de sangue.
— Agora... fui... eu... o caçado... — arquejou. — Não... o... conheço...
Minetake e Eleonor haviam acudido também e lágrimas de verdadeiro pesar corriam-lhes pelas faces. As de Minetake pareciam de fogo.
Tony Mitchell não permitiu a «Pecos» Burt continuar a falar. Levantou-se do chão e com ele nos braços dirigiu-se para o posto de «rurais». Maloney surpreendeu-se ao avistar Tony Mitchell carregado com o ferido. Aproximou-se dos recém-chegados e urna exclamação de surpresa e dor acudiu aos seus lábios ao verificar de quem se tratava. Colocaram Burt Mitchell numa cama e tentaram por todos os meios estancar-lhe a hemorragia.
— Vou... andando... Tony — falou «Pecos» Burt, entre estertores. — Acertaram-me... bem...
— Não fales, Burt -- recomendou o irmão, com lágrimas nos olhos. — inútil... Tony... O meu assassino é... um homem jovem... com pupilas... amarelas.
— «Faro» Robinson! — exclamou Richard Maloney. — Pelos sinais não pode ser outro.
Minetake e Eleonor O'Brien choravam em silêncio. Tony Mitchell tinha os dentes cerrados e os olhos fixos no descomposto rosto do moribundo.
— Que sejais... muito... felizes... Tu, Minetake... cuida... dele...
Não voltou a pronunciar qualquer palavra. Deu um suspiro, inclinou a cabeça e morreu. No rosto ficou a pairar-lhe um leve sorriso.
Tony Mitchell mostrou-se aniquilado. Burt e ele jamais se haviam separado desde que ficaram órfãos. Haviam crescido juntos e juntos percorreram a pradaria, dedicados à sua profissão de caçadores. Quantas vezes se haviam salvado a vida mutuamente, em luta contra os índios, contra os bandoleiros, contra as feras!... E agora, um maldito cocote havia-o privado do seu companheiro de sempre. Ergueu-se perante o cadáver de «Pecos» Burt e murmurou com voz rouca:
— Eu vingar-te-ei, irmão. O sangue desse assassino pagará o teu!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

PAS565. Encontro do bandido ferido com a filha do dono do «saloon»

«Faro» Robinson meteu os revólveres nos coldres e reparou de súbito que o sangue lhe corria pelo braço esquerdo e lhe chegava aos dedos. Apalpou o lugar da ferida e pôde comprovar que não era grave, embora se tornasse necessário estancar a hemorragia o mais cedo possível. Voltar ao «saloon» era-lhe totalmente impossível, pois William O'Brien tinha a certeza, já deveria ter fechado a porta dos fundos e estaria agora no seu gabinete para fingir que não havia tomado parte cativa na contenda.
Ocorreu-lhe outra solução e um sorriso distendeu os seus lábios. Acabava de pensar em Eleonor.
Desde que a conhecera, o jovem foragido sentia urna certa inclinação amorosa pela filha do seu amigo O'Brien. Por casualidade, encontrara-a um dia na rua, falara um momento com ela e já não a pudera esquecer.
Quis vê-la outras vezes, falar-lhe do seu louco amor, mas a rapariga, amavelmente, fizera-lhe ver a distância moral que os separava.
No entanto, «Faro» Robinson sabia que tinha ali dentro uma aliada incondicional: Martha, a mulher de rosto e lábios murchos. Lembrava-se muito bem que esta o havia incitado sempre e que lhe havia servido de intermediária e testemunha das poucas entrevistas que Eleonor lhe concedera.
Deslizou silenciosamente para uma das janelas traseiras do edifício e tentou a sorte. Estava fechada. Ia a afastar-se para repetir a tentativa com outra janela quando a porta se abriu na escuridão, sem fazer outro ruído que não fosse o de um leve chiar de gonzos.
— Entra, Robinson — disse-lhe uma voz ligeiramente abafada e trémula. — Tenho acompanhado o desenrolar da luta e por momentos temi que te matassem.
— Ainda não se fundiu a bala que há-de acabar comigo.

domingo, 17 de janeiro de 2016

PAS564. Um branco foge com a filha do grande chefe índio

Os cascos dos cavalos, ao resvalarem pela rochosa pendente, levantavam miríades de chispas, que iam rebentar, raivosas, contra as paredes do estreito desfiladeiro. Ofegantes, os dois cavaleiros, homem e mulher, estimulavam freneticamente as montadas, exigindo-lhes o máximo esforço.
Tony Mitchell, o homem, sabia que se lograssem vencer a difícil passagem e atingissem a pradaria, o perigo de serem capturados diminuiria consideravelmente. Além disso, enquanto fugiam, havia concebido um plano, que esperava que lhes trouxesse bons resultados.
Atrás deles, a uma escassa centena de metros, os gritos dos «comanches» soavam de modo estridente. Não passavam de meia dúzia, mas faziam tão grande gritaria que quem não soubesse o seu número iria acreditar que se tratava de uma centena pelo menos.
O cavaleiro que precedia Mitchell, uma jovem índia de esplendorosa beleza, voltou o rosto para o seu companheiro e sorriu-lhe com certa traquinice.
— Haup! — gritou .— Um pouco mais e conseguiremos iludi-los.
— Creio que sim, Minetake. Para a frente!
A saída do desfiladeiro, ambos os cavaleiros, agora lado a lado, prosseguiram no seu frenético galope em direção a um grupo de rochas irisadas pelos raios do sol nascente.
Uma vez refugiados no granítico parapeito, Tony Mitchell lançou mão da sua carabina, procurou um lugar apropriado para disparar comodamente, e esperou pela aparição dos peles-vermelhas.

sábado, 16 de janeiro de 2016

BUF102. Com sangue também se paga


(Coleção Búfalo, nº 102)

A. G. Murphy. é um especialista em questões de caravanas que têm de atravessar território índio, deixando sempre uma porta aberta para o diálogo, e vencer batalhas com salteadores que gostem de se apropriar do alheio. Desta vez, a acção essencial não é no interior da caravana, mas, fora dela, com forças que combatem esses salteadores.
Para além disso, consegue introduzir nas suas novelas acções em que a paixão entre dois seres seja em geral contrariada. Neste caso, a personagem central apaixonou-se por uma linda princesa índia, Minetake, e resolveu raptá-la a fim de consumarem o seu amor.
Assim, em determinado momento, o herói desta novela vê-se acossado pelos índios que pretendem castigá-lo pelo seu atrevimento (e abuso de confiança, pois abriram-lhe as suas tendas e partilharam a sua comida) em se apoderar de Minetake e, por outro lado, em luta aguerrida contra salteadores muitas vezes traiçoeiros...
Já sabem quem ganhou no fim, mas as perípécias são bastante engraçadas.
A capa, não assinada, retrata-nos momentos dessa luta fantástica que a novela descreve.

sábado, 9 de janeiro de 2016

PAS563. O sacrifício de uma mulher

— Essa mulher salvou-te a vida, Ken, tal como eu te fiz na prisão...
— Agora, Dinah, não me fales nisso.
— Não, Ken. Não me posso calar. Ela e eu, de certo modo, estamos em paz. Deves o mesmo a ambas, mas o gesto dela tem mais mérito.
-- Quando deixarás de te torturar com essas ideias absurdas?
— Não posso. Ela acreditou em ti, sabendo que eras um fugitivo. Acreditou nas tuas palavras; eu não. Eu pensei sempre que roubarias o dinheiro e acreditei que o tinhas roubado. Ajudei-te a fugir, sabendo quem eras e o que podia esperar de ti. Porque acreditará ela que podes ser diferente, que podes viver como um homem honrado?
— Confiou em mim, simplesmente. Acreditou quando todos não acreditavam. Assim são as mulhe-res. E quando me receberam como um herói, ela, pelo contrário, sentiu aversão por mim. Nunca se pode entender as mulheres, Dinah...
Estavam ali, na pequena lomba nas cercanias das Tumbas. Umas rochas formavam uma defesa natural, ocultando-os de possíveis curiosos. Meteram o cavalo num pequeno vale, acocorando-se eles nas sombras, suportando o frio da madrugada.
— Oh Ken, tenho medo de te perder -- ciciou ela, aconchegando-se a ele, — Essa rapariga é bonita... e ama-te.
---- Não digas tolices. O nosso mundo é diferente. Tu e eu, em troca, pertencemos ao mesmo.
— Sim, Ken, e é o que me assusta. Que comeces a deixar esse nosso mundo...
Millard não respondeu. Fingiu adormecer e ela respeitou o seu silêncio. Pouco depois, dormiam ambos. A luz do amanhecer despertou Millard, bem como um rumor próximo.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

PAS562. O pacificador desmascarado parte em busca do assassino

Tudo se havia perdido. Num só instante o castelo de cartas desmoronava-se. Tinha de acontecer mais dia menos dia. E acontecera precisamente agora, na sua noite decisiva, quando Ken Millard conseguiu vencer a tentação e iniciar o caminho da sua reabilitação...
Subitamente, a sua mão direita apareceu armada do temível «Colt» negro. No silêncio da cela a arma produziu um ruído estranho ao cair.
— Abram caminho! — rugiu Ken Millard. — Abram caminho, senhores, ou disparo sem piedade!
— Bartok! — Exclamou Morrow, atónito, olhando-o com deceção.
— Não sou Bartok, já o ouviram! Sou Ken Millard, um fugitivo da Lei, um desertor do presídio onde cumpria pena por ter vivido sem honra nem dignidade! Agora quando dominei o meu instinto, quando começava a ser decente é quando ninguém me acredita e me atiram de novo para o cárcere! Pois seja, já que assim o querem! Ken Millard, devolve--lhes a sua estrela de comissário de opereta! -- E arrancando-a do peito com violência, atirou-a ao chão. — Dêem-me passagem ou abri-la-ei a tiro!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

PAS560. Encontro com o pacificador que levou as botas para o Além

Estendido no chão, de ventre virado para cima, e com os olhos já vidrados fitos no céu, viu-o por fim. Ainda estava vivo, apesar do sangue que copiosamente corria empapando a sua camisa, brotando de dois orifícios. Em frente dele, um pouco mais longe, um homem armado com um largo e afiado cutelo, jazia 'de bruços, com as costas cobertas de pó. Fácil era supor que teria sido outro dos atacantes do homem solitário e que fora este quem, antes de chegar a sua vez de ser banido da luta, devido à superioridade numérica dos adversários, aniquilara aquele homem.
Era loiro, talvez mais até do que Ken. De olhos também claros mas com um matiz esverdeado. Sem dúvida tinham sido sagazes, duros, penetrantes. Agora, porém, pouco a pouco, ficavam velados, privados de toda a expressão e vivacidade.
Ken saltou algumas rochas e inclinou-se sobre ele. Estudou as suas afiladas feições, muito lívidas pela aproximação do fim. A mão crispada., estendia-se ainda segurando a culatra de um revólver preto, de cano comprido.

PAS561. O pacificador apresenta-se em Las Tumbas

A face de Gene Morrow tornou-se lívida.
— Irving Dooleyl — exclamou roucamente.— Que lhe aconteceu?
Ninguém respondeu. E vendo bem, nem era preciso. Do que Dooley se podia ter lembrado, era demasiado evidente para que fosse preciso referi-lo em palavras.
Ali estava o próprio Dooley, perguntando-o em silêncio. Estava só, rígido, inanimado, sem vida. Várias balas tinham-lhe perfurado o peito e todas tinham entrado pelas costas.
Os homens que o fizeram deixaram-no cair sobre uma mesa. O seu corpo inanimado ressoou sobre as tábuas mal unidas. Alguém suspirou naquele silêncio, de forma a ser ouvido.
— Mataram-no -- disse friamente Shentall, avançando uns passos. Outra vítima dos nossos inimigos!
— Cuidado! — avisou outro. -- Não há provas contra o autor disto. Dooley apareceu morto nas suas fazendas. O seu rancho ardeu e as reses foram dispersas. Isto são os factos. Mas ninguém pode apontar um culpado.
— Eu aponto! — rugiu Morrow, fora de si, e avançando. Todos sabemos que ultimamente, Irving Dooley se revoltou contra a tirania dos Roderick! Sabemos pois todos quem moveu a arma homicida!
— Um momento, senhores, -- disse alguém dum extremo da sala. — Não estarão a precipitar-se temerariamente em seus juízos?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

PAS559. Um homem e uma mulher combinam reencontro em Las Tumbas

— Assim, não iremos longe, Dinah.
— Porque não? Já fizemos muito, Ken. Fugiste da prisão, iludimos os teus perseguidores. Há horas que cavalgamos e não vemos o mais leve rasto deles. Já passámos a divisória do Condado. Que mais podes querer? Aonde quererás tu chegar?
Millard não respondeu logo. Sentado em pedras junto do riacho rumoroso, orlado de canaviais e juncos, atrás dos quais eles se protegiam de qualquer pessoa que andasse pelas cercanias, começou a mover a terra com a ponta da sua pesada bota e franziu o sobreolho.
Depois, ergueu os olhos, claros e duros, para ela, dizendo pausadamente:
— Isto ainda é o princípio, Dinah. Eu peço mais alguma coisa. Não quero gozar de liberdade três dias e voltar para aquela prisão por dez anos, pendurado numa árvore, em qualquer lugarejo onde eu venha a ser reconhecido, depois de decidirem fazer justiça por suas próprias mãos.
— Mas quem te vai reconhecer? Estamos noutro Condado. Nunca estiveste aqui...

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

PAS558. Um homem e uma mulher fogem à prisão

O mais difícil estava feito.
Mas nem todos se tinham decidido e Ken sabia-o bem. Também ela se apercebera de tudo quanto ainda faltava fazer. Lia-se na sua expressão inquieta, na dilatação das suas pupilas e na tremura das suas mãos.
Tinham escapado, sim. Os muros cinzentos, tal como as roupas de Ken Millard, tinham finalmente ficado para trás. Era um pesadelo bem escuro suportado durante anos. Poucos anos, sem dúvida. Mas tinham que ser mais, muito mais...
Os cavalos eram resistentes. Mas os dos cavaleiros e soldados também o eram. E com a vantagem de serem muitos mais. Se algum desfalecesse, outros continuariam a sua perseguição, aquela caçada humana. Se um dos seus falhasse... tudo estaria perdido.
— Depressa, Ken! — exclamou, esporeando a sua montada desesperadamente. — Já ali vêm no alto da montanha! São pelo menos vinte!
— Não percas a serenidade, Dinah — recomendou Ken secamente. — Se espicaças muito o animal, corres o risco de rebentá-lo ou de o esgotar, na melhor das hipóteses. Então não poderás contar mais com ele. É preferível manter o mesmo ritmo. Estes animais são a nossa única esperança. A divisória não pode estar longe. Pelo menos cruzaremos a do Condado. Aí estaremos um pouco mais seguros. Parece-me que não conhecerão bem a localização do Condado vizinho.
— E tu conhece-la bem?
— Também não. Mas estou habituado a esquivar-me aos meus perseguidores — riu-se Ken, duramente.
Continuaram o caminho. O cavaleiro vestido de cinzento, com as suas roupas grosseiras e o número de presidiário ainda posto no peito, corria desenfreadamente, sem no entanto acossar a montada. Sabia quanto um cavalo dá de si, quase tal como pode dar um homem. Um cavalo, muitas vezes, significa a salvação do seu cavaleiro, se este o conhecer bem.
O caminho agora era plano e seco, o que era um inconveniente para a fuga. Além disso, o vento impetuoso, soprava contra eles, levantando nuvens de areia, que molestavam os cavalos, ao introduzir-se--lhes nos olhos e na boca tanto dos animais como dos cavaleiros.
Ken sentia a irritante areia entre os dentes, cuspindo com frequência. Fazia frio e o ar cortava a pele. O céu estava coberto de grossas nuvens negras e tristes. Tristes como as paredes impenetráveis da Prisão Territorial, sujas como a própria prisão. Mas, mesmo assim, Ken preferia isto. Desejava cavalgar sob nuvens assim nem que fosse toda a vida, a estar encarcerado. Não se sentir emparedado por altas muralhas de pedra e com a sua liberdade circunscrita a um pátio retangular, de pedra, gélido, ou então na velha cela número trinta e sete. Não se sentir junto com outros infelizes que não tinham tido a sua sorte e audácia, continuando pois lá. De resto, também não tinham uma Dinah, trabalhando cativa e febrilmente, cá por fora, para o tirar de lá.
Olhou de soslaio para Dinah. Armas, cavalos, a oportunidade de fugir, tudo fora obra dela. Ninguém tinha suspeitado duma mulher. E ainda menos que ninguém, a própria sentinela de serviço naquela noite. Quando ela se apercebeu, já Dinah lhe ia vibrar o golpe certeiro na cabeça. Após isto, não lhe foi difícil entrar na prisão deserta, silenciosa. Escolhera bem o ponto de acesso. Próximo do pátio para onde davam as portinholas das celas. Uma delas era a de Ken. Uma arma rapidamente passada por uma corda através das grades. E logo ela se foi embora.
Ken queixou-se em voz alta. O carcereiro acudiu. Era um preso dócil pelo que de nada podia desconfiar. Quando o guarda entrou, Ken subjugou-o. Apoderou-se das suas chaves e da arma. Os restantes não quiseram fugir. As suas penas eram pequenas, e a sua fuga podia significar a morte. Não se arriscaram, mas desejaram-lhe boa sorte.
Logrou alcançar a plataforma exterior, depois de derrubar inesperadamente outro guarda. Quando deram conta do que se passava, na torre de controle, e começaram a disparar sobre ele, já, tinha saltado o muro e pulava para um cavalo, junto de Dinah, que o aguardava mesmo junto da cerca de pedra.
Depois disto, a perseguição... E aí vinham eles. Cavaleiros, guardas e soldados da guarnição do presídio, no seu encalce.
Desciam já um monte, a galope. Os tiros ressoavam naquela manhã. As suas fardas de cor avermelhada eram como que coisas sem cor naquela luz do amanhecer escuro e frio.
As balas sibilavam bem perto dos cavalos em fuga, Ken voltou-se sem afrouxar a marcha. Disparou também sobre eles. Não sobre os homens. Não queria mortes na consciência.
Atingiu um cavalo que tombou espetacularmente monte abaixo, arrastando o cavaleiro e fazendo cair mais três ou quatro cavaleiros, que vinham bem lançados após esse.
Ken riu-se inclinando-se sobre a garupa da sua montada e fazendo-a correr velozmente aos ziguezagues para evitar que lhe acertassem. Dinah, sempre astuta, adotou igual tácita sem precisar de avisos,
Resultou, pois, que os tiros, agora, eram mais e disparados nervosamente, procurando atingir qualquer uma das presas. A mudança constante dos dóis alvos, porém, impedia que eles fizessem pontaria certeira.
A isto juntou-se a nuvem de pó levantado pelo vento, e que pouco a pouco constituiu uma cortina protetora dos perseguidos.
Ken pensou ser este o momento propício para desnortear os seus perseguidores e ganhar uns minutos preciosos. Com sorte, podiam até atingir uma hora de vantagem.
A areia no ar, batendo nós seus rostos, parecia alfinetes, mas Ken Millard não se preocupava com dores físicas. Através da poeirada muito densa, mas conveniente, vislumbrava umas estreitas rochas à sua esquerda. A seguir era a planície, lisa e deserta até ao limite do Condado. A planície era agora totalmente invisível devido à poeirada.
— Vira para a esquerda, Dinah! -- disse com rapidez.— Para esses estreitos!
Ela pareceu perceber. Assentiu com a cabeça e lançou-se qual flecha até lá, imitando a rápida manobra de Ken, que não mostrou hesitação alguma.
Os cavalos vacilaram pressentindo a profundidade das brechas abertas no caminho. Ken, então esporeou a sua montada e Dinah fez o mesmo. Saltaram.
Eram fundos barrancos, autênticos fossos, onde os animais se precipitavam violentamente, mas a terra era macia lá em baixo, evitando assim um trágico desastre para os cavalos e suas montadas.
Sobre as suas cabeças, atrás de si, ficaram as rochas que formavam o despenhadeiro e Ken, ergueu a cabeça, hirto, empunhando o revólver com mão firme. Dinah, estendida junto do seu cavalo, tirou um. «Winchester» e aguardou, olhando para cima.
 Se algum rosto aparecesse lá em cima, significaria que a manobra fora descoberta. E isso seria então o fim, mas um fim que Ken estava disposto a vender por alto preço bem como o da mulher que o havia salvo.
Ouvia-se, distintamente, o galopar dos cavalos. Tremeu a terra à sua volta. As patas dos cavalos batiam no chão com tal ritmo que o estremeciam. Cada vez se aproximavam mais...
O dedo indicador de Ken Millard curvou-se no gatilho. Sob o tecido cinzento do fato de presidiário, vibraram músculos e nervos.
Foi nesse momento que os cavalos passaram em grande velocidade, bem perto do despenhadeiro. Parecia um trovão que rebentava sobre eles. A pouco e pouco ia-se perdendo na distância, até deixar de se ouvir completamente, levado pelo soprar impetuoso do vento.
Um ruído que, agora, parecia ser a Ken, verdadeira música angelical...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

CLF055. O "Colt" dita a sentença

 
(Coleção Califórnia, nº 55)
Ken Millard foi ajudado a fugir da Prisão Territorial por uma mulher apaixonada, Dinah. Durante a fuga e com planos para novos assaltos em busca de dinheiro, resolveram separar-se para se reencontrar em Las Tumbas, acreditando que assim teriam maiores hipóteses de escapar aos perseguidores.
Las Tumbas vivia uma situação dramática com roubos e assaltos pelo que alguns dos seus habitantes se reuniram para contratar um pacificador que os levasse a desfrutar de novo de uma cidade pacífica.
O pacificador foi atacado enquanto se dirigia para a cidade e o acaso quis que um dos fugitivos se encontrasse com ele e com os seus atacantes, levando-o a desfazer-se deles, não conseguindo no entanto salvar-lhe a vida. Recolheu os seus bens e a carta de apresentação em Las Tumbas. Iniciava-se assim um novo capítulo na vida de Ken Millard que, de fugitivo, se veio a converter em representante da lei.
Mas a situação em breve derivou para um possível desmascarar de Ken. E, um dia, Dinah chegou a Las Tumbas e pô-lo perante a sua promessa de arranjar mais dinheiro. No entanto, esta fabulosa mulher acabou por dar a sua vida para o salvar.
Magnífico livro de que vamos deixar algumas passagens, acompanhando a relação de Ken e Dinah, e de que disponibilizamos ficheiro para download.