sábado, 31 de agosto de 2013

BIS011. Aves de rapina

(Coleção Bisonte, nº 11). Capa e texto indisponíveis

CNT002. Um homem do Oeste


Conto originalmente publicado no Mundo de Aventuras, nº 367, com autoria de Orlando Marques e desenhos de José Antunes. Orlando Marques foi um contista em várias áreas temáticas e muitos dos seus trabalhos foram publicados no Mundo de Aventuras, primeira e segunda série. É fácil encontrar referências a este autor na Biblioteca Nacional. Pelo menos para nós, José Antunes é completamente desconhecido, não nos tendo sido possível encontrar outros trabalhos, embora admitamos que não colaborasse neste por acaso. O conto é apresentado na íntegra através duma digitalização do MA. O leitor poderá vê-lo com a dimensão original se o abrir numa janela aparte e depois clicar sobre o mesmo.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

CWB014. O ás de espadas



Sempre pensara ser filho daquele homem que o educara e lhe ensinara todos os segredos com as armas e, de repente, aquela revelação mudou toda a sua vida.
"Caímos sobre o rancho de surpresa. Não ficou ninguém vivo. Eu fiquei para trás vigiando. Não convinha deixar qualquer testemunha. Retirava-me por fim quando ouvi o choro de uma criança. Aproximei-me para... Agarrei-o pensando deixá-lo em qualquer parte. Essa criança eras tu... Julgaram endoidecer quando me viram contigo. Discutimos, mas chegámos a acordo... Aquela foi a nossa última aventura. Separámo-nos quando vendemos o gado roubado. Eu fiquei contigo...
Os teus pais morreram. Vi-os ambos juntos, caídos no chão e cobertos de sangue. Teu pai jogava as cartas e ficou com um ás de espadas na mão...".
A partir daquele momento abandonou tudo o que pertencera àquele bandido que o criara e os velhos companheiros deste foram aparecendo mortos com um ás de espadas sobre o corpo. A sua fama ultrapassou todas as fronteiras... e um dia voltou à terra natal onde, com surpresa, reencontrou as suas raízes e algo mais...
Eis um livro de Joe Mogar, autor com 52 obras registadas em Portugal.
A capa, assinada por um Francisco Savi, mostra um homem abatido e uma jovem perante aquele que ficou conhecido como o "Ás Negro".
(Coleção Cowboy, nº 14)

POL020. Xeque à lei


(Coleção Pólvora, nº 20)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

POL017. Por caminhos opostos


(Coleção Pólvora, nº 17)


Três amigos, após múltiplas aventuras, separaram-se com a intenção de se reencontraram no mesmo local um ano depois.
No dia combinado todos se dirigiram para lá. Mas os caminhos distintos que seguiram impediram que o reencontro se realizasse. Um deles, convertido em assassino, foi morto em perseguição que ocorreu quando se dirigia para o reencontro. Um outro, ladrão de gado, caiu num ninho de cobras de onde não conseguiu sair. Finalmente, o melhor deles, encontrou uma jovem linda a quem livrou da morte e encontrou a felicidade. Foi este o único a chegar ao ponto de encontro. Passado algumas horas, consumido pela angústia de nada saber do que acontecera com os amigos, regressou aos braços da esposa amada.
O livro é o retrato das três situações, elaborado com a perícia de Fel Marty. Apesar de tudo, não consegue tirar a ideia de ser a soma de três histórias diferentes.
 
 

POL016. Combatentes de Norte


(Coleção Pólvora, nº 16)

terça-feira, 27 de agosto de 2013

PAS057. O segredo do velho mineiro

Mc Dawson, o xerife, tinha a espingarda empunhada e um sorriso trocista nos lábios. A surpresa que ocasionara dava-lhe certo prazer. Só não compreendia a razão do mascarado voltar até ali com a mala-posta e o que pretendia fazer com aquele homem e aquela rapariga. Mas isso também pouco lhe interessava, pois a sua missão era prender o assassino de Dungan – e ele estava ali, com o seu fato estranho, ao alcance do ponto de mira da sua arma.
Todos os presentes levantaram os braços e o xerife, numa atitude que reconheceu cheia de dignidade, desceu das rochas, fazendo um sinal com o braço, para que os seus homens os seguissem.
Rapidamente desarmados, ficaram À mercê do representante da lei. A rapariga tremia e os seus olhos tinham reflexos de terror. E por instantes o silêncio no vale não foi interrompido…
O Xerife que saboreava a espetativa como se fosse um bom«whiskye», atravessou com lentidão o espaço que o separava do mascarado e, ante o olhar irónico deste, - coisa que o perturbou, - tirou-lhe o capuz num gesto seco.
Se esperava encontrar alguém conhecido, enganou-se. A cara que surgiu À luz do dia era estranha para todos.
- Como se chama? – perguntou Mc Dawson.
- Corvo! – respondeu o outro.
O xerife teve uma gargalhada.
- Isso não é nome de gente!
Mas não obteve resposta. O ex-embuçado tinha o rosto vincado em pedra e nem uma das feições se alterou com aquela exclamação.
- Que faz? – voltou o xerife.
- Persigo o Mal e luto pela Justiça!
A frase era sonante demais para não chamar a atenção. Mc Dawson, já aborrecido com o rumo dos acontecimentos, concluiu:
- Bem! Deixemos as representações para o «saloon»… Em nome da lei, está preso pela morte de Dungan!
O Corvo teve um gesto de ironia e emendou:
-Está enganado, xerife. Essas palavras não são para mim, são para aquele senhor! – e apontava para o passageiro da mala-posta.
Mc Dawson voltou-se, impelido pela firmeza com que o Corvo fizera aquela afirmação, e teve um cumprimento:
- Well, Mr. Peacock. Em viagem de negócios, não? Muito hábil é este bandido em querer metê-lo nesta embrulhada! – e voltando-se para o Corvo: - O seu plano não era mau. Pelo menos, tinha a vantagem de estabelecer confusão. Porém, esqueceu-se que já conheço há muitos anos Mr. Peacock e que ele é uma das pessoas mais consideradas de «White City>. Além disso, é o banqueiro da cidade e nada há que brigue com a sua honestidade. É pena, mas como vê, errou no alvo…
O Corvo, sem se alterar, deixou cair os braços e com à vontade que tocava as raias da loucura, ignorando os canos que o visavam, avançou na direção do banqueiro e da rapariga.
- Com autorização do seu amigo xerife. Meu caro banqueiro, vamos continuar a conversa que ele veio interromper.
O outro teve um estremecimento e gritou para o representante da lei:
- Eh! Mc Dawson! Não deixe que este homem me aborreça com as suas palavras. Se é um assassino, prenda-o! De contrário, mande-o embora!
O xerife ia para intervir, mas a voz do Corvo fê-lo mudar de ideias.
- Um momento. Perante todos acusei este homem da morte de Dungan e tenho o direito de justificar a acusação. Se não mo deixarem fazer, atraiçoam todos os princípios da Lei.
A rapariga olhava admirada para o estranho e sentia que ele fosse realmente o assassino de seu pai. Via uns olhos grandes, muito negros, que não podiam mentir nem ser falsos…
- Já caminhava há oito dias para «White City». Uma noite resolvi acampar neste vale. Preparava o jantar quando ouvi uma voz por trás daquele rochedo – e o Corvo apontou para umas rochas que se elevavam a pequena distância. – Caminhei para lá e encontrei um pobre velho louco de alegria que revirava nas mãos algumas pedras de ouro. Assim que me viu, escondeu-as e julgou-me ladrão. Tranquilizei-o e tive o prazer de ouvir da sua boca a revelação extraordinária de que neste vale existe uma grande mina do precioso metal. Aconselhei-o a voltar para a cidade e registar os terrenos no banco. Pediu-me para que não o abandonasse e prometeu-me tornar capataz, logo que iniciasse a exploração da mina. Disse-me quinda que tinha uma filha e que lhe ia escrever para ela voltar… E o velho Dungan, pois era ele, partiu feliz para «White City». Dois dias depois, quando me preparava para o visitar, vi Peacock entrar sorrateiramente na sua cabana… Como se adivinhasse qualquer coisa de mau, corri, mas já só encontrei o cadáver do velho. E uma pancada traiçoeira na cabeça arrancou-me a consciência. O resto já todos sabem. Falta esclarecer, simplesmente, e isto só agora compreendi, que Peacock, como banqueiro, recebeu da boca de Dungan a declaração da descoberta da mina e, sabendo que o velho era sozinho na vida, tendo somente esta filha, resolveu suprimir a ambos. Primeiro, o pai; à chegada da filha, viu-a e quando ele, depois, assistiu, resolveu voltar, pois nada fazia em «White City», pensou em suprimi-la Sem qualquer pretendente, a mina revertia a favor do Banco!
O silêncio era maior do que nunca. Peacock, cabisbaixo, sem uma palavra, avançou para o xerife. Este obrigou-o a voltar para a mala-posta, com a rapariga e, quando se preparava para agradecer, viu que o Corvo saltava para o cavalo e, com um aceno de despedida, lançava a montada a galope através do Vale…
 
 
A seguir: Coleção Pólvora, nº 16 - Combatentes do Norte

PAS056. A estranha fuga do mascarado

O xerife empunhou a arma, mas nem sequer se chegou a servir dela. O mascarado, como se compreendesse as suas intenções e conhecesse a sua ótima pontaria, acabara de se encobrir com um acidente de terreno. E a perseguição continuou implacável, assinalada pelas grossas nuvens de poeira que se erguiam no ar e também pelo bater cadenciado doa cascos dos cavalos no solo.
O mascarado jogava numa partida de sorte. Sabia perfeitamente que, se se deixasse apanhar, nem sequer teria tempo para respirar… Por isso, facilitava o galope do animal. Auxiliando-lhe os movimentos rítmicos do corpo, ora se sentando, ora se levantando.
Cavalgavam, agora, em plena planície, por um caminho enroscado entre ervas. O xerife e os companheiros aumentavam de esforços, e a esperança de caçar o fugitivo, dava-lhes energias novas.
A planície passara. Perseguido e perseguidores entraram num amplo vale, que todos conheciam pelo nome de «Vale dos Trovões». Ali, por o solo ser empedrado, as montadas tinham mais dificuldade em galopar. A corrida diminuiu de impetuosidade, mas os ânimos não arrefeceram. O xerife, então, parecia um possesso em cima do cavalo. Gritava, gesticulava, e ameaçava o mascarado repetidas vezes com o «colt».
O «Vale dos Trovões», entretanto, ficara para trás. Novamente, a planície se estendeu sob as patas das montadas. Porém, um novo personagem entrara em cena. A mala-posta de «White City» rodava à frente dos «cow-boys», puxada por fortes parelhas de cavalos.
Este facto deu ao mascarado uma alegria estranha, e uma ideia que logo pôs em prática. Incitou com mais energia o cavalo e procurou alcançar o carro. A luta entre o veículo e o animal pouco durou, pois, instantes volvidos, alcançava a mala-posta e, num salto pleno de agilidade e decisão, segurava-se nos varões e ficava bem agarrado. Depois, num esforço extraordinário, dificultado pela corrente de ar, elevava-se até ao tejadilho e deixou-se ficar estendido a todo o comprimento.
O boleeiro, que assistira a toda a cena, nada dissera nem interviera, mas logo que as figuras do xerife e dos companheiros se definiram na retaguarda, tentou fazer parar as parelhas. Compreendia que o negócio era com a justiça – e ele talvez não tivesse a consciência muito tranquila…
É claro que a intenção não passou do primeiro gesto! Porque, ao segundo, foi interrompido pela voz dura do mascarado:
- Mude de ideias, amigo. Ao contrário do que quer, fustigue antes os cavalos! Força!.
O boleeiro, sem hesitar, assim fez. E os animais esticaram mais os músculos na ânsia de ganharem terreno, naquela corrida diabólica.
Contornaram a planície e ficaram ocultos da vista do xerife. Então, o mascarado saltou para o lado do boleeiro e, sem dizer qualquer palavra, tirou-lhe as rédeas das mãos.
Com perícia levou as parelhas, sem abrandarem o galope, para um estreito caminho entre montanhas de rocha e teve uma exclamação:
- Agora para o Vale dos Trovões!
O homem que ia a seu lado teve uma careta de protesto, chegou a murmurar uma pergunta:
- Para trás?
Mas acabou por fixar a vista na pequenina janela que comunicava com o interior da carruagem. Aí, alheios a tudo quanto se passava, ia um homem de quarenta anos, robusto e de grandes músculos, e uma rapariga loira, de idade não superior a vinte anos.
O xerife levantou o braço e a comitiva suspendeu a correria. Todos olharam para o solo e sem o representante da lei dizer qualquer palavra, compreenderam que a mala-posta mudara de rumo.
- Foi para o Vale! – exclamou o xerife. – Não compreendo porque voltaram para trás! No entanto, para que não nos escapem, vão dois homens por este atalho e os restantes vêm comigo pelo atalude, e assim chegaremos lá primeiro do que eles!
Os dois homens indicados seguiram o sulco que as rodas da carruagem deixaram e o resto do grupo seguiu o xerife. Um quarto de hora depois, chegaram ao centro do Vale dos Trovões. Desmontaram rapidamente e espalharam-se pelas rochas, de armas em riste.
A seguir, a mala-posta irrompeu no estreito espaço e fez alto com grande alarido. Atrás do carro apareceu o cavalo do mascarado.
O boleeiro saltou, seguido do companheiro de assento, e pouco de pois a porta abria-se para sair o homem e a rapariga. O primeiro, logo que olhou à volta, teve um grito de raiva:
- O Vale dos Trovões!
- É verdade; a propósito, quero apresentar-lhe esta menina…
O passageiro, entre surpreendido e cauteloso, teve um esgar de aborrecimento:
- Não compreendo o que quer dizer! Não o conheço a si nem ao seu fato idiota! E nem me interessa conhecer esta senhora! – e voltando-se para o boleeiro: - Quanto a si, quero que explique a razão deste desvio no caminho! Quando chegarmos a Denver, apresentarei queixa na agência!
O boleeiro coçou a cabeça de atrapalhado, mas foi o mascarado quem respondeu:
- Oiça, amigo! Não seja impulsivo. Disse que lhe queria apresentar esta menina e vou fazê-lo… Chama-se Mary Dungan! Para me tornar mais explícito: a filha de Dungan!
O homem fez-se pálido e a rapariga olhou para o mascarado, admirada de este conhecer a sua identidade. E, quando ia para falar, uma voz gritante saiu das rochas:
-Eh! Acabou-se a assembleia! Estão todos presos!
E a figura de Mc Dawson, o xerife, surgiu perante o espanto de todos…


A seguir: O segredo do velho mineiro

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

PAS055. O Corvo

A cidade estava envolvida pela noite. As casas eram sombras projetadas na escuridão dum inverno que passava tempestuoso e rebelde. O solo, revolvido e enlameado por chuvas recentes, tinha brilho cinzento e mostrava-se quase intransponível.
Uma única luz, composta por grosseira lanterna colocada sobre os batentes da porta do «saloon», deixava que se divisasse a pequena distância um tosco letreiro em madeira, onde se lia em carateres deformados as seguintes palavras: «White City».
Junto a essa indicação territorial, movia-se um indivíduo envolto em ampla capa negra, que procurava abafar os menores ruídos, mesmo aqueles causados pelo chapinhar das botas na lama líquida. Tinha o rosto e a cabeça ocultos sob um capuz estranho, que mostrava unicamente uns olhos grandes, repletos de audácia e energia.
Os movimentos cautelosos, felinos, encaminhavam-no no sentido de uma pequena habitação, situada na vertical do «saloon». Quando atingiu a porta, bateu levemente com os nós dos dedos e esperou. Os segundos passaram e, como resposta à sua chamada, ficara, simplesmente, o ténue repercutir das pancadas.
Resoluto, fez desandar o fecho e penetrou numa sala onde predominava o cheiro a gordura derretida. Parou a poucos passos da entrada e tentou observar o que se passava para além das trevas.
Subitamente, teve a sensação da presença de mais alguém. Susteve a respiração e os olhos, agora, duplicavam o esforço de descobrir tudo quanto o rodeava.
Isso não evitou, porém, que um vulto traiçoeiro se aproximasse pelas suas costas, e que, lentamente, com precisão, lhe vibrasse um violento golpe na nuca, que o prostrou redondamente no soalho…
**
Um «cow-boy» entrou, de roldão, no escritório do xerife e com grandes gestos começou a gritar:
- Mc Dawson! Mc Dawson!
O interpelado surgiu no limiar da porta que comunicava com a sala das prisões e teve uma careta de preocupação.
- Que se passa? – perguntou.
- Mataram Dungan! – respondeu o outro mal contendo o próprio alvoroço das palavras.
O xerife teve um esgar de surpresa e, em dois pulos, atingiu o varandim da entrada.
Deparou, imediatamente, com um grupo de homens que rodeava a pequena habitação de Dungan, alguns dos quais, em gestos pouco tranquilizadores, barafustavam em altos berros.
Mc Dawson aproximou-se e, vencendo a resistência do amontoado, conseguiu entrar na sala. A um canto, o velho Dungan, estendido a todo o comprimento do corpo, mostrava sinais de quem abandonara a vida; ao centro, inanimado, um homem que vestia um traje pouco comum: um capuz negro, uma capa negra, uma blusa negra, umas calças negras, umas botas negras – tudo negro.
O xerife, que obrigara os curiosos a deixar a sala, ficara acompanhado do juiz da cidade, o rancheiro Sellis. Ambos fitavam o singular personagem e, animados pela mesma ideia, curvaram-se e viraram o corpo inerte. Só então viram que tinha as feições cobertas e que, na blusa, no meio dum círculo, apresentava o desenho estilizado dum corvo.
Intrigados, procuraram retirar o capuz, mas, nesse instante, o misterioso desconhecido esboçou os primeiros sintomas de vida.
Logo as duas autoridades se endireitaram, para aguardar que o homem voltasse a si do desmaio. Este, pouco depois, sentava-se e levava as mãos à cabeça, a tentar acalmar qualquer espécie de dor. Mas os olhos, despertos da imobilização involuntária, voltaram a girar nas órbitas, e tiveram um brilho de inteligência, como se compreendessem instantaneamente a cena que os rodeava.
O mascarado levantou-se com lentidão e reparou no corpo de Dungan. O xerife reparou que os seus punhos se fecharam com desespero. Aproveitando essa reação, o representante da lei exclamou:
- Considere-se preso! Motivo: assassínio.
Uma nuvem desceu no olhar do mascarado e uma gargalhada de escárnio ressoou sob o tecido do capuz.
-Preso!? – disse com voz metálica, sonora e ríspida. – Parece-lhe, xerife, que depois de praticar semelhante acto, ficaria aqui à sua espera? Há de convir que é pouco lógico…
O juiz, que ouviu a resposta, teve um sorriso.
- Porque, antes de falar, não tira essa máscara?
Outra gargalhada e o embuçado retorquiu:
- Não seja curioso, meu caro senhor. Lembre-se que é um defeito pouco natural num juiz…
Mc Dawson, já aborrecido com o diálogo, sacou o «colt» e ordenou:
- Acompanhe-nos! Vai responder por este crime! E trate de tirar o capuz, antes…
A última palavra desapareceu com o eco. Um pontapé violento na mão, dado de improviso, arrebatara-lhe a arma dos dedos, enquanto um punho fechado, com a força dum ariete, lhe  martelava o queixo. Quanto ao rancheiro, só teve tempo, tal a rapidez dos acontecimentos, de assistir, com cara pouco digna, ao desaparecer do mascarado, em correria vertiginosa, por entre a multidão de «cow-boys» estacionada em frente da habitação.
Minutos depois, o bater duro cascos dum cavalo na estrada, anunciava a fuga do desconhecido…
Mc Dawson, o xerife, logo que se recompôs do soco, em gritos, ordenou a perseguição. E quando, acompanhado de Silles, se preparava para sair, um objeto brilhante, caído na soleira da porta, chamou-lhe a atenção. Baixou-se, apanhou-o, verificou que era de prata e tinha o feitio de um «C» maiúsculo. Olhou para o xerife e sem nada dizerem, compreenderam que foram senhores da mesma ideia: o corvo que o mascarado ostentava na blusa!
Não acrescentaram nada e correram para os cavalos. Não tardou que numeroso grupo de homens atravessasse a povoação, no encalce daquele personagem com caraterísticas irreais.
Quando atingiram a planície, o xerife gritou de satisfação: lá longe, o mascarado, que montava um belo cavalo branco, atravessava um pequeno ribeiro, ao alcance das armas…



A seguir: A estranha fuga do mascarado

CNT001. O mistério do Vale dos Trovões

O primeiro conto no Passagens, que agora apresentamos, é da autoria de Edgar Caygill e é ilustrado por Vitor Péon, ambos bem conhecidos dos leitores portugueses das décadas de 50 e 60. O nome do autor é um pseudónimo de Roussada Pinto, um sujeito prolífero capaz de escrever um livro por noite e que foi bem conhecido como contista do Oeste e autor de romances policiais. Quanto a Péon teve um percurso nacional e internacional extremamente rico.
O conto, agora apresentado na íntegra, foi publicado em três números seguidos do Mundo de Aventuras (45, 46 e 47), entre 22 de Junho e 6 de Julho de 1950, num momento em que este jornal juvenil tinha feito uma importante mudança de formato: passou de uma revista gigante para um A4 com mais páginas.
O mistério do Vale dos Trovões ilustra bem as caraterísticas do seu autor: uma história cheia de acção, contada de um fôlego, com modificações surpreendentes no desenrolar, centrada num indivíduo em geral mais esperto que os outros. O conto é apresentado mantendo a estrutura original ostentada no MA à qual acrescentámos designações:
 
 
O leitor pode apreciar bem o estilo de Caygill, por vezes pouco rigoroso, e, no final, convidamo-lo a responder às questões seguintes:
 
Como é que o Corvo sabia que Mr. Peacock e a jovem iam na mala-posta?
Como é que o Corvo sabia que a jovem era filha do mineiro?
Como era possível levantar tanta poeira numa terra tão enlameada por um Inverno rigoroso?
 
Enfim, se Caygill estivesse entre nós, o que seria um prazer, com certeza encontraria uma boa resposta para estas inconsistências quanto mais não fosse a que se basearia na necessidade de trabalhar em alta velocidade quase sem poder fazer revisão.

domingo, 25 de agosto de 2013

POL015. A morte e tu!


(Coleção Pólvora, nº 15)
 
 
 
Alguém levou a Gary Jameson a notícia de que aquela que fora sua noiva precisava da sua ajuda. Apesar de terem cortado relacionamento por ela ter casado com outro homem, Gary partiu imediatamente para o rancho dela, disposto a defendê-la em tudo que fosse necessário.
Una, assim se chamava ela, após a morte do marido, tinha recebido várias propostas para venda do sancho, uma propriedade com pouco valor, e, após ter recusado todas, passou a receber ameaças. Mãe de uma criança de quatro anos, o pai cego, tinha por companhia a irmã mais velha, um irmão que se metia constantemente nos copos e dois vaqueiros que se contentavam com um magro salário.
A ação da novela faz com que Gary se venha a cruzar com a vilã da história, dona de uma propriedade extremamente rica, mas ambiciosa a qual procurava encontrar umas jóias que pensava terem sido guardadas no rancho de Una pelo falecido marido desta. A partir daqui, a novela desenrola-se sem grande interesse com tiroteio a torto e a direito.
Na companhia de Gary foram dois simpáticos mexicanos. Um deles acabou por morrer vitimado pelas balas dos acólitos da ricalhaça. O outro teve mais sorte e desposou a bela irmã de Una.

Passagens selecionadas:


PAS137. Recuperar o tempo perdido
PAS138. Investida de reses enlouquecidas
 

 

sábado, 24 de agosto de 2013

POL014. A invasão


(Coleção Pólvora, nº 14)
 
 
Um projeto de Lei, no Senado do Estado da Califórnia, concedeu a Milton Lovelace, rancheiro, o direito de construir uma grande represa, com o fim de acumular a água proveniente dos rios Fresno e São Joaquim. O destino da água seria regar uma grande extensão de terreno que se empregaria na cultura de arroz. Ninguém teria tido qualquer objeção a fazer a semelhante projeto… se, entre todos aqueles milhares de hectares que se pensava submergir debaixo de milhões de metros cúbicos de água, não se contassem as melhores pastagens do condado. O facto de os terrenos pertencerem a Lovelace não queria dizer nada. Os outros rancheiros levavam lá os seus rebanhos, pagando os direitos ao proprietário. Entretanto, nos últimos tempos alguns tinham manifestado alguma resistência para executar o pagamento o que irritou Lovelace o qual se decidiu por este golpe de teatro. Ciente que nenhum americano colaboraria na execução do projeto, resolveu contratar japoneses que viviam em guetos miseráveis de São Francisco por vezes sob a tutela de indivíduos muito perigosos.
Ao longo da novela Frank Mc Fair esclarece os interesses em jogo e cria uma trama em que o próprio Lovelace se torna vítima da teia que fez construir… O autor evidencia verdadeira maestria no tratamento do conto de terror.


Passagens selecionadas:


PAS135. Uma mulher na tempestade
PAS136. Uma sombra na noite
 
 
 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

PAS054. Desenlace Fatal


Pum!
O tiro de espingarda pulverizou o vidro da janela e a pesada bala de chumbo incrustou-se nas costas da rapariga. Lou deixou escapar um gemido e cambaleou sobre as pernas. Estendeu os braços para a frente esperando encontrar qualquer coisa onde agarrar-se para não cair. Edgar, com os olhos muito abertos, precipitou-se para ela e agarrou-a:
- Lou!
A rapariga agarrou-se a ele. O oficial sulista tomou-a nos braços e saiu fora da linha de tiro, protegendo a jovem de novas balas.
- Cum…priu… a sua… amea…ça…
Edgar aconselhou:
-Não fales, Lou.
Ao mesmo tempo tirou o revólver e olhou da janela na direção de onde partira o tiro. Do outro lado da rua, um telhado de leve inclinação fora a plataforma ideal para a realização do atentado. Mas o assassino desaparecera, depois de fazer o seu único e mortífero tiro.
- Mor… ro… Edgar…
A bailarina agarrou-se ao pescoço do jovem. Byron sentiu uma profunda pena no seu peito e, transportando-a com o máximo cuidado, depô-la delicadamente num sofá.
- Não digas isso. Hás-de curar-te e voltarás a cantar e a bailar.
Ao mesmo tempo que falava dirigia-se para a porta para pedir auxílio, mas este já vinha personificado em Boulder, alarmado com aquele tiro.
- Não te vás embora, Edgar! – suplicou ela.
Da porta, o rapaz pediu ao dono do «saloon»:
- Procurem um médico! Lou foi ferida por uma «Winchester».
Boulder deu a ordem por sua vez a um dos empregados e acabou de subir as escadas. Edgar regressou para junto do sofá, onde Lou começava a delirar, no prelúdio do fatal desenlace.
- Se me salvasse… não queria… dançar. Viveria só… para ti… Porque tu… amas-me… não é verdade?
- Não fales, Lou, não fales.
- Eu também te… amo. Sabes porque… não saí… da cidade? Esperava… que voltasses… outra vez… Por isso… não fiz caso… do papel…
Pouco a pouco, a sua voz foi-se tornando mais fraca e as suas mãos mais frias. Os longos e delicados dedos de Lou que acariciavam as mãos duras do rapz, perderam a elasticidade e…
- Edgar…!
Endireitou-se e, com os olhos muito abertos, fitou a parede. Depois, num sussurro, rezou:
- Meu Deus, perdoa-me… arrependo-me… de todos os meus… pecados…
Os seus lábios continuaram a mexer-se durante um longo instante até que uma repentina tosse a fez estremecer. Um segundo depois, os seus belos olhos negros já não viam o que olhavam…



(Coleção Arizona, nº 19)

PAS053. A ameaça

Lou aproximou-se de uma cómoda e tirou da gaveta superior uma caixita de madeira perfumada, em forma de estojo.
 Abriu-a e tomou uma folha de papel dobrada ao meio.
- Não lhe liguei importância e até hoje não voltei a preocupar-me com ele. Tomei-o como uma brincadeira… embora não saiba quem poderia ter conhecimento que o ajudei. Eu vou lê-lo.
Aproximou-se da janela e puxou o cortinado para entrar mais luz. Depois, desdobrando o papel, começou a ler:









A seguir: Desenlace fatal

domingo, 18 de agosto de 2013

PAS052. Lou Belle









Empurrou o guarda-vento e entrou. Lou Belle exibia-se no palco e nem uma invasão de apaches seria capaz de arrancar os espetadores daquele sítio. Era bonita e cantava bem. Nem as frases publicitárias nem o artista do retrato mentiam. Depois de ter tido a morte tão perto, sentia-se satisfeito contemplando a vitalidade que emanava daquele corpo de mulher.

(Coleção Arizona, nº 19)




A seguir:

 

 
 

PAS051. Um cavalheiro tímido


Reclinado contra a bola que terminava o corrimão, contemplou o juvenil espetáculo. No bar, dois pares tomavam refrescos enquanto outros preferiam descansar nas cadeiras que havia em volta da pista de baile.
Junto a uma janela identificou Virgínia e sem hesitar, como guiado pelo instinto, dirigiu-se a ela, abrindo caminho entre os pares que dançavam. Ao sentir passos atrás de si, ela pegou na canastra de flores que tinha no parapeito da janela e voltou-se… para deparar com o amplo e pouco amargo sorriso de Edgar, que se inclinou cortês na sua frente.
- Concede-me esta dança, menina Evans? Ela recusou suavemente.
- Sinto muito, mas não danço.
- Compreendo. Como fui tão idiota para supor que não tivesse par? Só a sua recusa em dançar podia manter afastados os seus admiradores. Perdoe-me.
Voltou-se para se retirar. Estava cansado e demasiado preocupado para perder tempo em…
- Senhor Byron.
A voz dela arrancou-o aos seus pensamentos, fazendo-o dar meia volta com vivacidade.
- Não acha que é muito cedo? Considerou-se derrotado na primeira escaramuça. Seria um mau soldado.
Ela estava a troçar, sem dúvida.
Os seus olhos risonhos, verdes com o o mar, tinham ironia e, no fundo, umas chispitas douradas dançavam em louca sinfonia.
- Quer dizer que aceita o meu convite?
Virgínia depôs a canastra de flores numa mesa e negou com a cabeça.
- Desejo somente tomar um refresco. Você é um cavalheiro e desculpará o meu pedido.
- Sinto-me orgulhoso porque teve a franqueza de o formular – assegurou, oferecendo-lhe o seu braço direito, que ela aceitou.

(Coleção Arizona, nº 19)

A seguir:
 

sábado, 17 de agosto de 2013

PAS050. Reflexões em tempo de guerra

A guerra estava longe de Big Spring. Mas mesmo assim, chegavam ali os últimos abalos com que o terrível monstro sacudia os recantos mais afastados do sacrificado Sul. As mulheres caminhavam apressadas pelas ruas e quando se encontravam duas amigas, cochichavam entre si as notícias recebidas de seus filhos que lutavam na Virgínia, Carolina ou na Geórgia.
Estas notícias traziam sempre a tristeza a todos os rostos, pois embora no ano de 1862 a Confederação tivesse ainda a iniciativa dos combates, muitos rapagões louros, morenos, altos ou atarracados, fertilizavam com o seu sangue as cálidas terras do Sul. Mesmo com a Vitória, a Morte é sempre terrível.
Big Spring perdera grande parte do bulício que a caracterizava. As crianças e os velhos enchiam as largas e longas ruas, outrora sempre agitadas por alegres galopadas, risos, chalaças e algum tiro uma vez por outra.
 Agora quase sempre reinava o silêncio. E esse silêncio pressagiava em muitos corações que, uma vez terminada a guerra, nem tudo voltaria à situação anterior. As disputas bélicas mudam a fisionomia dos povos e marcam o ponto final de épocas, melhores ou piores, mas que nunca voltam. Com frequência, as guerras destroem a crosta de civilização dos homens, deixando a descoberto as suas mais violentas paixões e apetites; numa guerra há demasiados motivos para perder o cavalheirismo, a fidalguia e a razão. Em tais circunstâncias, a selvajaria e a brutalidade reinam até que a morte põe fim a tais horrores

(Coleção Arizona, nº 19)


A seguir:
 



 

ARZ019. Um entre mil


(Coleção Arizona, nº 19)
 
 
Passagens:

terça-feira, 13 de agosto de 2013

PAS049. Beijo da Morte

Consuelo Fajardo colocou as suas botas sobre a rocha e meteu os pés na água do límpido charco.
Avançou dois passos levantando a saia, quando a água atingiu os joelhos. Olhando por cima da rocha, certificou-se de que Syd Jones não podia vê-la. Dissera-lhe que desejava só uns minutos para se «refrescar».
Calculou que sentando-se podia tomar um banho completo, visto que em volta do manancial havia matagais e não podiam vê-la da estrada nem do arvoredo, entre o qual o vaqueiro prendera os cavalos.
Voltou a sair da água para tirar o colete que pôs junto das botas. Estava desabotoando a blusa quando, reprimindo uma exclamação de desgosto, olhou fixamente para Syd Jones.
O vaqueiro, contornando as rochas, parou a dois passos. A sua voz, enrouquecida, suplicava:
- Eu posso fazer-te esquecer qualquer amor passado, Chelo. Por ti, estou disposto a tudo.
Ela tentou afastar o perigo, gracejando:
- Trabalharias, Syd? Vamos, não sejas criança, e continuemos a ser amigos como até agora…
Syd Jones, impelido pelo instinto que aquecia o seu sangue jovem, embaraçou a mexicana num apertado abraço. Os seus lábios percorreram com ansiedade a face da rapariga, procurando a boca.
Ela tentava desprender-se, revoltando-se com ferocidade. O musgo escorregadio fê-los cair a ambos, abraçados. A ofegante respiração de Syd Jones queimava o rosto da jovem que tentava esquivar os lábios.
A boca dele colou-se-lhe à face e toda a sua feminilidade se revoltou, porque Syd Jones era agora um vaqueiro enlouquecido, de pernas rígidas e difícil de ceder.
Consuelo Fajardo sentiu nas ancas o duro contacto cilíndrico; a sua mão escorregou até segurar a coronha. Premiu o gatilho…
A esmagadora ferocidade de Syd Jones converteu-se de repente em abandono desconcertante. Ela fugiu para um lado, empurrando Syd Jones que ficou estendido de bruços com os braços abertos.
(Coleção Arizona, nº15)

ARZ015. Os mortos não matam!


(Coleção Arizona, nº15)

Passagens:
 

domingo, 11 de agosto de 2013

PAS046. Uma dádiva de Deus

A porta voltou a abrir-se e no seu limiar apareceu Ruth Denning, vestindo um simples roupão azul, com os longos cabelos soltos sobre os ombros e com o braço direito ao peito.
A rapariga deteve-se, olhando-o e as suas faces coloriram-se, ao deparar-se-lhe o seu olhar. Os seus olhos pareciam maiores e infinitamente mais doces, sombreados como estavam por profundas olheiras. Quanto a Kendall contemplava-a extasiado, dizendo, para si próprio, que aquela rapariga era a mais gloriosa dádiva que Deus lhe proporcionara na sua agitada existência e que não tinha direito a ela, não a merecia.
Em seguida, Ruth avançou até à borda do leito e sorriu-lhe timidamente. Ele estendeu-lhe a mão direita e ela pôs-lhe em cima uma das suas mãos, estremecendo quando Kendall a apertou.
Fez-se um silêncio que a voz rouca e emotiva dele interrompeu:
- Acabam de me dizer o que Wingate e Griffith lhes vão dar… Vais aceitar?
- Nada nos ficou. A mamã diz que pode ser que o façamos…
-Devem fazê-lo. Com isso repararão muito bem a vossa fazenda.
- Mas nós, sozinhas, não poderemos… - os olhos aveludados atreveram-se a fixá-lo diretamente. – Vai ficar em Grants?
- Sou um vagabundo, um pistoleiro, Ruth. Uma bala perdida…
- Não é nada disso. Nem para mim, nem para a minha mãe.
- Mas sou-o. Porém, gostaria de me corrigir, de me fixar num lugar tão formoso como é esta região, criar o meu próprio gado e poder pendurar, alguma vez, os meus revólveres para me dedicar a brincar com os meus filhos…. Sim, gostaria de ficar em Grants… se alguém me pedisse.
A rapariga tinha agora a cara vermelha e o busto palpitava-lhe, agitado, mas não dominou o olhar, ao dizer em voz baixa e de cálidas vibrações:
- Talvez me esteja a portar como uma descarada, Jeff Kendall, mas se há alguma coisa que o possa reter em Grants e essa coisa estiver na minha mão, peço-lhe que fique.
Foi então que Jeff Kendall soube que tinha chegado ao fim da sua vida de aventuras. E não lhe soube nada mal…
(Coleção Arizona, nº 13)
 
A seguir: Coleção Arizona, nº 14